Análises

The Witcher 3: Wild Hunt

Versão testada: PS4

Poderá ser um tanto provocador/exagero classificar o mundo deste jogo de tal maneira, mas após concluir a campanha do mesmo, podemos dizer que isto é um jogo sobre pessoas, feita por e para pessoas tal como elas são, sem qualquer tipo de pretensões a algum heroísmo. Vivemos num mundo povoado pela guerra e tal como outra qualquer época neste estado, os conflitos estão sempre à espreita, ao virar de cada esquina. Apesar de ser o terceiro jogo, é relativamente simples de nos pôr a par dos acontecimentos dos jogos anteriores se não os tivermos jogado, como foi o meu caso. Para além disso, existem determinadas decisões importantes no início do jogo que emulam as que foram feitas no jogos anteriores, mas é sempre aconselhado jogarem os anteriores se tiverem a chance, pois são bons jogos também.

É também outro tempo na CDProjekt Red. Aos invés das áreas mais contidas de jogos anteriores temos um mundo massivo/colossal para explorar. Se por um lado este é um novo projeto para a companhia, mostram também que os erros que muito facilmente acontecem noutros jogos de mesmo género são evitáveis, desde que não usem todo o espaço disponível para nos mandar em conteúdo filler, mas mais disso à frente. Ao mesmo tempo aproveitam para refinar elementos que há muito os jogadores se queixam, que necessitavam de ser melhorados, como o sistema de combate.

Tal como nos jogos anteriores somos Geralt of Rivia, um witcher, mercenário caçador de monstros. Na nossa aventura pelas várias localidades de Temeria vamos encontrar as mais diversas pessoas e criaturas, isto ao mesmo tempo que tenta-mos localizar Ciri, uma aprendiz de Witcher de Geralt, sua protegida. Não se enganem contudo, Geralt não é o típico herói que espera salvar o mundo de todos os males que o habitam. Nas variadas conversas que podemos ter com os npc’s que habitam o mundo podemos ver isso mesmo, isto para além de ser um homem que aprecia várias mulheres, e fiquemos por aqui.

O mundo onde a nossa aventura decorre está envolto em conflito, sendo que nós somos uma das forças que faz parte das peças de xadrez. Para além de nos aproximar do nosso objetivo a campanha principal tenta, nem sempre da melhor maneira, avançar com decisões que possamos tomar que influenciam de alguma maneira o decorrer dos acontecimentos à nossa volta. Certas decisões/rumos da campanha acabam por ser algo irónicas, isto em comparação com outros jogos, pois sinto que esta acaba por ser a menos conseguida no que toca a nos excitar e propulsionar para “desvendar-mos” o segredo do desaparecimento de Ciri. Acaba por ser o conteúdo adicional, o “resto” que podemos fazer no mundo que torna este jogo num RPG fora de série. A campanha acaba por se tornar a menos arrojada, apesar de nos encontrarmos com dos melhores personagens que me lembre num RPG, mas a sua estrutura para esticar determinadas secções, por vezes de nos levar a pouco ou lado nenhum, ou mesmo por se tornar ela própria num jogo de recados, leva a que se torne a menos interessante na sua viagem.

The Witcher 3 review 2À medida que exploramos os variados locais presentes pelo mundo vamos encontrar muitos que nos proporcionam aquilo que de melhor tem o jogo, combate e exploração. Imaginemos uma pequena aldeia no meio do nada que está a ser atacada por algum tipo de bandidos/monstros. Uma intervenção nossa pode mudar completamente o destino da mesma, mas ignorem e uma série de quests secundárias e outros possíveis tesouros podem simplesmente desaparecer. O sistema de diálogo anda também sempre à volta disto, portanto, escolhas têm sempre consequências, não sendo estas brancas ou pretas, nunca existindo algo que nos mostre se estamos certos ou errados, apenas escolhas e as variadas ramificações que elas trazem, que podem não ser imediatamente óbvias. No caso de decidir-mos salvar a aldeia somos “recompensados” com a possibilidade de poder ter mais quests das pessoas que para lá vão depois de passar o perigo. Mais equipamento, mais informação, mais personagens interessantes, são estas as consequências de um bom acto, ainda que mesmo após isso possam haver surpresas com quem vai para lá habitar.

