Análises

The Last of Us Remastered

Há pouco mais de um ano atrás, a Naughty Dog lançou para a PS3, a sua versão de um mundo apocalíptico e surpreendeu todos devido à qualidade do produto final, não só a nível técnico mas também a nível narrativo. Não é de estranhar que chegue agora à PS4 com uma lavagem de cara.

The Last of Us começa ao mostrar o pânico causado por uma misteriosa infecção. Embora sirva para dar o mote para a história, este prelúdio é um vislumbre do peso da história e da qualidade da narrativa, pois é impossível alguém ficar indiferente aos acontecimentos iniciais. Passando à frente, 20 anos após o inicio da epidemia, Joel é um contrabandista que, juntamente com Tess, recebe o trabalho de levar Ellie a um determinado local. Como será espectável, as coisas complicam-se bastante.

Ao longo da história é visível a destruição causada pela epidemia, mas ao mesmo tempo, certas situações mostram o outro lado da moeda. Coisas más acontecem, mas a vida continua e segue o seu caminho. Embora não seja uma conceito revolucionário, há que dar mérito à forma como a história se desenrola. Aliás, em termos narrativos, The Last of Us está ao nível do melhor entretenimento feito usando este tema.

O que The Last of Us tem de interessante e que é bem usado na história, é a sua abordagem ao tema zombies. Nos dias em que correm, jogos, séries de televisão ou filmes baseados em zombies não são novidade, e a Naughty Dog podia ter caído no erro de fazer mais do mesmo. No entanto, a produtora conseguiu diferenciar-se dos demais graças ao uso de algo real existente na Natureza, algo chamado Cordyceps, tornando este evento ficcional em algo mais credível.

Cordyceps é um fungo parasita bastante agressivo que ataca apenas insectos e artrópodes. A Naughty Dog pegou nisto e adaptou ao The Last of Us, onde este fungo começou a infectar humanos, resultando numa epidemia mundial e transformando pessoas numa variedade de adversários, cada um com características diferentes.

Runners representam a primeira fase da doença, onde os infectados mantém a maior parte da aparência humana, mas perderam parte da visão devido à infecção. Em contrapartida, são rápidos. Stalkers têm a mesma visão dos Runners e também a sua rapidez, mas são mais agressivos. Clikers são a terceira fase da infecção. Estes inimigos perderam completamente a visão e por isso orientam-se apenas pelo som. Devido à prolongada exposição à infecção, são agressivos e são mais fortes que uma pessoa normal. A quarta e última fase da infecção é representada pelos Bloaters. Estes vou deixar para vocês descobrirem.

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Mas os infectados não são os únicos inimigos existentes. Tratando-se de um mundo hostil, as pessoas fazem de tudo para tentar sobreviver, e como tal, nem todas as personagens que se encontram  ao longo da história são amigáveis. Isto resulta numa tensão constante, pois para além de se ter de enfrentar infectados durante as explorações dos cenários, há sempre a dúvida se vamos encontrar um grupo de humanos hostil ou se aquelas personagens que encontrámos são mesmo de confiança.  É este mundo apocalíptico que molda as personagens, e é algo bem retratado pela Naughty Dog pois nenhuma personagem, nem mesmo as principais, são vistas como sendo perfeitas ou heróis.

Há que destacar a qualidade do voice acting e das animações, pois os actores que participaram na produção deste jogo, fizeram um excelente trabalho a dar vida e credibilidade a estas personagens. O leque de actores inclui Troy Baker (Joel) e Ashley Johnson (Ellie), mas também conta com alguns estreias como Annie Wersching (Tess) e W. Earl Brown (Bill). Adicionalmente, Nolan North também participa, mas num tom completamente diferente do habitual. Se preferirem jogar em português, também o podem fazer. Embora não esteja ao nível das vozes originais, o leque de actores portugueses, que inclui Marcantónio del Carlo, Joana Ribeiro e Maria João Bastos, é bastante competente.

