Análises

Gears Of War 3

“Maior, melhor e mais espectacular certamente”.

Foi com esta frase que Cliff Bleszinski descreveu aquilo que para ele representava Gears of War 2, lançado há quase três anos como exclusivo para a Xbox 360. Se o tempo lhe deu razão ou não aquando desse grito de guerra é discutível, mas é uma frase que se poderia aplicar na perfeição a este título que assinala a conclusão da trilogia; A forma como podemos matar os nossos inimigos foi expandida, os gráficos, tais como os diversos modos de jogo, sofreram melhorias significativas, a variedade e escala em termos de set pieces é idêntica e até a narrativa é da responsabilidade de Karen Traviss, escritora dos mais recentes comics e romances que agraciam o universo expandido da série. Por outras palavras, é um lema que se revelou bem sucedido na época e agora também o seria, embora neste caso em específico, o título em questão parta com uma ligeira vantagem já que beneficiou de uma beta e de um período de desenvolvimento superior em relação aos seus predecessores; O que a espera causou veio o tempo a recompensar. Assim sendo, sem mais demoras, dar-vos-ei a conhecer Gears of War 3.

Dois anos após os CoG se verem forçados a afundar a cidade de Jacinto, último bastião da raça humana na luta pela sobrevivência contra os Locust, eis que a humanidade se depara com um novo perigo proveniente do subsolo: Os Lambent, raça igualmente hostil de origens também elas desconhecidas, que visa reclamar para si mesma o planeta Sera. Com isto ainda em mente, somos brevemente confrontados – por assim dizer – com uma voz do além que anuncia a uma audiência perplexa que talvez exista uma solução para o problema dos Lambent e dos Locust, solução essa que reside enquanto derradeira alternativa para salvar a nossa raça da extinção. É um retrato talvez um algo familiar e anteriormente focado por outras séries, tanto na televisão como nos vídeo-jogos, mas que neste caso em específico, revela-se mais pessoal e familiar do que no passado, sem nunca perder de vista o mais importante, isto em grande parte graças à mestria de Traviss, que soube trazer novo fôlego a um universo inicialmente desinspirado mas que conseguiu gradualmente ganhar vida e transpôr das palavras para o visual a sua existência. Com isto não pretendo dizer que é algo digno de ganhar um óscar de melhor argumento mas é certamente uma melhoria substancial em relação a esforços passados; Desde a caracterização conferida a Marcus Fenix e Dominic Santiago, passando pela natureza quase que decrépita de Anvil Gate ou Hannover, somos presenteados com personagens e locais que se conseguem elevar em relação às suas origens, sendo os mesmos marcados pela presença de Samantha Byrne e Anya Stroud, duas senhoras que evidenciam na perfeição que o sexo fraco é um mito e que serrar Locust com as Lancers também se encontra ao seu alcance.

Já que falamos de serrar e Lancers, saudemos também essa acção esplendorosa, executada na diagonal da clavícula para a cintura, cujo andamento é visualmente pautado de forma majestosa por rios de sangue a jorrar. É possivelmente a imagem de marca mais icónica da série, imagem essa associada a um cover system na terceira pessoa simultaneamente flúido e preciso, cujo vasto arsenal conta não só com velhas conhecidas como a Torque Bow, simultaneamente primitiva e mortífera que dispara um projéctil em chama, mas também com novidades como a Retro Lancer, antecessora espiritual da Lancer automática actual, que permite esventrar e degolar os nossos inimigos com exactidão como parte da sua execução no jogo. É sem dúvida algo pelo qual podemos congratular a Epic Games, na medida de não se restringir e conseguir lembrar-se de formas ainda mais inventivas e originais de inflingir sofrimento aos nossos inimigos, tanto no modo história como nos modos competitivos e cooperativos, podendo-se o mesmo dizer das localizações e meios de transporte diversos com que nos deparamos ao longo da experiência, que vai desde uma viagem pelos ares numa barca a uma travessia subaquática que marca possivelmente um dos momentos mais belos da série; É uma escala simplesmente arrebatadora ao longo de um modo história que pela primeira vez na série passa pela inclusão de um modo cooperativo que suporta até quatro(!) jogadores, via online.

