Análises

Oddworld: New ‘n’ Tasty

Actualização: 23/08/2014: Ciente dos vários problemas que o jogo tinha no lançamento, a Just Add Water lançou até agora cinco atualizações para corrigir quase 50 problemas que estavam a afetar o jogo, quer com crashes/bugs e situações de saves corrompidos. Depois de ter completado mais uma vez a campanha com o último patch, 1.05, não tive os problemas que me afetaram da primeira vez e pude completar o jogo sem dificuldades.
Uma vez que as questões técnicas poderiam seriamente comprometer o nosso jogo, a nota e texto na análise refletiram exatamente isso. Ultrapassada a situação faz sentido que um dos pontos que afetava negativamente a nota do jogo seja revista, e assim foi.

Apesar de algumas imprecisões ainda presentes, mas que não têm a ver com impedimento de progresso, só resta, ainda mais agora, recomendar este belo regresso ao passado, que tantas boas memórias nos deu, e continua a dar.

Original: 29/07/2014: Pegar num clássico de 1997 e, de acordo com o fãs, fazer um remake de um dos títulos mais icónicos da primeira Playstation envolvia um grande desafio. Vimos um surgir de vários jogos de gerações anteriores, através de reedições com mais ou menos qualidade, e como tal a Just Add Water perguntou aos seus fãs o que queriam que eles fizessem com o mundo de Oddworld. A resposta foi unânime, um remake do primeiro jogo.
Oddworld New ´n´Tasty é um reformular completo do primeiro jogo da saga de Abe. Os produtores não se limitaram a fazer um upgrade gráfico, o que seria uma tarefa mais simples talvez. Tudo foi feito de raiz, portanto, cenários, diálogos, sons, puzzles, etc., o que torna esta nova visita a Rapture Farms praticamente um jogo novo, inspirado em Abe’s Oddysee.

New ´n´ Tasty conta a história do Modukon Abe. Encerador profissional na Rapture Farms, empresa de processamento de carne, Abe descobre um terrível destino que ele, e os trabalhadores da sua espécie, escravos nesta fábrica, estão prestes a sofrer. Uma vez que as criaturas que são usadas para ser transformadas em alimento estão quase extintas e como consequência o lucro está a cair, o CEO decide que está altura de experimentar um novo ingrediente para um novo produto. Este novo produto é feito à base de… Mudokon. Após descobrir este arrepiante facto Abe decide que está na altura de fugir e tentar salvar os companheiros que puder, incitando uma caça sobre si por toda a fábrica, desconhecendo que o seu destino o levará mais longe que imagina.

Oddworld_New_n_Tasty_20140725023255Tal como o original, New ´n´ Tasty é uma aventura em 2D, desta vez com cenários em 3D. Grande parte da mesma resume-se à resolução de puzzles, que podem incluir inimigos, armadilhas, buracos entre outros perigos, combinado com secções de plataformas. O grande objectivo de Abe é salvar o maior número possível de mudokons ao longo da sua aventura. Para o fazer, tem que simplesmente falar com os vários que encontra ao longo do caminho e abrir um portal para a sua salvação.
Como dito anteriormente todo o jogo foi praticamente refeito, quer para acomodar novos jogadores, quer para corrigir coisas que na altura do original não eram possíveis. Tal como muitos jogos do anos 90 em 2D o primeiro jogo fazia uma transição entre cenários, o que significava que uma vez chegado ao limite do ecrã transacionávamos para outro, e assim subsequentemente. Nesta nova edição a câmara acompanha sempre o movimento de Abe, um aventura sem divisão de cenários, contínua, que algumas vezes dá uns ângulos mais cinemáticos à coisa, para nos mostrar algo importante. Isto levou a que determinados puzzles tivessem que ser mudados, pois alguns inimigos faziam reset na transição de cenários, mas o resultado final aqui é bom, uma vez que a câmara acompanha muito bem as situações para não sermos apanhados desprevenidos.

Os controlos foram alvo de uma grande mudança, se bem que nem tudo tenha sido para melhor. A passagem do d-pad para analógico não correu da melhor maneira, uma vez que a posição deste determina se andamos devagar ou corremos. Num jogo que exige controlos precisos vai acontecer bastantes vezes querermos andar e o personagem correr. Não é algo que seja um grande impedimento, e no geral os controlos estão mais intuitivos apesar de requererem um longo período de habituação, especialmente para os veteranos da série. Uma vez que temos 299 mudokons para salvar, ao contrário dos 99 do original, foi introduzido o comando para falar com todos os mudokons de uma área, que não existia antes, para assim ser mais rápido/eficiente a sua salvação.

