Hyrule Warriors
É fácil de ver que a Nintendo tem laços fortes com a Tecmo Koei, não só lhe comprou parte dos direitos dos jogos de terror Fatal Frame, como lhe confiou duas das suas marcas mais emblemáticas com Metroid: Other M e Pokémon Conquest. Num anúncio inesperado, a Nintendo revelou confiar à Team Ninja e a ω-Force, duas equipas da Tecmo Koei, um spin-off de uma das sagas mais reverenciadas da indústria dos videojogos: The Legend of Zelda.
Hyrule Warriors não é um Zelda, mas sim um Dynasty Warriors no mundo Zelda, ou seja em vez de explorarmos um mundo, resolver puzzles e visitar aldeias, vamos lutar, lutar e lutar.
Quem conhece a série Dynasty Warriors, sabe o que esperar, um jogo de acção hack and slash com uma componente estratégica; jogamos em mapas que têm vários fortes e bases que geram constantemente soldados, enquanto defendemos o nosso território, temos que conquistar o do inimigo, acabando a missão quando tomamos a base inimiga ou derrotamos um certo comandante, de acordo com os objectivos.
Para conquistar um forte, é preciso derrotar os soldados que se encontram lá dentro até que a barra de “energia” do forte se esvazie e o seu o líder apareça, uma vez derrotado, o forte passa a pertencer às nossas forças, gerando soldados aliados em vez de inimigos.
Enquanto derrotamos vaga atrás de vaga de inimigos, há que prestar atenção ao que se passa no mapa, as nossas bases podem estar a ser invadidas ou aliados podem estar em perigo, no calor da batalha temos que decidir o que fazer e isso pode implicar sacrificar um forte ou um camarada de armas.
Os soldados rasos são carne para canhão, com facilidade despachamos dezenas de uma só vez, mas há inimigos mais fortes como os Moblins ou os Lizalfos que oferecem um pouco mais de luta e também há uma variedade de acontecimentos para apimentar a coisa, como mensageiros inimigos que temos que derrotar antes que chamem reforços, bombas Bombchu gigantes que ameaçam destruir as nossas bases ou impostores que baixam a moral das nossas forças.
O maior desafio vem dos comandantes inimigos, regra geral, outras personagens jogáveis que têm muito mais vida e uma série de ataques que nos podem fazer a vida negra, quer a lutar directamente connosco, quer a conquistar os nossos fortes.
Também temos que lutar contra bosses clássicos de Zelda como o Rei Dodongo ou o Manhandla, inimigos gigantes com imensa vida e capazes de infligir muito dano, podendo apenas ser derrotados com a ajuda de itens conhecidos como bombas ou o boomerang.
O sistema de combate é simples, mas eficaz, podemos defender, esquivar, usar um item ou atacar, os ataques que vamos desbloquando são fáceis de aprender- carregar X vezes no ataque normal e Y vezes no ataque forte- rapidamente estamos a desferir golpes poderosíssimos e cheios de estilo e o contador de KO a ascender aos milhares.
Quando a barra especial enche por derrotarmos inimigos, podemos usar um ataque especial devastador, útil para limpar uma área ou infligir algum dano a um boss ou comandante com uma defesa cerrada.
Ao apanhar jarros de magia enche-se a barra de Focus, que nos permite aumentar temporariamente o ataque e a velocidade, ou esgotar a barra de uma vez para usar um super ataque que revela o ponto fraco do inimigo.
Estes pontos fracos estão presentes em inimigos especiais, comandantes e bosses, dependendo do inimigo podemos ter que nos desviar de um ataque, esperar que ele acabe um combo, ou no caso dos bosses, usar o item certo na altura certa para que o ponto fraco se revele na forma de um medidor, e aí devemos atacar furiosamente para esvaziar o medidor, atordoar o inimigo e desferir um golpe crítico.
Derrotar milhares e milhares de inimigos com ataques estupidamente badass (à falta de melhor termo) enquanto defendemos os nossos incrivelmente incompetentes aliados faz-nos sentir os maiores.
A equipa mostrou respeito ao material de origem, a começar na simples mas adequada história que junta um Link e uma Zelda novos com heróis e vilões de três outras épocas, que é como quem diz, três outros jogos Zelda: Ocarina of Time, Twilight Princess e Skyward Sword.
Caras conhecidas como o Darunia, a Midna e a Fi entre muitos outros juntam-se para combater velhos inimigos como o Zant ou o Ghirahim, criando uma espécie de “E se…?” do universo Zelda. As personagens não perderam a sua personalidade na transição dos jogos originais para Hyrule Warriors, e sendo todas elas jogáveis, os seus ataques também revelam o amor da equipa à saga, apesar de serem consideravelmente mais exuberantes e poderosos que o habitual, nota-se o cuidado em manter a coerência com as personagens e o mundo da saga, assim como em fazer algumas referências para agrado dos fãs.
O elenco tem um tamanho e variedade respeitáveis, com uma forte presença feminina e vários tipos de luta e armas completamente diferentes.
Durante os níveis apanhamos várias armas do mesmo tipo com características diferentes que podemos fundir para criar uma ao nosso gosto e algumas personagens têm vários tipos de armas, desde espadas, livros de feitiços, naginatas (uma espécie de lança Japonesa), martelos entre muitos outros, cada um com elementos, ataques e combinações diferentes.
O modo Legend, onde seguimos a história, demorou-me cerca de 14 horas a passar em Normal, mas há muito mais para lá dos créditos finais. Ao derrotar inimigos apanhamos materiais que podemos usar para melhorar cada personagem individualmente, evoluindo uma espécie de árvore de habilidades onde podemos desbloquear ataques novos e ganhar uma série de benefícios como maior resistência contra certos elementos, mais barras para ataques especiais ou aumentar a velocidade da conquista dos fortes. Estes materiais são indispensáveis para melhorar as personagens para lá da subida de nível e os materiais mais raros só aparecem em dificuldades maiores.
