Análises

Risen 3: Titan Lords

Versão testada: PS3

Ah, a bela vida de saqueador. Cruzando os mares, ausente de qualquer tipo de responsabilidade e gozando a vida a seu belo prazer. Acompanhados do nosso barco, e em conjunto com a nossa tripulação, à procura de tesouros, a vida parece não correr mal para o nosso herói sem qualquer tipo de nome (que pode ser colmatado pela nossa imaginação). Seria então de esperar que o tipo de sonhos que têm lugar na mente de um tal indivíduo fossem as questões de grande complexidade, tais como gastar as suas posses ou qual mulher escolher para passar uma noite, mas não. Sonhar com navios fantasma e inimigos já há muito derrotados, não seria de todo como deveriam correr as coisas.

O nosso aventureiro desconhecido vê a sua existência tomar um rumo algo inesperado. Numa, das certamente muitas buscas por tesouro, encontra um portal desconhecido. Após melhor inspeção do mesmo é confrontado por uma criatura que literalmente lhe rouba a alma/espírito, o que resulta numa morte inglória. Passado algum tempo, e porque isso de morrer é uma chatice, é trazido de volta à vida por alguém totalmente inesperado. Sem perceber muito bem o que se passou, é confrontado com a realidade que os forças da escuridão estão prestes a tomar de assalto o mundo dos homens. Com grande parte das nossas habilidades dormentes, que é como quem diz levamos um stat reset, está na hora de nos fazermos à aventura, reunir uma tripulação e fazer alianças para derrotar as forças do mal.

Se ficaram curiosos sobre o jogo pela descrição acima é natural, quem não ficaria. O problema, e esta palavra é possível que se repita, é que a execução de todo o processo acima mencionado, é má.
Não temos qualquer chance de customizar o nosso personagem, decisão algo estranha, uma vez que este não tem nome. Todos os sistemas que o jogo tem, com raras exceções, são deficientes, ou muito mal executados. O jogo combina o combate corpo a corpo com a utilização de armas de fogo, ou se quisermos magia. O mundo que temos não é aberto, temos algumas ilhas para explorar, cuja localização é selecionada através de um menu. Isto para não falar da parte técnica, pois essa vai merecer especial atenção.

risen_3_titan_lords_review1Risen 3 é um action RPG. Entrando em mais detalhe sobre as várias mecânicas, e mais concretamente o sistema de combate, temos a possibilidade de usar diferentes armas, portanto, espadas, machados ou ainda espadas curvadas. Em conjunto com esta podemos usar uma arma de fogo. Esta arma pode ser uma simples pistola, ou então um mosquete ou caçadeira. Como mencionado anteriormente temos ainda o uso de magia se desejado, se bem que a utilidade desta seja algo mais benéfico a longo prazo, pois no início não é de todo fácil obter algum tipo de feitiço, a não ser os mais básicos que são tratados como consumíveis, para usar na nossa barra de atalhos, no d-pad. Mais à frente podemos dedicar-nos totalmente a magias que podem ser direcionadas com uma retícula, substituindo a nossa espada.
Seria falso dizer que este tipo de diversidade não é bem vinda, no entanto, estas ferramentas só são boas se a sua execução corresponder.

O sistema de combate é um dos vários problemas que o jogo tem. Não existe qualquer sensação de peso e impacto nos ataques que fazemos. Toda a coreografia que o personagem faz antes de um ataque é completamente desnecessária, e vão surgir muitas vezes situações em que carregamos no botão de ataque primeiro que os nossos inimigos e ainda assim levamos com um hit antes. Usar ataques simples e pressionar o botão para ataques mais fortes envolve alguma estratégia, mas o tracking que os inimigos têm retiram algum do prazer do sistema. Defender parece cumprir a sua função, mas por vezes devido a outros problemas é difícil julgar distância e eficácia do mesmo. Para atenuar esta situação podemos sempre esquivar, que aliado a frames de invencibilidade se torna praticamente essencial, podendo ser abusado sem qualquer penalidade.

Isto leva a uma enorme frustração e uma vez que os ataques fazem track automático de grandes distâncias, essa vai ser quase sempre a opção, atacar de longe, pois o ataque vai automaticamente acertar no inimigo…às vezes. O sistema de lock-on é automático, e funciona mal, pois para além de não dar qualquer liberdade na escolha dos adversários é frequente acertar num animal qualquer que por ali ande, mas ainda bem que os perus dão carne para me curar, se bem que uma garrafa de rum também não é má. A inclinação para nos direcionarmos para a magia é tentadora, uma vez que a distância se torna um fator muito cedo. A magia crystal regressa ao jogo depois de uma ausência, tornando as opções maiores, aliada a típicos feitiços presentes num rpg de fantasia, sendo que estes apenas ficam disponíveis uma vez que nos juntemos a uma das três fações disponíveis.

