Análises

Super Smash Bros for Wii U

Mais do que jogos de luta, os Smash Bros são palcos onde cada combate é uma oportunidade para o desenrolar de micro-histórias que surgem a cada encontro, podem haver desfechos hilariantes, performances brilhantes ou a mão da aleatoriedade pode intervir e deixar cair uma bomba mesmo à frente do nosso ataque.
Quem jogou a versão 3DS deve ter uma boa ideia do que esperar de Super Smash Bros for Wii U, as personagens são as mesmas, assim como o sistema de combate e novidades como Miis e personagens personalizáveis, no entanto, seria um erro pensar que já se viu na 3DS tudo o que o quarto Smash Bros tem para oferecer.

O sistema de combate foi (e continua a ser) trabalhado até à exaustão para acomodar desde os jogadores menos experientes aos veteranos, uma batalha pode ser tão simples como dois lutadores numa arena básica a cruzarem espadas para decidir o vencedor, ou o caos total de oito jogadores com estilos de luta completamente diferentes a lutarem em cima de naves que se destroem umas às outras numa batalha espacial, enquanto itens como bombas, tacos de baseball e carapaças azuis entre dezenas de outros aparecem do nada para ajudar à festa.

HNI_0064Sim, oito jogadores, se achavam que a acção já era caótica com quatro, bem-vindos ao próximo nível. Não se assuste quem não conhece, não só é o tipo e quantidade de confusão ridiculamente divertida, como há um método por detrás da loucura. Com muitos mais jogadores e cenários maiores é preciso adaptar o estilo de jogo para lidar com multidões, mais projécteis e mais adversários inesperados, não só é uma oportunidade de acomodar mais amigos (felizmente o jogo suporta uma miríade de comandos) como de jogar Smash de uma maneira diferente.

Por melhor que esteja o jogo da 3DS, é inegável que Smash Bros está no seu melhor num ecrã maior, há muitas coisas a acontecerem ao mesmo tempo e na portátil não é tão fácil tirar proveito disso.
Já para não falar no que o jogo ganha com hardware mais potente, os gráficos podem não ser imediatamente tecnicamente impressionantes, os cenários não têm números exorbitantes de polígonos, algumas texturas são mais fracas quando examinadas de perto e não há técnicas avançadas de iluminação, claramente o objectivo foi dar prioridade ao framerate que está sempre nos 60 fps, mesmo com 8 jogadores. Apostar na fluidez foi a escolha certa, o jogo beneficia imenso disso e não deixa de ser extremamente bonito em movimento com uma imagem limpa, resolução de 1080p e uma direcção artística impecável cheia de cor, personagens expressivas e repletas de pormenores que se movimentam com animações incríveis.
Os níveis estão não só cheios de vida e detalhes como de acção: lutamos no meio de corridas Mario Kart ou F-Zero, em cima de aviões de Pilotwings enquanto fazem as suas provas ou em cavernas gigantes repletas de tesouros e lava. É preciso ter atenção tanto aos adversários e aos itens como aos níveis, nunca se sabe o que é que vai explodir, sair do sítio ou se um “boss” como o Ridley ou o Metal Face (do Xenoblade) vai aparecer.

Há para cima de quarenta cenários, menos de metade são de jogos anteriores enquanto os outros são completamente novos, mas há alguma repetição da fórmula de ter plataformas a viajar por um cenário e a deixar os lutadores em certos locais, não deixando no entanto de haver uma enorme variedade de mapas, repletos de interactividade e originalidade.
Cada cenário tem também um modo Omega onde só temos uma plataforma simples e não há interacção com o nível, óptimo para quem gosta de coisas mais simples e não quer jogar sempre no mapa Final Destination.

HNI_0054É preciso não esquecer que na versão Wii U podemos criar os nossos próprios níveis: pequenos, médios ou grandes, com algumas texturas disponíveis, desenhamos o terreno livremente com a stylus no ecrã do Gamepad e podemos também adicionar lava, canhões, molas e plataformas que se movem, além de escolher um fundo e música para o nível.
A possibilidade de desenhar terreno com o ecrã táctil abre a porta a imensas possibilidades, especialmente porque os níveis podem ser partilhados online, mas estranhamente há menos hipóteses de customização do que no editor do Brawl, o que é uma pena.