A fazer a ligação entre as personagens e o mundo, está uma excelente banda sonora composta por Gustavo Santaolalla, premiado músico argentino que trabalhou em filmes como Babel e Brokeback Mountain. Apesar de ser o seu primeiro trabalho num videojogo, as músicas criadas ficam no ouvido e encaixam lindamente nas cinemáticas. Refiro especificamente cinemáticas, porque em jogo corrido, pouco mais ouvimos do que o som ambiente, o que torna tudo ainda mais assustador e imersivo.

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Não querendo constatar o óbvio, The Last of Us é diferente de Uncharted e isso reflecte-se fortemente na jogabilidade. Enquanto que Uncharted é um third-person shooter com alguns elementos de plataforma, The Last of Us é um jogo de acção/aventura, que mistura elementos de third-person shooter com stealth e survival horror. Como tal, nem todas as situações devem ser resolvidas usando armas de fogo. Aliás, devido à escassa quantidade de recursos existentes, é preferível tentar passar despercebido pelos inimigos ou eliminá-los silenciosamente. Desta forma, poupam-se recursos para encontros mais difíceis.

A componente sobrevivência é bastante importante,e há o incentivo e a necessidade de explorar o cenário em busca de algo que nos possa ser útil. Quem fizer isso será recompensado com preciosos recursos que podem ser usados para fazer objectos. O jogo conta com um sistema de criação, onde é possivel pegar numa determinada combinação de materiais e criar facas improvisadas, kits de primeiros socorros, cocktails molotov e bombas. Enquanto cria itens, Joel fica completamente desprotegido, e por isso há que escolher a altura certa para parar e começar a criar alguma coisa. No entanto, a quantidade de materiais é limitada e por isso é necessário pensar bem o que criar. Será que numa determinada altura é preferível criar um kit de primeiros socorros ou um cocktail molotov?

Por a acção furtiva ter uma presença forte na jogabilidade, não existe hard cover. Isto significa que Joel não entra em cover ao pressionar um botão como acontece em, por exemplo, Uncharted. Em vez disso, foi implementado um sistema de soft cover, onde Joel se adapta ao cenário automaticamente. Isto facilita na altura de apanhar um inimigo desprevenido e ao mesmo tempo, não prejudica na hora de entrar em combates com armas de fogo.

Para além disto, e como forma de ajudar a descobrir onde estão os inimigos, Joel conta com um sistema de escuta, onde através da parede, consegue ver a posição dos inimigos. Mesmo usando esta funcionalidade, o jogo não se torna muito mais fácil pois alguns inimigos matam com poucos golpes. Ainda assim, quem quiser pode desligar este sistema e progredir baseando-se apenas no que está no seu campo de visão e naquilo que ouve.

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Na maior parte das vezes, a IA dos nossos companheiros faz um bom trabalho em seguir as nossas pisadas, mas por vezes, bloqueia-nos a passagem ou fazem com que sejamos descobertos. A IA dos inimigos é boa e quando somos descobertos, é frequente sermos flanqueados se ficarmos parados muito tempo no mesmo sítio. Por vezes, os inimigos (humanos) também se protegem por detrás de objectos e aguardam por uma oportunidade de atacar.

Uma vez terminada a campanha, que pode demorar entre 15 a 20 horas a completar, podem aventurar-se em Left Behind. Este DLC lançado originalmente para a PS3, já está incluído em The Last of Us Remastered. Não entrando em grandes detalhes para não estragar a surpresa,  Left Behind é focado em Ellie e na sua relação com Riley, a sua melhor amiga. Apesar de curto, cerca de 3 horas de duração, Left Behind mantém a mesma qualidade vista no jogo base.

Completado o conteúdo singleplayer, podem passar para o modo multiplayer. Denominado Factions, este modo multiplayer mantém o estilo de jogabilidade da campanha singleplayer e oferece três tipos de jogo: Supply Raid, Survivor e Interrogation.

Supply Raid é basicamente um team deathmatch. Cada equipa composta por quatro elementos, começa com 20 vidas e o objectivo é eliminar a equipa adversária. Espalhadas pelo cenário estão caixas vermelhas, que contém materiais para criar itens como bombas de fumo ou cocktail molotov.

