Análises

Sunset Overdrive

Misturar géneros diferentes e juntar o nosso próprio ingrediente a um jogo pode por vezes sair completamente ao lado. Vemos elementos de rpg quase em todos os jogos de hoje, pelo menos aqueles que têm um sistema de progressão, offline quer online. Depois de alguns tropeções naquilo que deveria ser, ou pelo menos aquilo que nós, jogadores, esperaríamos de Fuse, a Imsomniac decidiu, segundo os próprios, fazer o jogo que sempre queriam fazer.
Podemos dizer que Sunset Overdrive é fruto de todo o trabalho que a produtora tem feito ao longo destes anos. Shooter, plataformas, mais armas insanas acompanhados do bom humor que é tradicional nos seus jogos. Se ao primeiro toda esta miscelânia parece familiar, é com um ligeiro toque, um apimentado, de Tony Hawk/Jet Set Radio que a coisa se transforma, e como se transforma.

O jogo desenrola-se em Sunset city. O que seria um lançamento de sucesso de mais uma bebida energética, OverCharge da companhia Fizzco, rapidamente se torna num apocalipse de dimensões gigantescas, uma vez que a bebida está a transformar todos que a ingerem em monstros(designados OD). Desesperado com a situação, o nosso personagem, um mero arrumador, vê-se obrigado a dar corda aos sapatos para fugir para casa, o que se revela uma má ideia, uma vez que escapar parece quase impossível.
Contra todas as circunstâncias, é salvo no último momento e posto ao corrente da situação. Ao que parece algo correu mal na fabricação da bebida, como tal a Fizzco está a tentar conter o surto na cidade. Se toda esta descrição parecer demasiado séria, o jogo faz questão através do seu diálogo/humor, aparvalhar toda a situação, nem sempre com muito sucesso, mas não há que levar a sério o contexto.

Sunset_Overdrive review 2Após a cinemática inicial o jogo dá-nos os controlos quase imediatamente, uma vez que existem mecânicas que vamos ter que aprender rapidamente se quisermos sobreviver. Tal como referido, temos aqui vários elementos diferentes na jogabilidade e só vamos ter sucesso se os soubermos utilizar convenientemente. O mais importante de todos é a mobilidade. O jogo permite, tal como as suas influências, fazer grind/rail em todas as beiras, cabos, grades que possamos encontrar no nosso caminho. A comparação com Jet Set Radio é inevitável, pois tal como este grande parte da nossa movimentação se vai basear neste aspeto. Como não podia deixar de ser o jogo tem elementos de plataformas, com saltos e balançar em postes, ou mesmo parkour, correndo nas paredes, o que permite ligar os diferentes elementos. Como é tradição na produtora, e fazendo lembrar Ratchet and Clank, temos ao nosso dispor uma série de armas com os mais variados e insanos efeitos. Uma caçadeira com um aspeto duvidoso com bolas gigantes, claro. Um lança mísseis que dispara ursos de peluche com dinamite, fácil. E se for uma minigun que dispara velas, isso é que era, ou então outra que disparasse discos de vinil, que tal?

É fácil perceber que não há qualquer tipo de problema em atirar as coisas mais disparatadas para se puder usar no jogo, provando que alguma dose de loucura por vezes dá bom resultado. Para terminar, um cheirinho a Tony Hawk pro skater. Já temos os rails e beiras para fazer grind, como tal o que vem daqui é um sistema de combo, aqui denominado de style, que nos recompensa por fazer aquilo que gostamos, ou seja, rebentar com todos os OD que encontrarmos pela frente da forma mais inventiva possível.

Sunset_Overdrive review 3Uma vez feita a descrição dos elementos que compõem o jogo, falta saber se todo este conjunto de mecânicas funcionam. Sem grandes rodeios, sim. A jogabilidade é sem dúvida o aspeto mais forte do jogo, pois combinando tudo isto que foi dito o jogo é uma constante diversão de se jogar. Começar no chão, executar um salto para um carro para saltarmos para um cabo de eletricidade, começar um grind, apontar para as dezenas de inimigos que passeiam por ali culminando o nosso combo com uma bela pancada do nosso amigo pé de cabra são apenas uma pequena amostra do que este jogo tem para fazer, não esquecendo sempre o sentido de humor como é claro, tornando o jogo bastante viciante. À medida que vamos progredindo na campanha vamos desbloqueando mais partes da cidade, que é enorme (imaginem um recreio gigante, que por acaso é uma cidade). Percorrer do ponto A ao Ponto B nunca é aborrecido, pois tudo se liga e interliga de forma surpreendente, nunca havendo uma situação onde não têm forma de usar umas das habilidades de travessia, podendo mesmo nunca tocar no chão durante vários minutos.

Tal como a cidade o nosso personagem vai evoluindo à medida que avançamos. As armas têm níveis, que nos recompensam se as usarmos. Mas talvez o mais importante ponto da evolução do nosso personagem são os Amps, que é como quem diz as habilidades, que se obtêm após uma determinada missão, tendo que algumas ser compradas. Correndo o risco de se tornar monótono, estas habilidades incentivam estilos de jogo diferentes, e só se activam se conseguirmos manter uma combinação dos vários elementos da jogabilidade, com saltos, grind e shooter, o que quer dizer que se tocarmos no chão por algum motivo, o nosso combo de 60x vai à vida. As armas também dispõem de amps, que adicionam algumas propriedades às mesmas, tais como ter a possibilidade explosão, ou então fazer com que todas as balas tenham uma possibilidade de ter elementos associados, como raios, gelo ou fogo. Por fim, temos os overdrives, que são habilidades passivas, que nos recompensam pela maneira como jogarmos, portanto, se usarmos uma determinada arma vamos ter a possibilidade de lhe dar um carregador maior ou esta fazer mais dano. Já nas passivas de travessia, somos recompensados pelas actividades que fazemos, tornando, por exemplo, mais fácil manter um combo ou mesmo subir a barra de estilo mais rapidamente. O efeito destes passivos é mais difícil de notar por vezes, uma vez que estamos a lidar com percentagens, exigindo que façamos level up dos mesmos para serem eficazes.

