Análises

Contrast

Contrast é, antes de mais, um jogo de ambiente, criado com uma utilização de cor, luz e sombras que roçará a mestria. Numa cidade que evoca Paris da década de vinte do século passado, não só pelo visual mas também pelas melodias escolhidas, acompanhamos a história de Didi, uma rapariga que tenta reconciliar os pais desavindos com a ajuda de Dawn, a sua amiga imaginária controlada pelo jogador, uma espécie de boneca viva capaz de saltar para o mundo das sombras.

Este talento de Dawn transforma Contrast num híbrido entre jogo de plataformas tridimensional e bidimensional (sempre que nos movemos como sombras numa parede), sendo a alternância entre os dois modos a forma de resolver puzzles e alcançar objetivos.

Contrast review screenshotNem todos os puzzles têm o mesmo grau de complexidade ou interesse, indo do moderadamente desafiador ao francamente óbvio, o que não faz de Contrast uma experiência capaz de prender o jogador durante muitas horas.

Se os aspetos visuais estão bem conseguidos, construindo um mundo muito apelativo a nível visual, os aspetos relacionados com a jogabilidade serão algo muito diferente. Para começar, os movimentos de Dawn são um pouco instáveis durante todo o jogo e, em mais do que um momento, as dificuldades de controlo provocam alguma frustração.

Além deste problema, há outros que são quase sempre motivados por execução técnica deficiente ou, nalguns casos, por desatenção ao pormenor que sugere um certo desleixo ou pressa para editar o jogo antes de estar devidamente polido.

O aspeto mais incontornável destas falhas técnicas residirá na interação de Dawn com objetos do mundo, sobretudo quando é preciso pegar em bolas ou caixas e transportá-las para ativar dispositivos de pressão. São frequentes os momentos em que uma tentativa para erguer alguma coisa resulta num bloqueio da personagem que só é superado após alguns segundos.

Quanto à desatenção ao pormenor, um bom exemplo ocorre quando Dawn substitui uma princesa desaparecida num teatro de sombras, um dos melhores momentos de todo o jogo, apesar da semelhança com o conceito de Limbo. Acompanhada pela narração do pai de Didi, Dawn atravessa uma floresta repleta de fossos preenchidos com bambu aguçado. Quando tem a infelicidade de cair num destes fossos, o narrador altera subitamente o tom do relato para informar que “a princesa morreu empalada no bambu”. Mais à frente, quando o cenário passa para uma caverna onde o bambu é substituído por estalagmites afiadas, os saltos mal calculados e letais motivam exatamente a mesma frase: “a princesa morreu empalada no bambu”.

Sem deixar de ser um jogo a merecer atenção, Contrast é, acima de tudo, um esforço que desperdiça as suas muitas possibilidades com falhas evitáveis.

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