O modo Survivor é dividido por 7 rondas, mas cada elemento só tem uma vida por ronda. Isto torna  o trabalho de equipa em algo essencial para atingir a vitória. Este modo tem mais caixas vermelhas que em Supply Raid, mas os objectos criados não passam para rondas seguintes.

Em Interrogation, as equipas têm de localizar um cofre que contém provisões. Para isso, é preciso capturar e interrogar o inimigo. Isto funciona de forma semelhante a uma execução, mas é mais demorado. Usar uma faca improvisada, torna o processo mais rápido. São precisas cinco interrogações para revelar a localização do cofre.

the-last-of-us-remastered-review 4A habilidade de cada jogador é importante, mas em qualquer um dos modos, o trabalho de equipa é vital para o sucesso. Ser apanhado sozinho é meio caminho andado para morrer e para prejudicar a equipa. Tal como mencionado mais em cima, a jogabilidade é semelhante à existente no modo história. Isto significa um ritmo mais pausado, andar agachado e estar atento ao que nos rodeia. Numa altura onde grande parte dos modos multiplayer de outros jogos envolve um estilo run and gun, ver um jogo com um ritmo mais baixo é algo refrescante.

Entre partidas podem personalizar a vossa personagem com adereços, armas e habilidades. À medida que forem progredindo no modo multiplayer, vão desbloqueado melhorias para as armas e novas versões das habilidades. Algo interessante implementado no modo multiplayer é a possibilidade de criarmos um clã. As peças adquiridas durante as partidas são transformadas em provisões que, por sua vez, aumentam o clã. À medida que o clã aumenta, o requisito mínimo de provisões também aumenta. Em certas alturas há um determinado acontecimento, que nos obriga a cumprir um objectivo. Se cumprirmos o clã continua saudável, mas se falharmos, podemos perder  até 60% da população. Isto não tem um efeito prático e serve apenas como um desafio ou um objectivo adicional, mas é uma boa maneira de implementar o espírito sobrevivência no online.

O matchmaking esteve com alguns problemas desde o lançamento do jogo, mas o patch 1.02 lançado durante este fim de semana, melhorou bastante a rapidez com que se encontra uma partida. Embora ainda não esteja totalmente bom, este patch foi um passo importante para melhorar a qualidade do modo multiplayer.

Tecnicamente, The Last of Us é um dos melhores jogos na PS3, e mostra o quão empenhada esteve a produtora em optimizar o mais possível o seu motor de jogo à arquitectura exótica da PS3. Com o lançamento da PS4, a Naughty Dog viu uma oportunidade de usar o novo hardware para melhorar o departamento gráfico e ao mesmo tempo, recolher informação para usar no desenvolvimento de Uncharted 4: A Thief’s End. Assim sendo, The Last of Us Remastered corre em 1080p a 60 frames por segundo, uma grande evolução comparativamente aos 720p/30fps da versão PS3.

Mas as melhorias não se ficam por aqui. Para além do aumento da resolução e da framerate, esta versão Remastered conta ainda com uma iluminação refinada e texturas mais detalhadas. Analisadas de forma individual, estas melhorias gráficas podem não parecer grande coisa, mas em conjunto, melhoram bastante a experiência de jogo e aumentam a imersão neste mundo virado do avesso.

Com uma história interessante, personagens marcantes e situações surpreendentes, The Last of Us Remastered é um jogo que vai ficar na memória muito após ter sido terminado. A juntar a isto, há ainda a excelente qualidade do voice acting e da banda sonora. Se não jogaram The Last of Us na PS3, têm agora a possibilidade de o fazer na PS4 com melhores gráficos e mais conteúdo. Se jogaram na PS3, têm agora a possibilidade de o voltar jogar na PS4 e ter uma melhor experiência de jogo. Apesar de ser uma versão remasterizada de um título PS3, The Last of Us Remastered é actualmente o melhor jogo da PS4.

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