Durante as nossas viagens encontramos o Gwent, que é provável que seja um dos mini-jogos de cartas mais viciantes que me lembro de ter jogado. À medida que exploram o mundo podem encontrar várias cartas, seja por as comprarem, seja por as encontrarem. Envolve uma espécie de vício de colecionar as cartas todas, lembrando Pokemon. O jogo em si é simples mas viciante, semelhante a Hearthstone, com estratégia envolvida em cada uma das vezes que usamos uma determinada carta, pois convém guardar as mais importantes para as nossas jogadas e turnos seguintes, uma vez que apenas temos direito a retirar do baralho uma mão. Acaba por ser um jogo dentro de um jogo, do qual podem facilmente retirar horas.

Isto leva ao conteúdo adicional que existe no jogo, que graças ao enorme mapa é mais que muito. É perfeitamente normal haver, em jogos de mundo aberto, missões que são única e exclusivamente lixo/filler, não tendo outro nome. Ir buscar o item X, matar um determinado número de monstros, dar recados a npc’s, enfim a lista é sobejamente conhecida por quem goste mais deste género de jogo. Neste jogo optou-se por dar grande foco às quests secundárias, ou seja, grande parte delas tem conteúdo e interesse que podiam facilmente ser integradas na campanha mais importante, com caçadas de monstros ou encontro de personagens que nos remetem para personagens ou eventos que ocorrem na campanha principal. Grande parte delas são encontradas nas placas de pedidos que existem nas variadas cidades espalhadas pelo reino, mas também quando nos deparamos com algum npc/evento pelo nosso caminho. Isto claro conduz ao mais clássico que um RPG pode ter, aceitar quests, matar monstros e bandidos, explorando as variadas masmorras, e claro apanhando o loot que todos gostamos para evoluir o nosso equipamento e consequentemente o nosso personagem.

Pelo caminho podemos, e devemos, dar uso ao nosso modo de detetive, chamado de witcher sense, que com o pressionar de um botão nos indica pistas de como chegar a um determinado ponto, acabando por ser uma maneira inteligente de nós descobrir-mos o rumo, ao invés das intermináveis conversas com npc’s, que podem ser bastantes e longas.
Resumindo, o vosso tempo nunca irá ser perdido se optarem por sair do caminho que pensam ser o principal, pois haverá sempre conteúdo de qualidade para nos recompensar o tempo de exploração, inclusive esquemas para que possamos fazer craft de armas e armaduras.

The Witcher 3 review 3Mas o que seria de todo este conteúdo fora do nosso caminho se não tivéssemos uma boa maneira de interagir com o jogo? leia-se o combate, que apesar de não ter grandes alterações face a jogos anteriores foi refinado para que possa ser mais imediato, mais simples de usar, apesar de ser recomendado sempre pensar e planear antes de nos enfiar-mos numa batalha. Geralt usas duas espadas, uma dita normal, de aço, e outra de prata, sendo que a primeira é mais eficaz com embates com humanos e a segunda contra as variadas criaturas que encontramos.

Existe uma combinação de ataques leves e fortes que podemos fazer, numa espécie de dança mortal que Geralt faz. Atacar repetidamente sem pensar no timing dos nossos ataques dá muitas vezes mau resultado, pois não é fácil dar conta de packs de inimigos por vezes, sendo que podem sempre tentar defenderem-se com a espada, ou mesmo tentar fazer parry no momento ideal. É um combate extremamente visceral, pois se um inimigo estiver perto de morrer podem executar um finisher, que muda a perspectiva de camera, para nos dar uma melhor visão da cabeça ou braço que acabaram de decepar de um inimigo. É um sistema de combate corpo a corpo bastante recompensador, com esquiva e rolls para nos ajudar, e que é sem dúvida muito competente e que dá gozo usar, o que não pode se dito de outros jogos de mundo aberto infelizmente. Não é ação pura e dura, envolve estratégia e planeamento, como um jogo de xadrez, onde antecipamos os movimentos seguintes para melhor nos preparar.
Existe um problema de deteção dos ataques por vezes, normalmente nos fortes, mas nada de substancial. O outro pequeno detalhe menos bom é que determinadas animações de combate demoram algum tempo a executar o movimento, a tal dança antes de um ataque, mas felizmente é apenas em poucos ataques, pois por vezes isto faz com se falhem alguns golpes.