Além disso também podemos encontrar as aranhas Skulltulla para completar várias imagens e ganhar a hipótese de fazer novas poções com variadíssimos efeitos. Estas aranhas escondem-se no mapa, mas só aparecem durante um tempo limitado se cumprirmos as condições impostas, como derrotar 100 inimigos ou cumprir objectivos em certas dificuldades com uma personagem específica. Também se escondem nos mapas corações e pedaços de coração (que aumentam a vida permanentemente) que só podem ser apanhados por determinadas personagens em cada nível, incentivando a jogar de novo os níveis já passados com várias personagens e em todas as dificuldades.
Para lá deste modo e do Free Mode, onde podemos revisitar estas missões com as personagens que quisermos, também há o Adventure Mode, onde temos o mapa do Zelda original da NES disposto em grelha, para avançarmos temos que ganhar as batalhas em cada quadrado do mapa e para apanhar todos os corações, skulltullas, armas e personagens escondidas, temos que obter boas pontuações e usar os itens que ganhamos nestas batalhas para desvendar segredos e revelar inimigos escondidos. Quem se lembra do primeiro Zelda leva uma vantagem, sabe que certos arbustos podem ser queimados pela vela para revelar uma escada, bombas destroem algumas paredes, estátuas podem ser empurradas com a Power Bracelet e por aí diante.
É um modo original e com a sua complexidade, muitos quadrados precisam de um item que tem que ser apanhado noutras áreas e para isso precisamos de vencer outras batalhas mais do que uma vez se for necessário e se estivermos perdidos, temos que ganhar e usar a bússola para nos dar uma pista quanto à localização do segredo em cada zona.
Como se isso não bastasse, as batalhas chegam a ser extremamente difíceis e têm condições muito específicas, desde só se poderem derrotar os inimigos indicados por uma charada, a todos os golpes serem potencialmente fatais.
Com este modo, facilmente se ultrapassam 50 horas de jogo e dá para investir bem mais que isso, visto que todos os modos são possíveis de jogar em co-op, o que torna Hyrule Warriors imensamente mais divertido, especialmente porque o 2º jogador pode usar apenas o ecrã do gamepad, sem ser preciso dividir a imagem da TV. Infelizmente, não é possível jogar online, sendo as funcionalidades online para partilha de records no Miiverse e no modo Adventure aparecem Links dos nossos amigos que têm o jogo, quando ele está em apuros, temos que ajudá-lo para ganhar bónus especiais. É uma ideia original, mas que não substitui um verdadeiro modo online.
Disponível no dia de lançamento como conteúdo transferível gratuito está o modo Challenge, que traz mapas adicionais onde tempos que superar desafios o mais rápido possível, por isso não faltam coisas que fazer.
A utilização do Gamepad em co-op ou para jogar sem a TV é excelente, mas podia ter ido mais além. Fica a faltar a possibilidade de olhar para o ecrã do comando durante os combates para ver um mapa mais detalhado e com mais informações, o que seria extremamente útil, apesar de termos que tirar os olhos do ecrã. Em vez disso apenas os nossos objectivos e ao carregar no ecrã táctil aparece uma roda para escolhermos os itens, é uma maneira bem mais rápida de mudar de item do que usando botões, mas podiam ter dado um passo extra.
Os gráficos são extremamente simples, os modelos das personagens principais são bons, mas fora disso não há grande detalhe, o que é colmatado e de certa forma justificado pelos milhares de inimigos no ecrã ao mesmo tempo e nunca notei quebras de fluidez, isto para não falar da possibilidade de jogar com outra pessoa, sendo necessário renderizar a imagem duas vezes. Os cenários são baseados em locais conhecidos da saga como o castelo Hyrule ou a vila abandonada de Kokiri no Twilight Princess e os soldados são tirados de vários Zelda: Moblins, Stalfos, Gorons, Darknuts, há todo o tipo de criaturas e personagens fiéis aos seus jogos e as novas encarnações de velhas personagens como o Link, a Zelda ou a Impa têm novos designs extremamente bem feitos. A direcção artística consegue ter um rumo ligeiramente diferente do habitual num Zelda, mas sem destoar.
Com algumas músicas originais pouco notáveis, grande parte da banda-sonora (que podemos ouvir nos extras e escolher antes das batalhas depois de aplicado o último patch) é composta por versões de temas marcantes da saga, como uma rendição meio Punk da música de Skyloft, ou o tema Hyrule Field do Twilight Princess em Metal ou uma orquestração do clássico tema que toca quando se entra numa casa.
Estas reinterpretações são interessantes, apesar de já se terem ouvido esforços bem melhores por parte da comunidade de fãs, e a forte presença de Metal encaixa com o caos e carnificina da batalha, mas as músicas podem-se tornar extremamente repetitivas e irritantes, especialmente por causa da monótona bateria.
O jogo partilha as qualidades e defeitos típicos da série Dynasty Warriors, tem um sistema de combate extremamente fácil de aprender, mas que é muito recompensador e divertido; apesar de ser um jogo bastante repetitivo, a verdade é que é viciante tomar conta do campo de batalha e dizimar inimigos aos milhares com ataques espectaculares que parecem saídos de um anime, há um certo Zen no caos. Fazer isto tudo com um amigo sem ocupar metade do ecrã é ainda melhor e o que não falta é conteúdo para fazer render o peixe.
Repetitivo, mas viciante e com muito conteúdo, Hyrule Warriors é um jogo seguro de si mesmo, sabendo o que faz os fãs seguirem a saga Dynasty Warriors, enquanto escreve uma carta de amor a Zelda.