Outra grande mudança que aconteceu foi a introdução de dificuldades. Segundo Lorne Lanning, criador da série, houve muitos jogadores que nunca chegaram a terminar o original porque era muito difícil. Com esta preocupação em mente, foram introduzidas três dificuldades, fácil, normal e difícil. As duas primeiras fazem com que Abe não morra num hit como acontecia no original, introduzindo um sistema de hit points , que permite sobreviver aos tiros das implacáveis “lulas” com pernas de metal, aka sligs, e tendo um sistema de chekpoints mais generoso. Em difícil(dificuldade deste playthrough), as coisas são como haviam sido em 1997, com mortes apenas com um hit, seja do que for que nos atingir, e tempos de resposta dos inimigos mais curtos, trazendo quase por completo a experiência original, uma vez que, e sendo outra das novidades, temos um sistema de quicksave, tal como acontece em Abe’s Exoddus, a sequela do original, permitindo que com um clique no touchpad seja possível guardar o jogo logo após um obstáculo difícil.

Oddworld_New_n_Tasty_20140725002851O jogo de 1997 é ainda hoje bastante agradável de se ver, isto em grande parte devido à espantosa artwork que o acompanha. Tal como em qualquer remake, existe sempre o receio que algo fique perdido pelo caminho, mas no que toca ao visual do jogo, não há absolutamente nada a apontar. Tudo o que ficou na memória na altura regressa agora com um visual espantoso e a arte do jogo brilha ainda mais, com o bizarro mundo que é Oddworld. Todos os cenários de fundo são animados, o que proporciona uma envolvência e integração no mundo que supera o original, ajudado por um sistema de iluminação que se revela muito bom. Fiel ao original e ao ponto de parecer estar a jogar as suas CG, correndo quase sempre a 60fps.

Mas como tudo na vida à coisas que são difíceis de perceber, e é aqui, numa outra parte técnica, que as coisas descambam infelizmente. É questionável a escolha de determinados sons que criaturas icónicas, tal como sligs/scrabs, têm, uma vez que estes eram excelentes no original. Ainda que se perceba querer atualizar os sons para algo mais recente, há algo que ficou perdido no processo, se bem que após algum tempo as frases que os sligs dizem enquanto patrulham as suas áreas sejam hilariantes. Já o mesmo não pode ser dito dos scrabs. As animações no geral são consistentes, mas as de mudança de direção não são de todo as mais fluidas, resultando num movimento muito rápido que não é de todo natural.

Ainda assim estas mudanças são um dos menores “problemas”, uma vez que há várias secções em que o jogo fica literalmente sem vozes, quer dos inimigos quer dos nossos companheiros mudokon. Depois temos os crashes/bugs que são demasiados para serem ignorados. Há uma parte especialmente má nisto, cerca do meio do jogo, em que é impossível progredir sem que o jogo leve com um crash que nos manda para o menu da consola. Confesso que estive mais de uma hora de volta desta situação e só depois de tentar algo meio absurdo no jogo é que consegui continuar o meu progresso. Se acham isto pouco, somos ainda brindados com corridas contra paredes depois de largar o botão de corrida. Usar a mecânica de chant, que permite solucionar puzzles, encontrar áreas secretas e possuir inimigos, e esta simplesmente ficar num loop infinito, ou ainda tentar clicar em continuar após um crash e o jogo levar com outro crash no ecrã de loading, não permitindo o retomar da aventura.
Quando o jogo chega a crashar durante os créditos é quando realmente nos apercebemos que à algo ali que correu muito mal. Isto já foi prometido que será corrigido brevemente, mas não se fazem análises de promessas e é assim que o jogo está na sua semana de lançamento.

Oddworld_New_n_Tasty_20140725032008A duração da campanha deve ficar entre 6-11 horas. Uma vez terminados podemos sempre repetir para salvar os mudokons que faltam, ou consultar o tempo dos nossos amigos nas tabelas de liderança, o que permite ver os nossos melhores tempos por área e número de trabalhadores salvos, que na maior parte das vezes não serão perto de 299, uma vez que existem inúmeras salas secretas, incentivando a outras playthroughs.
É provavelmente um dos melhores remakes feitos até à data, e mais que recomendado para os fãs da série. Apesar de ter perdido algumas coisas pelo caminho também ganhou outras que o modernizaram e proporcionam a veteranos e novatos a oportunidade de entrar neste mundo fantástico que é Oddworld. Uma vez corrigidos os problemas técnicos que o jogo tem, é obrigatório. Se o sucesso for atingido venha de lá o remake de Abe’s Exoddus.

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