Análises

Xenoblade Chronicles 3D

Xenoblade Chronicles 3D, um exclusivo New 3DS, encontra-se num lugar estranho: é o cabeça de cartaz de uma revisão de hardware- os modelos originais da 3DS não têm cavalagem para correr o jogo- e ao mesmo tempo, é o gémeo mais feio (mas com efeito de profundidade!) do Xenoblade da Wii.

Ironicamente, foi o hardware limitado da Wii que acabou por levar a que Monolith Soft criasse um mundo gigantesco capaz de capturar a nossa imaginação e tempo, algo que se perdeu nos RPGs Japoneses com o salto para as consolas HD e os custos enormes que isso trouxe. E dentro desse mundo, com um sistema de combate e costumização de topo e uma banda sonora que escorrega que nem mel, Xenoblade Chronicles revelou-se um dos melhores JRPGs -e um dos melhores jogos- a sair nos últimos anos. Agora a Monster Games viu-se encarregue de passar o jogo para a New 3DS, tarefa que não deve ter sido fácil.

Xenoblade Chronicles 3D review 1Viajando no corpo de dois gigantes “adormecidos”, Bionis e Mechonis, exploramos locais deslumbrantes: planícies verdejantes, montanhas cobertas de neve, pântanos repletos de fogos-fátuos, lagos, minas e uma miríade de outras zonas fascinantes que andam entre o familiar e o alienígena.
Andar quilómetros e quilómetros, estranhamente não é aborrecido, há missões, pontos de experiência a ganhar por descobrir novos locais e vida selvagem, inimigos e itens espalhados por todo o lado, mas acima de tudo, a viagem é entusiasmante porque o mundo está brilhantemente desenhado, sendo a exploração a sua própria recompensa.

Robôs, religião, monstros, criaturas fofas, interesses amorosos e espadas lendárias; o escritor quis criar uma história semelhante a um anime Shonen e nesse sentido foi bem-sucedido. Com a nossa aventura a tomar proporções cada vez maiores e uma data de revira-voltas e temas provocantes a apimentar o enredo, é seguro dizer que se fizessem um anime de Xenoblade, eu via.

Também houve muito trabalho para dar vida às povoações, cada uma com dezenas e dezenas de NPCs (personagens não jogáveis) com rotinas e horários, pequenas histórias, relações com outras personagens e claro, missões alternativas para levarmos a cabo.

Xenoblade Chronicles 3D review 2As centenas de quests secundárias são maioritariamente semelhantes às que encontraríamos num MMO: apanhar x itens, matar x inimigos ou derrotar um monstro específico. Só por si, grande parte das missões não são particularmente interessantes, mas ao explorarmos o mundo, acabamos por cumprir os objectivos das quests e junta-se o útil ao agradável. Com isto dito, há várias quests bem feitas e com relevância para o desenvolvimento das personagens e do mundo.
Apesar de todo este conteúdo, Xenoblade faz um esforço para não ser obtuso, muitas missões completam-se automaticamente ao cumprirmos os seus objectivos em vez de nos forçarem a voltar ao NPC que nos deu a missão, podemos mudar a hora a qualquer altura e viajar instantaneamente para áreas já exploradas, havendo vários marcos para os quais nos podemos transportar. São pequenas coisas que facilitam imenso o processo de viajar e completar missões, tornando o jogo mais acessível.

O sistema de combate também tem as suas semelhanças com MMOs, uma vez iniciada a batalha, a nossa personagem ataca automaticamente, cabendo-nos a nós posicionarmo-nos bem e escolher que habilidades e ataques usar. Cada habilidade tem um período de “arrefecimento” onde temos que esperar para a usar outra vez e vários ataques têm efeitos diferentes de acordo com a nossa posição face ao inimigo.

Apesar de podermos assumir o controlo de qualquer um deles, os restantes membros activos da nossa equipa são controlados pelo computador, o que não faz com que o trabalho de equipa seja menos fundamental. É preciso formar uma equipa onde cada um tem algo a oferecer, ou seja, precisamos dos tanques, atacantes e personagens de suporte a trabalhar em conjunto e saber que efeitos de estado se encadeiam é indispensável para ter bons resultados. A habilidade da personagem principal ver o futuro por vezes deixa-nos antever um ataque inimigo, o que nos permite precavermo-nos. É um sistema de combate entusiasmante, rápido e cheio de estratégia.

Xenoblade Chronicles 3D review 3Aqui o ecrã pequeno traz as suas desvantagens, há muita informação na imagem ao mesmo tempo, o que pode ser confuso. O ecrã de baixo mostra alguns dados, mas a Monster Games podia ter aproveitado melhor o ecrã táctil para aceder mais facilmente a ataques e menus.

As personagens são altamente costumizáveis, não só escolhemos como evoluir as suas habilidades e combinar um sem-fim de armaduras e equipamento, como podemos apanhar e criar joias para encaixar lá e ganhar vários atributos que mudam drasticamente as personagens. Estes acessórios são essenciais para criar uma boa equipa e possibilitam um nível de customização altíssimo, no entanto quem não tiver para se chatear muito, safa-se perfeitamente com o básico.

Não se pode deixar de falar da incrível banda sonora, composta maioritariamente por Manami Kiyota e pela equipa ACE+, também há uma participação significativa de Yoko Shimomura, tendo ficado o tema fina a cargo do lendário Yasunori Mitsuda. Abrindo o jogo com um soberbo tema principal em piano e violino, a banda-sonora consegue passar sem esforço de música ambiente para uma peça épica de orquestra ou uma faixa heavy metal com aquela quantidade certa de queijo que só os Japoneses conseguem atingir. É difícil encontrar uma banda-sonora tão grande, tão variada e tão boa.

Quem já passou o original na Wii poderá não encontrar muitos motivos para jogar de novo um jogo que tem para cima de 60 horas, podendo ultrapassar as 100 facilmente e chegar perto das 200 para quem quiser fazer tudo. As únicas novidades são o visualizador de modelos 3D e o leitor de música, cujos conteúdos podemos desbloquear fazendo Street Pass, usando a amiibo do Shulk ou a usar Play Coins (as moedas que se ganham ao andar com a 3DS em standby).

Claro que ficam as novidades inerentes à plataforma, ou seja, o efeito 3D e acima de tudo, portabilidade. A verdade é que o jogo adequa-se extremamente bem ao formato portátil, é fácil pegar na 3DS, abrir a tampa e explorar um bocadinho ou fazer umas missões, algo que é muito bem-vindo quando não há muito tempo para acabar jogos com esta longevidade.

Não se perdeu muito na transição para a New 3DS, claro que tiveram que se fazer alguns sacrifícios gráficos para o jogo a correr na portátil, mas a Monster Games fez um excelente trabalho. Apesar da resolução mais baixa, num ecrã pequeno o jogo fica muito próximo do original, sendo a falta de anti-aliasing o maior problema. É de salientar que as imagens ou até os vídeos vistos num ecrã maior não fazem justiça ao jogo a correr numa New 3DS. O framerate é basicamente igual ao jogo da Wii, ou seja, é maioritariamente estável, com umas quedas aqui e ali quando a ação aperta mais.

Xenoblade é o JRPG que nos anos 90 se imaginava ser o futuro do género, mas que infelizmente nunca chegou a ser; é uma viagem fantástica por um mundo maravilhoso que nos faz sentir pequenos, mas aventureiros.
Xenoblade Chronicles 3D pode não ser a versão definitiva do jogo, mas não deixa de ser um dos melhores RPGs de sempre, agora no teu bolso; se não jogaste a versão Wii, é um jogo que não te deve passar ao lado.

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