Temos ainda magia, signs, bombas e poções que podemos utilizar para nos ajudar, que diversificam as nossas opções nos confrontos. Com o pressionar de um botão podemos usar um poder de fogo, barreiras protectoras contra dano, ou ainda algo para desorientar os inimigos através de um push/confuse. As poções requerem que encontrem os materiais necessários para as poderem fazer, como tal o witcher sense referido atrás é uma boa maneira de os localizar. Estas podem ir da habitual regeneração de vida, ao maior dano infligido pelas vossas espadas, sendo que é possível de as usar durante as batalhas. Existe, no entanto, um nível de toxicidade ao qual têm que estar atentos, pois se as usarem demasiado, dano começa a ser feito no nosso personagem, sendo uma maneira de limitar o seu uso, pois algumas delas são bastante potentes.

Acaba por nos dar boas escolhas na nossa evolução do nosso personagem, que nunca pode ser levado até ao máximo de todas as habilidades. Para complementar este nosso arsenal temos ainda a nossa besta, que apesar de ser muito específica, pode ser útil numa variedade de situações, como por exemplo inimigos que voam, dando dano crítico com muita facilidade, proporcionando ainda mais variedade ao combate, tornando-o uma das melhores coisas do jogo.

The Witcher 3 review 5Se há algo a que esta produtora nos habituou foi a jogos bastante bonitos e de competência técnica acima da média. Nunca deixa de ser impressionante o que este jogo tem para nos mostrar neste aspeto. Desde o vento a ondular todas as árvores, às enormes planícies que vislumbramos, ao fantástico mar, no qual podemos usar um pequeno barco para navegar entre ilhas. A versão das consolas, especificamente a jogada, PS4, tem aqui provavelmente o próximo benchmark a bater no que toca a imersão num jogo deste género. Não é necessário ter milhares de npc’s, ou simplesmente ter as regiões mais distintas. É necessário sim ter um mundo que pareça credível, não apenas no aspeto, mas que pareça que podia ter existido, coeso, real se quiserem, que dê prazer de atravessar, cheio de vida selvagem, e claro, de perigo também.

Podíamos ainda falar no ciclo dia-noite, das excelentes expressões faciais, do excelente diálogo (que convém prepararem-se para levar com praguejar constante), das animações de combate, enfim estaria aqui mais uns parágrafos para descrever o quão bom é o jogo neste aspeto, mas prefiro que cada um tenha a experiência por si.
Nem tudo são rosas é certo, com alguns loadings mais demorados após morrerem, e bugs que são características de jogos do género, como personagens a desaparecer e um ou outro bug de colisão. Às vezes os frames não conseguem responder à medida das situações mais exigentes, mas acabam por ser pormenores num estrondoso feito que é este jogo a nível técnico.

No final de muitas horas de jogo, porque o jogo nunca está realmente acabado, acabou por ser o conteúdo extra, o que está fora do nosso caminho, aquele pelo qual temos que ir procurar, que me prendeu mais. A nossa procura por Ciri tem o final de alguma maneira esperado, e Geralt, segundo a produtora, tem a sua derradeira final mission, para parafrasear outro herói.
Não tenho dúvidas que é um dos melhores RPG presentes na PS4, e em qualquer plataforma, e está aqui com certeza um dos melhores jogos do ano.
Mais uma vez a CDProjekt Red mostrou que não basta ter uma premissa de algo grandioso, tem que se realmente concretizar aquilo que se promete, e desta vez o conteúdo, todo o conteúdo, é de tal qualidade que vai ser difícil voltar às velhas missões de colecionáveis que apregoam tantos jogos, isto para nos dar conteúdo “extra”. Absolutamente essencial, é a classificação que dou ao jogo.

Veredito

Nota Final - 9

9

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