Análises

Botanicula

É tão bom quando não me lembro que um jogo que quero muito jogar está a chegar e cai da pára-quedas no meu colo “O quê?! Era hoje o lançamento!? Já não me lembrava!!!”. Foi o que aconteceu com Botanicula, já nem me lembrava que estava para ser lançado esta semana. Feels so good.

A Amanita Design é um bom exemplo duma produtora que pouco a pouco e de forma segura vai-se afirmando como uma das mais talentosas do leste europeu. A sua primeira experiência, Samorost, deu a conhecer o estilo surreal e fora do normal do estúdio checo, bem como a forma diferente como abordam o tradicional point and click. Samorost 2 transformou o pequeno protótipo num jogo “a sério” mas foi com o seu terceiro jogo, Machinarium, que eles se revelaram ao mundo.

Machinarium é uma  deliciosa aventura gráfica tradicional mas vestida com as roupagens surreais da Amanita Design. O resultado foi basicamente uma das melhores aventuras gráficas da ultima década, o que me levou a ficar extremamente curioso e relutante se o próximo projecto conseguiria estar ao nível das enormes expectativas. Inteligentemente Botanicula afasta-se da filosofia de Machinarium e adopta uma mais próxima de Samorost, posso até dizer que em termos mecânicos Botanicula é o sucessor espiritual de Samorost 2.

No entanto e curiosamente, Botanicula e Machinarium têm mais semelhanças do que aparentam, ambos são o completo extremo um do outro, mas como um yin e yang complementam-se. Tematicamente Machinarium é completamente mecanizado e artificial, Botanicula é completamente orgânico e vivo. Cada um dos jogos é uma face da mesma moeda.

Quem conhece a série Samorost já tem uma ideia de como Botanicula funciona. Cada cenário tem diversos locais sensíveis ao nosso clique, e cada um desses locais responde com uma acção que em conjunto com outras distintas produzem resultados para ultrapassar puzzles. Uma das maravilhas do jogo é descobrir o que cada local e objecto faz quando é interagido, ainda para mais num jogo com um ambiente tão louco e fora do normal, é quase sempre uma surpresa.

Visualmente é lindíssimo o que conjugado com estranha e brilhante banda sonora e efeitos sonoros, tornam Botanicula num passaporte para um mundo normalmente atingido apenas por ácidos e outras substâncias estranhas. E de facto é precisamente a experiência, a exploração deste mundo bizarro que torna este jogo tão especial.

O “bando” de protagonistas é deliciosamente fofo e cómico isto num jogo sem diálogos. Também merecedores de serem descobertos são as centenas de… seres que aparecem ao longo da viagem, é inclusive possível coleccionar uma série de cartas com cada uma destas criaturas.

Se tivesse que apontar falhas… na verdade tenho mesmo que as apontar, Botanicula tem um problema comum a quase todos os jogos da Amanita Design, a forma como interagimos com o mundo de jogo é tão criativa que por vezes não é claro que movimentos tenho que fazer com o rato, ou mesmo se é possível fazê-los. As únicas vezes que fiquei preso foi simplesmente porque o jogo não me “ensinou” a fazer determinada acção. É uma obrigatoriedade abordar o jogo… como dizem os ingleses “outside the box“.

Se me perguntarem “então, preferes o Botanicula ou o Machinarium?”…  embora Botanicula seja delicioso e tenha camiões de personalidade, acho que Machinarium funciona melhor em termos mecânicos, é mais… jogo enquanto que Botanicula é mais … experiência. Para além disso é bem mais curto que Machinarium, muito porque é extremamente mais acessível.

O que é claro é que a Amanita Design conseguiu produzir dois clássicos modernos seguidos e afirma-se como uma das mais promissoras produtoras independentes. Estou em pulgas para ver o que vai sair de Samorost 3.

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