Análises

Animal Crossing: New Leaf

HNI_0031Acabado de sair do comboio, sou recebido por animais falantes que me confundem com o novo Mayor desta estranha e pacata aldeia. Apesar dos meus protestos, não acreditam que se enganaram na pessoa e acabo por tomar posse do cargo com ajuda da minha nova secretária, que já agora, é uma cadela.

A vizinhança é um bocado estranha, por exemplo há um hipopótamo com barba que usava uma t-shirt camuflada e um coelho com uns toques asiáticos obcecado por exercício físico. Atravessando a linha de comboio, saio da parte residencial da aldeia e vou para a rua principal onde se encontram as lojas. Aí encontro um cão-mapache de fato e gravata chamado Tom Nook que me deixa escolher o sítio onde vou viver e instala uma tenda enquanto a minha nova casa não é construída. “Que simpático!” pensei eu, até ele me informar que basicamente tinha contraído uma dívida para a vida. Sem saldar a primeira parte as obras não começavam, sem casa não podia ser considerado oficialmente um cidadão e começar a exercer como Presidente. Não percebi se ele me estava a ajudar ou se estava a ser extorquido.

Carregado de dívidas em poucos minutos e forçado a aceitar um cargo para o qual não fui democraticamente eleito, fiquei com a responsabilidade de liderar uma comunidade de animais falantes, maioritariamente desempregados. Assim começou a minha nova vida numa aldeia de onde não posso escapar.

Posto nestes termos, Animal Crossing: New Leaf parece um jogo stressante e deprimente, mas nada podia estar mais longe da verdade. Aqui não há objectivos no sentido a que estamos habituados, podemos dedicar o nosso tempo a coleccionar mobília, desenhar roupa, cruzar espécies de flores, pescar, completar a colecção de peixes, insectos, fósseis e obras de arte do museu ou podemos tentar fazer o máximo de dinheiro possível para aumentar cada vez mais a nossa casa. O que fazer está a cargo de cada um.

No entanto, New Leaf apresenta novidades que trazem mais alguma direcção ao jogo, nomeadamente o facto de sermos Mayor. Desenganem-se se pensam que isso torna o jogo num Sim City, os nossos poderes são limitados e basicamente divididos em dois tipos: a criação de leis e a aprovação e financiamento de construções. As leis são poucas: decide-se se as lojas da aldeia abrem mais cedo ou fecham mais tarde, útil para coordenar com as horas a que tipicamente jogamos, visto que o jogo funciona em tempo real; os aldeões podem-se focar em tornar a aldeia bonita plantando e regando muitas flores entre outras coisas; e também se pode fazer a aldeia “rica”, subindo os preços dos produtos, bom para quem vende mais do que compra.

O mais importante nas nossas funções enquanto Mayor são as construções, depois de escolher de uma lista o que fazer, temos que escolher o local onde construir, depois é uma questão de financiar a obra, o que vai ter que sair dos nossos bolsos visto que os habitantes pouco contribuem. Podem-se construir pontes, iluminação, fontes, acampamentos, instalar postes de alimentação e outras coisas que contribuem para o desenvolvimento da aldeia. Isto não só expande a nossa capacidade de customização do jogo como altera a forma de investir o dinheiro, agora temos que decidir se o dinheiro que conseguimos ganhar a vender fruta e outras coisas vai para construir o segundo andar da nossa casa ou aquela ponte que faz tanta falta.
O que é que vem primeiro, a nossa casa ou a aldeia?

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De volta está a possibilidade de apanhar o barco para uma ilha tropical, algo que era possível no jogo da Gamecube apenas com uma ligação ao Game Boy Advance, nesta pequena ilha podemos apanhar frutas tropicais, peixes e insectos que não existem na aldeia e ir nadar para o mar onde podemos mergulhar para apanhar uma série de criatura marinhas. Além disso podemos ir em “tours” que são basicamente jogos com tempo limite onde temos objectivos como pescar o maior número possível de um certo tipo de peixes, navegar por um labirinto para apanhar frutos específicos, cavar para descobrir itens que temos que agrupar dois a dois e uma miríade de outros desafios que variam de dia para dia e vão aumentando de dificuldade. Nestes desafios podemos apanhar frutos novos para plantar na nossa terrinha, mas também recebemos medalhas, a moeda usada especificamente na ilha, para comprar itens exclusivos tais como o fato de mergulho que podemos levar connosco para casa permitindo-nos ir nadar no oceano.

Estas novidades são extremamente bem-vindas numa série que estava estagnada e também trazem alguns objectivos para quebrar a monotonia e dar algum rumo ao jogo para quem precisar dele. No entanto, o Animal Crossing não deixou de ser uma experiência relaxante e libertadora onde nós estabelecemos as nossas metas e definimos a nossa maneira de jogar e a verdade é que muitas vezes os cinco minutos que tencionávamos jogar só para ir regar as flores transformam-se em duas horas porque pelo caminho decidimos apanhar umas laranjas e quando damos por isso estamos a apanhar toda a fruta da aldeia para vender. Depois decidimos ir pescar e não desistimos enquanto não encontramos peixes novos para doar ao museu, só que entretanto vemos que temos amigos online e convidamo-los para dar um salto à nossa aldeia o que nos leva a viajar até à ilha para experimentar uns desafios. Quando voltamos a casa, está na hora do espectáculo ao vivo do K.K. Slider no clube LOL por isso ficamos para mais uma música.