As mais de cinquenta personagens lutam de variadíssimas formas, sempre de maneira fiel às suas raízes: murros, pontapés, espadas, armas laser, mísseis, bombas e por aí diante, grande parte dos jogadores têm bases completamente diferentes, destacando-se entre outros brilhantemente diferentes, o Habitante de Animal Crossing que deixa cair bolas de bowling em cima dos outros, a Rosalina que controla Luma à distância, efectivamente lutando em dois lugares ao mesmo tempo, ou o Olimar que é quase indefeso se não tirar Pikmins da terra para os atirar. Quem jogou a versão 3DS sabe que as personagens 3rd party (ou seja, o Sonic, Mega-Man e o Pac-Man) também estão muitíssimo bem implementadas.
Como se não bastassem todas estas formas de lutar, podem-se desbloquear vários ataques alternativos para todas as personagens, alguns mais diferentes que outros e também se podem equipar três itens diferentes para encontrar um equilíbrio entre ataque, defesa e velocidade.
Isto dá uma imensa liberdade de escolha ao jogador e confere ainda mais profundidade ao jogo, uma personagem de que não se goste pode ter novos ataques ou estatísticas que nos mudem as ideias e ter umas quantas variações das personagens gravadas e prontas a usar torna o plantel de lutadores ainda maior do que o que aparenta.

É desta personalização que nascem os Miis como personagens: depois de escolher um Mii da consola e se ele é lutador, pistoleiro ou espadachim, podemos escolher os seus ataques, mudar as estatísticas e até o que têm vestido e na cabeça. Quem ganhará no combate do milénio: Cavaco Silva pirata ou Mário Soares vampiro?
Vendidos separadamente são os Amiibos, pequenas figuras de alguns dos lutadores (físicas, não virtuais, nunca se sabe nos dias que correm) que comunicam com o jogo, onde lhe associamos um perfil. Esse lutador viaja entre a Wii U e a figura, podendo ser usado noutra consola, bastando para isso passar com a figura no leitor NFC do Gamepad e a personagem surge instantaneamente. A piada dos Amiibos é que não só ganham itens e dinheiro a lutar contra outras pessoas, como conseguem ficar mais fortes que CPUs normais; além de lhes podermos dar equipamento permanentemente para subir estatísticas, eles sobem de nível à medida que lutam (até ao 50), aprendem e evoluem durante as batalhas. Por exemplo, lutar contra adversários que usam o escudo vai ensinar o Amiibo a agarrar ou a defender mais, se ele nunca tiver visto ninguém a usar itens, também não os vai usar.
É um conceito interessante, ter uma figura física associada a uma personagem virtual com uma certa identidade e vê-la evoluir à medida que luta connosco e com amigos, combina bem com a alta capacidade personalização das personagens jogáveis, cada um pode ter os seus cenários, os seus lutadores e os seus Miis e até a sua figura que faz mais do que só enfeitar. No entanto, os Amiibos não têm nenhuma funcionalidade que seja altamente necessária, por isso quem não se sente atraído pela ideia de comprar uma figura, não fica excluído de nada significante.

HNI_0058Há demasiados modos para explicar em detalhe sem ser maçador, podemos fazer combates sozinhos ou com vários amigos até oito jogadores especificando as regras, ou podemos jogar até quatro com regras especiais como pôr a gravidade baixa, dar um jetpack a toda a gente e só caírem pistolas laser. Como é tradição, podemos bater-nos contra adversários até chegar ao boss final no novo modo Clássico ou lutar contra todas personagens com itens de recuperação limitados no modo Lendas Smash (All-Star).
De volta da Wii também estão os eventos, lutas especiais acompanhadas de pequenas descrições muito bem escritas que dão algum humor e enquadramento às batalhas; cumprir certas condições dá-nos uma recompensa e também pode desbloquear caminhos para novos eventos, completá-los a 100% tem muito que se lhe diga.
Também não podiam faltar os mini-jogos do modo Estádio onde defrontamos hordas de Miis, lançamos sacos de boxe com um taco de baseball ou destruímos alvos com bombas.
Todos estes modos podem ser jogados cooperativamente a dois (no caso dos Eventos são missões diferentes) ou no caso dos mini-jogos, até quatro jogadores podem cooperar ou competir entre si.

