Análises

The Legend of Zelda: Majora’s Mask 3D

Há espadas e flechas, masmorras e quebra-cabeças, fadas e monstros, mas não é por isso que Majora’s Mask tem um lugar especial no coração de muitos que o jogaram na Nintendo 64. Este jogo é especial porque por detrás da aventura de alta fantasia onde temos que salvar o mundo, está uma narrativa muito pessoal que dá origem a um dos mundos mais interessantes dos videojogos.

Ao procurar pela fada Navi, a única amiga que acompanhou Link do início ao fim da sua aventura pelo tempo para salvar Hyrule (em Ocarina of Time), o jovem herói acaba por se ver preso em Termina, uma dimensão alternativa onde a Lua está perigosamente perto de Clock Town, uma aldeia habitada por caras enganadoramente familiares.

Apesar da Lua se aproximar cada vez mais e de ter na sua face uma expressão tresloucada, nem todos parecem incomodados com isso e o dia-a-dia prossegue na cidade, acabando os preparativos para o grande festival que vai decorrer dentro de três dias. São precisamente três dias que temos até a Lua cair.

The Legend of Zelda Majora's Mask 3D review 2Felizmente, usando a Ocarina mágica que dá o nome ao clássico Ocarina of Time, conseguimos regredir no tempo até à manhã do primeiro dia, prendendo-nos num ciclo aparentemente infindável onde a única variável é o Link, um forasteiro que é única coisa que separa Termina da destruição certa.

Nesse ciclo de três dias podemos esquecer um bocado o fim do mundo e observar a rotina dos habitantes de Clock Town e arredores, um voyeurístico olhar para a vida dos outros, onde acabamos por saber mais sobre ela do que os próprios, o que nos deixa ajudá-los com os seus problemas, um pequeno conforto face ao fim iminente.

Desde noivos separados por circunstâncias bizarras ao espírito de um dançarino que não consegue descansar em paz, há dezenas de histórias para descobrir e problemas para resolver.
Voltando ao primeiro dia, ficam as recompensas, mas voltam os problemas, tal como quase ninguém em Hyrule sabe do futuro terrível de que Link os salvou, ninguém em Termina vai saber que um rapaz de verde se dedicou a ajudá-los num futuro que já aconteceu.

Para nos ajudar a lembrar de tudo o que se passa, temos o Bomber’s Notebook, uma agenda que guarda rumores, detalhes sobre as personagens, o seu horário e eventos relevantes, sendo também possível programar um despertador para nos lembrar que vai acontecer algo.
Esta agenda foi muito melhorada face à original, evitando que seja preciso decorar ou anotar muitas coisas, ajudando também a não perder o fim à meada, especialmente se abandonarmos o jogo por algum tempo. Apesar de ser muito mais detalhada, a agenda apenas anota informaçao que nos foi dita, não nos dizendo como proceder para acabar estes eventos, por isso não têm que ter medo que o jogo vos “dê a mão”.

The Legend of Zelda Majora's Mask 3D review 5Apesar de ser ligeiramente mais intrusiva que a implementação original, a nova agenda é muito mais prática e não estraga a surpresa ou o desafio de nada, realçando a importância destes eventos e personagens secundárias, que acabam por ser o verdadeiro cerne do jogo, não a aventura principal.

Também para ajudar quem se possa sentir perdido, os miúdos do gangue que nos dá a agenda agora dizem-nos rumores, uma ajuda opcional que nos dá informações extremamente vagas acerca da existência destas sidequests, útil para quem não faz ideia do que há mais para fazer, mas não quer ver guias.
Claro que como tem vindo a ser costume, também há um Super Guide na forma de uma pedra mágica escondida no início do jogo, que mostra o que fazer a quem se encontra realmente perdido. Para jogadores experientes é algo que não afeta minimamente o jogo, mas para os menos versados nestas lides, é uma ajuda valiosa.

Enquanto que antes apenas podíamos salvar permanentemente ao voltar atrás no tempo, havendo estátuas que nos permitiam sair do jogo e criar saves temporários, agora podemos salvar permanentemente nessas e novas estátuas e continuar a jogar. Se isto retira alguma importância das consequências das nossas ações em cada ciclo, na prática apenas traz vantagens e é uma alteração inevitável num jogo portátil onde a bateria é um fator. Já não é preciso matar tempo se quisermos chegar a uma hora específica do dia, graças à nova Song of Double Time, uma canção que nos permite avançar imediatamente para a hora que quisermos.

