Análises

The House of the Dead: Overkill – Extended Cut

Os videojogos têm uma dificuldade danada de se afastarem de outras formas de entretenimento e arranjar a sua própria identidade. É um processo normal tendo em conta a infância e imaturidade do meio e é também normal que tente retirar do cinema (uma das formas artísticas e de entretenimento mais visuais) as suas inspirações e modelos de referência.

A mais recente incursão da série The House of the Dead não tem qualquer medo em estabelecer essa ligação, aliás pavoneia-se com isso. A inteira totalidade do jogo é uma barragem de referências e homenagens ao género grindhouse e exploitation tão comum na década de 70. Um género que tem assistido a um ressurgimento à mão de pessoas como Tarantino e Robert Rodriguez. É precisamente no texano que o jogo mais se inspira, especialmente no Planet Terror.

Pessoalmente o grande ponto a favor de Overkill é precisamente esse ambiente exploitation. Sou um adepto do género (e de todos os sub-géneros que vêm por arrasto) e nem sempre é fácil homenageá-los, muitos dos que tentam aproveitar o novo ressurgimento acabam por falhar, mesmo alguns de peso como o Machete do próprio Rodriguez. Surpreendentemente The House of the Dead: Overkill consegue-o fazer muitas das vezes, isso significa que para mim, a quase totalidade do divertimento que retirei do jogo cingiram-se às cutscenes e nem tanto no jogo jogado que pouco mais é que medíocre.

Para as 5 pessoas que não conhecem a série, The House of the Dead é um rail shooter arcada, ou seja o jogador não tem qualquer controlo na movimentação da personagem e tem liberdade apenas para disparar. Tradicionalmente eram usadas as light guns, hoje em dia com o advento dos controlos de movimentos foi adaptado para o Wiimote na versão Wii (que é a original, de 2009) e para o Move na consola da Sony. E de facto é assim que deve ser jogado. Tive a oportunidade de passar todo o jogo com o Move e a diferença em relação ao gamepad tradicional é enorme. A acção flui de forma muito mais rápida e eficaz, e claro, a própria experiência de jogo aproxima-se mais da que teria nas arcadas clássicas.

O jogo segue uma estrutura cinemática composta por 7 episódios, cada um deles começa com uma introdução reminiscente dos trailers típicos dos filmes grindhouse e todos eles estão interligados por uma linha narrativa comum. A história como seria de esperar é deliciosamente pateta e ridícula e as personagens adoráveis sacanas cheios de carisma. Se Overkill não tivesse esta vertente seria dum desinteresse colossal. Claro que isto sou eu, que efectivamente pouco ligo a rail shooters e nem tenho grandes pontos de referência. Para além dos 7 capítulos há toda uma panóplia de “brindes” coleccionáveis, desde modelos 3D, comics e músicas (que estão bem dentro do espírito da coisa) e mini-jogos fora da história principal que ajudam ao replay value. Mas mesmo assim para um jogador mais casual não há grandes razões para lá voltar após o termino do jogo.

Na jogabilidade, do que me lembro de jogar Virtua Cop e The House of the Dead original, não noto grandes diferenças, a filosofia é praticamente a mesma e não me parece que este seja um género que tenha sofrido uma grande evolução ao longos dos tempos. No final de cada capitulo há sempre um boss final que acabam por ser as partes mais divertidas e criativas, especialmente com dois jogadores.

Graficamente pouco se poderia pedir, é um port dum jogo Wii, como tal podem esperar claras insuficiências quer a nível de texturas como poligonal, e infelizmente a direcção artística não é suficientemente boa ou criativa para as esconder. Valeu a pena a conversão para a PS3? Tendo em conta o Move, acho que sim, este não é um género muito popular nas consolas HD e se estas reedições trouxerem maiores opções, melhor. Para além disso podem contar com dois novos capítulos que estavam ausentes do original, nova música e a possibilidade de o correr em 3D… para os três interessados ali no canto.

Para concluir, The House of the Dead: Overkill – Extended Cut é um jogo mediano que se salva pelo seu ambiente e homenagens a um género cinematográfico muito especial e peculiar. Se gostam de rail shooters e não têm uma Wii é obrigatório, para os apreciadores de grindhouse é aconselhado, para todos os outros… merece ser descoberto.

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