A grande novidade para jogar com mais três adversários localmente, sejam eles CPUs ou pessoas, é o modo Mundo Smash (Smash Tour), uma espécie de jogo de mesa onde quatro jogadores “lançam os dados” para se movimentarem num tabuleiro onde estão espalhadas personagens, melhorias para as suas características na batalha final, assim como troféus que servem como itens com diversos efeitos dentro ou fora dos combates. Passados todos os turnos, os quatro defrontam-se numa batalha final com todas as personagens que coleccionaram até só um jogador ter lutadores.
É um modo que no início parece confuso, mas percebe-se facilmente jogando, é óptimo para variar e desanuviar um bocado, perfeito para jogar com amigos.

Também novos são os modos para jogar a solo Ordens da Mão Mestre (Master Orders) e Ordens da Mão Maníaca (Crazy Orders), em ambos participamos em pequenos combates com regras especiais para ganhar itens, ataques novos ou dinheiro, a diferença é que no primeiro pagamos consoante a dificuldade da batalhar que escolhemos, enquanto que no segundo temos que usar bilhetes ganhos noutros modos ou muito dinheiro para participar em combates mais difíceis, mas com recompensas maiores.

Um grande passo em frente face ao Brawl é o online, claro que se apanharmos alguém com uma ligação má, o jogo pode tornar-se lento ou até slideshow, mas isso é inevitável num jogo destes, felizmente, foram raríssimas as vezes em que tive problemas com o lag, jogar online tem sido rápido e indolor.
O maior problema é a falta de opções para jogar com estranhos, tal como na versão 3DS, estamos limitados a jogar em cenários aleatórios com regras fixas. Se quisermos jogar sem contabilização de estatísticas temos o modo For Fun onde até quatro jogadores lutam durante dois minutos com itens, enquanto que no modo For Glory, podemos jogar a quatro ou 1 vs 1, mas sem itens e apenas nas versões Omega dos cenários. A jogar com amigos, este problema não se põe, uma vez que podemos personalizar os combates à nossa maneira e até usar o microfone durante a selecção de personagens.

Além de podemos ver outros combates a decorrer online e até fazer apostas, podemos também mostrar que personagens são as nossas preferidas através do Conquest, uma espécie de votação onde o vencedor é decidido pelo número de vitórias que os jogadores pelo mundo fora alcançam com as personagens em questão. É uma maneira engraçada de ver que lutadores tendem a safar-se melhor em cada região e de fazer ver as nossas preferências.

Se há muitos modos, extras também não faltam, há centenas e centenas de troféus de diversos jogos para colecionar, completos com descrições (muitas delas hilariantes) e podemos vê-los em pormenor, em vitrinas das respectivas séries, ao monte ou até organizar sessões fotográficas.
Também há vários desafios para completar e uma tonelada de músicas escondidas para completar a biblioteca áudio com largas centenas de brilhantes faixas de vários jogos, algumas na sua forma original, outras reinterpretações levadas a cabo por dezenas de famosos compositores como Yuzo Koshiro, Yasunori Mitsuda ou Mahito Yokota. Não é possível salientar o quão excelente, completa e variada esta banda-sonora é, e poder escolher que temas aparecem com que frequência em cada nível é a cereja no topo do bolo.

HNI_0067Há pequenas irritações claro, não podemos usar o ecrã táctil para navegar os menus e não há opção para recomeçar os combates (o que faz falta nos eventos), felizmente são apenas pequenos riscos na pintura, se bem que sinto falta de um modo de aventura apesar de haver material suficiente para centenas de horas.

Com uma jogabilidade brilhantemente afinada, conteúdo para centenas de horas e uma paixão e respeito evidentes por todos os jogos representados, Super Smash Bros for Wii U é a derradeira forma da série, deve-se consumir com um grupo de amigos e comes e bebes por perto para umas horas bem passadas, cheias de gritos e gargalhadas.

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