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Eventualmente podemos construir o Dream Suite que nos deixa visitar em sonhos aldeias de outros jogadores que as disponibilizaram online e também podemos visitar as casas de pessoas com que fizemos Street Pass através do Happy Home Showcase, o que nos dá a hipótese de encomendar mobília que eles tenham em casa. Tal como na versão Wii, a Nintendo vai disponibilizando itens novos online, todos eles de borla e também podemos usar a câmera da 3DS para ler códigos QR disponibilizados por outros jogadores para fazermos download de designs de roupa, quadros e padrões para usarmos a nosso bel-prazer.

Até quatro pessoas podem visitar a mesma aldeia, tanto online como localmente e podemos adicionar as pessoas com quem jogamos a uma lista de melhores amigos para podermos comunicar com eles mesmo estando em aldeias diferentes. Infelizmente não há voice chat, mas de resto nunca me deparei com grandes problemas ou lag a jogar online, havendo no entanto o risco de perdermos todo o progresso feito online se a ligação for abaixo e não tivermos gravado o jogo antes, o que tem que ser feito manualmente.  A falta de um sistema de mensagem instantâneas na 3DS também torna complicado jogarmos pela primeira vez com alguém até o adicionarmos à lista de melhores amigos do jogo, visto ser preciso combinar de antemão com quem queremos jogar.
Jogar com amigos é útil para fazermos trocas de itens, designs e especialmente para obter fruta que não é nativa à nossa aldeia, podendo assim obter árvores com fruta diferentes que vale mais dinheiro.

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Apesar da parte multiplayer, o jogo não deixa de ter a sua componente social (ou emulação de uma) enquanto se joga sozinho devido à interacção com os aldeões que nos pedem favores e ideias para saudações e alcunhas, vendem e compram coisas, visitam a nossa casa e nos convidam para a deles, além de competirem connosco em concursos de pesca e afins. Andar a fazer favores e receber visitas não demora muito a tornar-se repetitivo, mas felizmente os imensos diálogos diferentes estão brilhantemente escritos, carregados de sentido de humor tendo cada personagem a sua personalidade bem delineada, dando-nos um bom incentivo a falar com os nossos vizinhos. Para não tornar as coisas aborrecidas, além do acampamento que acolhe visitas espontâneas, os animais por vezes mudam-se para outra aldeia (por vezes aldeias de amigos que nos visitaram) e chegam novos habitantes para conhecermos e construirmos amizade. Além do mais, há vários eventos ao longo do ano desde competições de pesca e apanha de insectos à caça de ovos de Páscoa e também temos algumas das festividades que celebramos na vida real tal como o dia das mentiras, o Natal ou a passagem de ano.

O jogo mantém o estilo “cartoonesco” conhecido da série apesar das personagens estarem ligeiramente diferentes e sendo os gráficos melhorados em relação às versões anteriores, nomeadamente a da DS. O 3D é uma adição gira, mas que pouco traz de especial, ajudando talvez a apanhar insectos porque se tem uma melhor noção da distância.
A banda sonora também foi renovada, continuando a ser recheada de temas calmos e relaxantes que mudam de hora a hora e de acordo com as condições meteorológicas. Claro está, continuamos a ter concertos do K.K. Slider, a versão animalesca do compositor Kazumi Totaka, onde temos os temas já conhecidos de veteranos da série, assim como temas novos, todos eles disponíveis para ouvirmos nos rádios das nossas humildes (ou não) casas.
Algumas das rotinas do dia-a-dia estão melhoradas, podemos juntar fruta num cesto para ocupar menos espaço e doar ao museu é mais rápido e a interface também está melhor especialmente devido ao uso do ecrã debaixo que na versão DS era usada para controlar o jogo. Mesmo assim, a interface devia estar bem melhor, o ecrã de baixo apresenta o mapa enquanto nós andamos, o que dá jeito, mas ao mudar para qualquer outro menu ficamos impedidos de nos mexer e seria incrivelmente útil ter o inventário sempre a mão enquanto andamos de um lado para outro, especialmente para ver o espaço livre e equipar ferramentas.

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Não vale a pena ter ilusões, Animal Crossing não é um jogo para todos os gostos (por outro lado, que jogo é?), o ritmo lento e dependente do relógio interno da 3DS (o que permite fazer batota alterando as horas) e a falta de um objectivo claro podem ser o suficiente para não agradar a muitas pessoas, mas para quem gosta de colecionar e quer jogar algo relaxante, engraçado e diferente, Animal Crossing: New Leaf é uma boa escolha e de longe, o melhor jogo da série não só por ser extremamente completo, mas por finalmente introduzir novidades interessantes. É um escape que dá para horas e horas e horas…

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