Além de corações que aumentam a nossa energia, alijavas e de outras típicas recompensas, o nosso prémio por ajudar alguém costuma ser uma máscara, habitualmente com propriedades mágicas. No total são mais de vinte, algumas com mais utilidade que outras, mas todas com o seu propósito, como as indispensáveis orelhas de coelho que nos fazem correr mais rápido ou a máscara que nos deixa falar com animais.
Há três máscaras que fazem parte da missão principal e que nos permitem transformar sempre que quisermos em seres de três das principais raças do universo Zelda: um Deku Scrub, um Goron e um Zora, cada um com as suas características e habilidades muito especiais que nos permitem por exemplo saltitar na água, planar, rolar a altas velocidades, andar na lava e gelo sem problemas ou nadar como um golfinho.

Com um arsenal de itens, músicas mágicas, máscaras e transformações, há uma míriade de maneiras de explorar Termina, resolver puzzles e claro, não podiam faltar masmorras, ou não seria isto um Zelda.
A estrutura das masmorras geralmente não é tão complexa como a de alguns dos vistos em Ocarina of Time ou mais tarde em Twilight Princess, o que é natural porque até dentro destas, o relógio não para. Com a ajuda de uma canção que desacelera a passagem do tempo, os três dias traduzem-se em três horas (sem contar com diálogos e menus), tempo habitualmente suficiente para completar cada templo. Se for preciso reiniciar o ciclo, chegar ao fim do templo é bem mais rápido uma vez que podemos atalhar caminho se já tivermos apanhado o item lá escondido.

Escondidas em cada um dos quatro templos estão quinze fadas, pedaços de uma Great Fairy que nos recompensam com novos poderes se as encontrarmos todas, um bom incentivo para explorar todos os recantos dos templos.
Apesar de não serem as melhores da série, são masmorras bem desenhadas com um limite de tempo em mente, cada uma com os seus mecanismos e quebra-cabeças únicos. No entanto, o jogo não vive só de templos, havendo bastante para fazer nas áreas que os antecedem, tanto em masmorras como fora.

The Legend of Zelda Majora's Mask 3D review 4Além das alterações mecânicas, também a apresentação foi consideravelmente melhorada, um trabalho bem mais exaustivo do que a Grezzo teve com o Ocarina of Time 3D. Além de ser possível controlar a câmara com o C-Stick da New 3DS ou o Circle Pad Pro, o framerate está bem melhor, andando na casa dos 30 fps, se bem que com algumas quedas ocasionais quando a acção é muito intensa, especialmente se o 3D estiver ligado. O 3D estereoscópico, como esperado, adiciona um sentido de profundidade e distância o que ajuda bastante na imersão, havendo alguns locais que ficam fantásticos em 3D. Infelizmente isto faz com que o aliasing (aquele efeito de “escada” nas bordas dos polígonos) fique mais aparente, o que prejudica o visual do jogo. O que se perde em profundidade com o 3D desligado, ganha-se em limpeza de imagem e mais alguma estabilidade de framerate.

Muitas texturas e modelos foram melhorados ou até feitos de novo, ajudando o jogo a ter um visual mais moderno e foram adicionados imensos detalhes que ajudam a vender a ideia de que Clock Town é uma aldeia movimentada e que já tinha uma identidade bem antes de a visitarmos.
As paredes estão cheias de posters com publicidade a lojas ou alusivos ao festival, as casas têm quadros e fotografias que nos dão mais um vislumbre da vida das pessoas e há toneladas de pormenores engraçados como “bobble heads” de vacas que abanam quando batemos contra alguma coisa.
Da música aos designs de personagens e cenários, tudo contribui para criar um mundo onde o bizarro é mundano e as doses certas de depressão, melancolia, opressão e urgência são estranhamente hipnotizantes.

The Legend of Zelda Majora's Mask 3D review 1Alguns podem estar receosos que as alterações deste remaster a caminhar para o remake magoem a mística do original, mas apesar das novidades trazerem bastante conveniência e haver ajudas opcionais para quem precisar, o jogo não é prejudicado e o espírito original mantém-se.

The Legend of Zelda: Majora’s Mask 3D é a derradeira versão do clássico da Nintendo 64, mais do que uma aventura para salvar o mundo, é um olhar único para a amizade, solidão e desespero.
Tem toques de Twin Peaks, Groundhog Day e Twilight Zone, mas é acima de tudo, um The Legend of Zelda absolutamente brilhante, e se isso não é um selo de qualidade, não sei o que é.

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