Tal pintura, tanto offline como online, ganha vida por cortesia do Unreal Engine, um motor-de-jogo que passa por tecnologia proprietária da Epic Games, que muitos louvores tem vindo a ganhar ao longo desta geração e não é difícil ver porquê: Modelos cuja animação é sublime, cenários detalhados e grandiosos, cheios de côr e todos eles acompanhados por um sistema de iluminação que ajuda a realçar o que de melhor estes oferecem. A única mazela a apontar são as cutscenes pré-renderizadas, cujos vestígios de compressão são mais que aparentes mas que a nível geral não constituem motivo para perturbar uma experiência de jogo que visualmente é difícil de alcançar na Xbox 360.

Falando do online aliás, Gears of War 3 dispõe dos modos cooperativos e competitivos mais refinados e bem conseguidos que o franchise deu a conhecer até hoje; Não só estes foram melhorados em termos de netcode, como ainda sofreram alterações e adições substanciais. O modo Horde, que consiste num grupo de jogadores sobreviver a vagas e vagas de inimigos dispõe agora de um sistema que permite adicionar fortificações e defesas armadas para atrasar e deter os nossos inimigos o mais possível, sendo que a vaga final de cada série consiste num boss exponencialmente mais difícil, como um Brumak ou Berserker, criaturas que requerem outras estratégias que não disparar até ficarmos privados de balas. Já uma outra adição é o modo Beast, que basicamente poderia aparentar ser o mesmo que o modo Horde, mas é antes o reverso da medalha: Invés de jogarmos com os CoG, jogamos com os Locust, sendo que o nosso objectivo passa por destruir as mesmas fortificações que em ocasiões normais seríamos responsáveis por construir e manter, até conseguirmos matar todo e qualquer humano inimigo presente no mapa. Em adição a isto, conforme o nosso desempenho, é-nos possível desbloquear ao longo da experiência novas personagens, indo desde o Wild Ticker até aos armored Kantus, que marcam a sua presença pela primeira vez na história da série.

Já os modos competitivos assentam em géneros já conhecidos, tais como Team Deathmatch ou Capture The Leader, passando este último por defendermos o líder da nossa equipa enquanto tentamos capturar o da adversária e mantê-lo sobre o nosso controlo até terminar a ronda. Já Wingman, introduzido em Gears of War 2, passa por enfrentarmos três outras equipas, cada uma com dois jogadores – inclusivé a nossa – e atingir um determinado número de kills. Mais uma vez, não é nada que não tenha sido feito anteriormente, sendo que o principal segredo da longevidade a longo-prazo deste jogo irá certamente incidir sobre as Medals e Ribbons, que para os mais completistas, decerto que irá demorar bastante tempo a reunir. Ao passo que algumas Ribbons poderão ser conseguidas inúmeras vezes, tais como matar dois inimigos em três segundos, ao longo dos diversos modos existentes, há outras que requerem uma acção bastante mais específica, aplicando-se o mesmo às Medals; Estas últimas dispõem de quatro níveis distintos e à medida que se sobe, mais difícil se torna atingir o próximo nível. É um sistema que decerto irá recompensar os fiéis e revelar-se frustrante para os restantes, sendo “dedicação” indubitávalmente a palavra de ordem. Divide et impera.

Francamente, sinto que muito ficou ainda por dizer, mas pessoalmente, não sou o maior fã de estragar surpresas, seja relativamente à história ou algo mais. O que posso dizer da forma mais sucinta possível é isto: Gears of War 3 poderá ou não ser um jogo para toda a gente, mas dentro daquilo que oferece em toda a sua plenitude, dá igualmente de volta, quer seja pelas peculiaridades existentes no modo história, que apenas o fã mais atento poderá ou não apanhar, quer seja pelas piadas mais ou menos bem conseguidas, que acompanham as execuções e partidas online que os modos competitivos e cooperativos oferecem.

Aparte este curto comentário talvez um algo pretencioso da minha parte, este é sem dúvida alguma o Gears of War mais bem concebido na curta história da série. Quem se considerar de igual forma adepto – e não nesta ordem em particular – de sangue, tiros, mistério e drama tem à sua frente algo mais que obrigatório na actual geração. É caso para dizer, na falta de melhor termo e recorrendo a um lugar comum, pura e simplesmente ÉPICO.

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