Análises

Beyond: Two Souls

É demasiado fácil apontar defeitos a Beyond: Two Souls.  A quase inexistência de jogabilidade, uma câmara que enlouquece sempre que nos tentamos afastar do percurso predefinido, a insistência em quick time events  desperdiçando assim verdadeiras sequências de stealth e shooting  e, como se tudo isto não fosse suficiente,  uma sensação  Uncanny Valley que nos acompanha durante as primeiras horas de jogo, resultado da renderização de atores  conhecidos.

Mas será Beyond: Two Souls, no entendimento mais lato da palavra, um jogo? Ou estaremos perante algo que podemos apelidar de cinema interativo? Talvez um pouco de ambos mas, ainda assim, não é desta que vivemos uma verdadeira experiência cinematográfica interativa.

Beyond Two Souls reviewAqui e ali há vislumbres do que poderá vir a ser essa mesma experiência num futuro próximo: avatares de atores reais, voice acting soberbo, valores de produção elevados, formato cinematográfico e, acima de tudo, um argumento fragmentado cheio de piscadelas de olho hipertextuais.

Talvez por isso seja um pouco frustrante falar de Two Souls, olhar para todo o seu potencial e perceber que apesar de ser uma experiência fantástica, em termos de jogabilidade está mais perto dos tempos idos de um Phantasmagoria ou um The Ripper que do passo em frente que se esperaria do seu realizador David Cage e da Quantic Dreams.

No entanto, mesmo com todas as lacunas referidas, Beyond: Two Souls agarra-nos do principio ao fim, fazendo-nos voltar sempre para mais.  Ao longo das suas cerca de 10 horas de duração somos transportados num carrossel de emoções que, mesmo abrandando, nunca para realmente.  A verdade é que Beyond: Two Souls, mais que uma história com um forte travo a sobrenatural onde se pisca o olho a tantos filmes e séries do género, é  uma história de vida. A vida de Jodie Holmes.

Desde a infância até à idade adulta, passando pela adolescência, acompanhamos de forma não linear 15 anos da vida de Jodie. Uma vida condicionada por uma estranha ligação a uma entidade sobrenatural de nome Aiden. É com base no frágil e estranho equilíbrio entre as capacidades sobrenaturais de Jodie e os padrões de normalidade do dia-a-dia em sociedade que Beyond: Two Souls consegue o que tantos outros jogos almejam mas raramente alcançam: criar uma verdadeira ligação emocional entre o jogador e as personagens.

Two Souls fá-lo com mestria e, como se de uma viagem ao labirinto da memória se tratasse, somos transportados por momentos da vida de Jodie que oscilam entre o completamente surpreendente e o corriqueiramente mundano se nunca se tornarem supérfluos ou entendiantes, isto porque todos eles tiveram o seu papel e importância no crescimento e desenvolvimento emocional de Jodie.

Talvez seja essa ligação que, auxiliada por um grafismo e fotografia  (fazendo uso do jargão cinematográfico) absolutamente fabulosos juntamente com qualidade acima da média das interpretações e voice acting de Ellen Page e Willem Dafoe, que fazem com que ignoremos os defeitos óbvios de Beyond: Two Souls e desejemos voltar uma e outra vez. Seja para fazermos parte da vida de Jodie, tomarmos o lugar de Aiden ou até para mostrarmos aos nossos pais e (alguns) amigos  que isto dos jogos não é só tiros e este até está em português de Portugal e qualquer um o pode apreciar.

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