risen_3_titan_lords_review2Toda a aventura se desenrola num cenário que lembra as Caraíbas. Apesar do mapa parecer pequeno, e termos poucas ilhas(que ficam abertas desde o início) para explorar, vamos passar muito tempo nas mesmas, umas vez que ainda tem uma dimensão considerável, mas sobretudo por causa das dezenas de quests que podem ser desbloqueadas. As quests são tantas, que é muito fácil perder a noção do que estamos a fazer, e uma vez que determinados requisitos não estão por ordem, é moroso ter que andar a procurar o que já foi ou não feito. Todos os NPC têm algo para dizer, e o diálogo prolonga-se demasiado, tornando este aspeto do jogo bastante entediante. Têm por vezes algo mais cómico para dizer, mas não particularmente feliz. Ainda assim, é importante falar com a maior parte deles, pois é só assim, com trainers, que podemos aprender novas habilidades, estando mesmo algumas dependentes de estarmos ou não numa determinada fação.

A glória é muito importante. Neste jogo mesmo importante, uma vez que não há a comum XP, mas sim um sistema de glória, que atua basicamente para o mesmo. É através dela que podemos subir os nossos atributos e determinar se queremos ser um guerreiro ou mago.
À medida que avançamos no jogo é comum encontrarmos situações/pessoas que levam a outras quests. É uma maneira mais natural, orgânica talvez, de fazermos diferentes coisas, o problema, como em tantos outros jogos, é que quer estas quer as que temos nas cidades, não envolvem recompensas que sejam significativamente interessantes para andarmos a ir buscar 7 cogumelos, ou matar 10 suínos. Recompensam com glória, mas são tantas quests que a maior parte não vale a pena perder tempo com elas. Vamos também apanhando todo o tipo de loot, seja no chão ou em cofres, que podem ou não estar bloqueados, tendo que fazer uso de umas nossas habilidades de lockpick. Ou então se estiverem inclinados para isso, roubar umas quantas coisas, preparem-se é para as consequências.

Apesar de termos que gerir muita coisa para fazer, é interessante ouvir algum do diálogo que alguns npc´s têm, e quer connosco ou com outros é sempre hora de praguejar, seja para nós ou para com quem nos encontramos. Não nos cruzamos com personagens particularmente entusiasmantes ou carismáticas, o que nos apressa para acabar muitos dos diálogos que se tornam intermináveis.
Para nos ajudar na nossa campanha podemos contar com membros para uma party. Alguns partilham de objetivos comuns, e outros vão aparecendo quando conseguimos adquirir uma navio maior para navegar. A maior parte do tempo é a nós que os inimigos vão atacar, mas uma distração para poder respirar um pouco e reposicionar é sempre bem vinda, e é esse papel que alguns vão desempenhar.
Existe combate naval quando temos um destes navios maiores. Seja contra piratas ou monstros é uma alternativa interessante para quebrar o ritmo, entre fetch quests e diálogos longos. Não duram muito e são apenas durante uma parte do jogo, mas é talvez das coisas mais interessantes que temos.

risen_3_titan_lords_review3Muito se poderia dizer sobre o aspeto técnico desta versão jogada, mas uma palavra resume: desastre. Não me lembro de ver uma parte técnica tão má num jogo do género. Desde o momento em pegamos no comando, notamos claramente que o jogo se arrasta para conseguir funcionar. É muito raro ver a framerate a um valor aceitável e estável. Não ficaria espantado que andasse constantemente entre os 10 e 20fps. Aliado a isto temos tearing, texturas de muito baixa qualidade, freezes de alguns segundos para o jogo fazer auto-save, pop-in constante mesmo à frente de nós, enfim a lista é enorme e o jogo torna-se em muitos momentos praticamente injogável dado à péssima performance.

As animações conseguem ser decentes, mas no meio de tantos outros problemas passam completamente ao lado, quando mal se consegue perceber o que se está a passar durante o combate.
O som não é particularmente mau, mas também não à nada a destacar, portanto cumpre a sua função. A direção de arte tem alguns momentos, mas com texturas de baixa qualidade não há muito que se possa fazer para melhorar a coisa, o mesmo se poderá dizer da vida selvagem presente nas ilhas.
No final da campanha e com cerca de 31 horas, é difícil recomendar este jogo. Há na geração anterior propostas muito mais interessantes onde podem gastar o vosso tempo com jogos que valham a pena. Ainda assim se derem valor à parte narrativa, nomeadamente diálogo, e sejam adeptos de algum combate naval pode ser que retirem algum gozo neste jogo. O combate é meramente funcional apesar de alguma diversidade, mas nunca consegue ser mais que isso.

Numa era de constante evolução a Piranha Bytes parece algo presa a conceitos ultrapassados. Tudo o que devia ser melhorado que existia nos jogos anteriores, pouco ou nada mudou, e a julgar por esta mais recente proposta, é difícil ver o que possa ser aproveitado desta série, que teimosamente insiste em viver no passado.

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