Sunset_Overdrive review 4Uma vez que a aventura se desenrola num mundo aberto seria difícil tornar o design da mesma apelativo durante toda a campanha, no entanto, as áreas diferenciam-se relativamente bem, quer por ter mais verticalidade, ou por ter elementos únicos. Outro incentivo que existe para explorarmos todo este espaço são as dezenas de colecionáveis que o jogo tem. Estes têm um propósito, pois só através deles é que podemos adquirir novas habilidades para o personagem, incentivando ainda mais a procurar todos os cantos.
O jogo faz questão de nos mostrar bastante cedo que andar no chão é igual a morte. A quantidade de inimigos por vezes é enorme e se estivermos no chão a disparar o que quer que seja, é quase certo que vamos ser esmagados pelas quantidades de inimigos que por vezes aparecem, que podem têm habilidades diferentes. Como tal, é sempre aconselhado andarem a saltar, fazer rail, dar saltos nos carros entre outras coisas, não só por ser mais seguro, mas também por ser extremamente divertido e gratificante, o que não acontece no chão, onde o jogo se torna banal. Ainda assim convém referir que morrer não tem qualquer penalização, mais, somos ainda brindados com uma animação de respawn que normalmente nos põe um sorriso na cara.

A cidade não é apenas povoada por monstros. Ao longo da campanha vamos encontrar outros humanos, que tal como nós estão a lutar pela sobrevivência. Uns mais amigáveis que outros, e as facções que encontramos introduzem missões secundárias para desanuviar um pouco da campanha. São bastante simples de completar, mas têm como objectivo quase sempre o mesmo, portanto, recolher algum item ou ir buscar qualquer coisa que algum npc deixou algures, tornado-as aborrecidas a longo prazo. Se quisermos algo mais desafiante podemos sempre completar os vários challenges que estão espalhados pela cidade, que combinam uma série de elementos, tais como provas de velocidade, largar bombas, defesa de postos, entre outros, aliados a classificações online. Estes dois elementos proporcionam objectivos diferentes e secundários que ajudam a diferenciar as tarefas principais, que não destoam muito disto também, mas são normalmente acompanhadas de algum setpice mais importante para fazer avançar a história.

Sunset_Overdrive review 5Olhar para Sunset Overdrive é muito agradável. O jogo utiliza a cor para fazer sobressair todo o mundo onde está inserido, pois tal como Bayonetta 2, esta técnica faz com que as cores “saltem” mais à vista, tornando o visual muito mais apelativo.
Apesar de todo o caos que pode acontecer durante as batalhas, com dezenas de inimigos e explosões por todo o lado a performance não é afetada, mesmo quando avançamos para o multiplayer. Destaque ainda para as excelentes animações entre as diferentes transições de mecânicas, tal como os controlos bastantes imediatos e responsivos. As opções de customização são tantas que vai ser difícil escolher um aspeto do nosso personagem que dure muito tempo, recompensando-nos pelas missões da campanha e de algumas missões secundárias, e uma vez que podem mudar o aspeto sempre que quiserem é só combinar as mais diversas peças para testemunharem a loucura.
A música que nos acompanha é punk/rock inserindo-se muito bem no estilo de jogo que é, e tornando toda a experiência ainda melhor. Não temos personagens particularmente memoráveis ou diálogos que fiquem connosco, mas o objectivo do jogo nunca foi esse.
Mencionar ainda a Sunset TV, que está espalhada por toda a cidade, que promete ser um magazine semanal em vídeo que nos trará novidades do jogo ou mesmo desafios.

A vertente multiplayer do jogo é apenas em modo de cooperação, Chaos Squad. Durante a nossa travessia pela cidade encontramos pequenos hubs que nos transitam para o modo online. Aqui podemos escolher o tipo de missões que podemos fazer, num máximo até 8 jogadores, culminando num final de missão de tower defense, em que temos que defender um determinado posto. É um belo complemento para a campanha principal uma vez que podemos obter recompensas únicas aqui, portanto, compensa sempre juntar uns amigos e rebentar alguns OD, apesar de por vezes se tornar demasiado caótico/confuso.

Como dito no início, juntar elementos de vários jogos distintos nunca é fácil, mas o resultado que foi conseguido aqui está excelente. Não tem qualquer tipo de pretensão de ser mais do que aquilo que é, um jogo, com referências inclusive até a fóruns famosos. Com um estilo completamente descomprometido, sem qualquer respeito pelas convenções a consola da Microsoft tem aqui uma das melhores surpresas do final do ano. Seria um crime não recomendar este jogo, pois a diversão é garantida, mas o facto de ter uma jogabilidade que resulta de forma surpreendente, torna a experiência memorável.

Veredito

Nota Final - 9

9

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