Análises

N++

Versão testada: PS4

A ideia e conceito de N++ são bastante simples, infinito. Se ao primeiro poderá parecer bastante condescendente imaginar um jogo que nunca acaba, é só após o jogar que nos apercebemos de quão simples e engenhoso, e sobretudo extremamente bem executado, é este jogo.
Se por um lado temos jogos que nos presenteiam, ou almejam, sempre com uma experiência diferente, através níveis/masmorras geradas aleatoriamente, aqui esse conceito não existe.

Aqui temos um simples jogo de plataformas em 2D, que nos diz o seguinte: temos mais de 2000 níveis para serem jogados, agora peguem no comando e divirtam-se. Parece um pouco ridícula a noção de ter tantos níveis num jogo, uma vez que quem é que irá jogar tanto nível, mas cedo nos apercebemos que a estrutura do jogo, para além deste aspeto do conteúdo, vai muito mais longe, tornando o jogo extremamente longo, para não dizer… infinito.

Esta seria a parte em que eu começaria por descrever o quão simples e básica seria a história mas que cumpre o seu papel, em como teríamos que procurar a nossa princesa noutro castelo, ou mesmo ajudar o nossa estimado companheiro, agora vilão malvado, a recuperar a memória. Tudo clichés já vistos e revistos em muitos jogos.
Pois bem, esqueçam tudo o que acabei de dizer, pois não existe nada disso neste jogo. O jogo vive e “respira” unicamente aquilo que se propõe fazer, plataformas.

Têm, se quiserem, um menu no jogo intitulado história, que tem um quantos parágrafos sobre as habilidades do ninja, e o seu código de honra, que é o nosso avatar, mas que cedo se esfumam do nosso cérebro após recuarmos no menu, porque isso literalmente não interessa.
Uma vez que não estamos aqui para ler texto ou mesmo para observar o desenrolar de uma história qualquer, através de intermináveis cutscenes ou QTE, saltamos de imediato para o que interessa, a jogabilidade. Um jogo de platforming, num plano 2D, que foca o seu aspeto na execução, timing e precisão. Estes 3 aspetos são o mais importante, quanto a mim, que o jogo tem, e que normalmente um jogo deste género necessita de ter.

N++ review screenshot 1Um dos aspetos mais importantes de um jogo de plataformas são os seus controlos. É impossível ter uma boa experiência, recompensadora, e que se sinta que nós estamos no controlo quando os comandos não colaboram. Felizmente o caso aqui é execução excelente. Tudo é bastante fluído e responsivo, não havendo ocasiões onde tenha sentido que o avatar tenha feito algo que não queria, ou sobretudo, não o tenha feito a tempo.

O outro aspeto que merece destaque na execução são os níveis. Sim, temos toneladas deles, mas serão todos iguais? Não. Quer dizer, o objetivo será sempre o mesmo, terminar cada um o mais rápido possível, apanhando os colecionáveis (mais sobre isto à frente), se quisermos.
É possível acabar muitos deles em meros segundos, o que significa que poderão terminar um conjunto deles apenas em algum tempo, mas nunca os completar, porque isso é onde começa o verdadeiro jogo. A melhor comparação que posso fazer é com o jogo Trials, onde podemos terminar pistas com relativa facilidade, mas é só depois, quando começamos a querer melhorar as nossas pontuações/ser mais rápidos que as coisas começam a fazer sentido, e onde podemos ver que os níveis são diferentes, bastante exigentes, mas sempre bem executados, tornando a experiência muito boa e viciante. Não deixam claro de haver umas ovelhas negras pelo meio, o que dada a quantidade que temos é normal.

São por vezes mais desafio que do nível, pois para além de os terminar também o tentamos fazer da maneira mais rápida e eficaz. A estrutura deles está dividida em episódios, cada um com 5 níveis cada. Para ter uma ideia, o tutorial tem 25 episódios, sendo que cada deles tem 5 níveis, que podem ser jogados individualmente. Dá para perceber porque é que a iniciação ao jogo me demorou mais de sete horas. Não deixa de ser um aspeto muito importante, pois a curva de dificuldade é muito bem ajustada para nos dar o incentivo para completar os níveis, sem ter ainda os momentos de arrancar os cabelos como alguns níveis mais avançados têm.

N++ review screenshot 2Há uma diferença fundamental em como é este jogo é controlado, e é talvez o aspeto mais diferenciador do jogo. Toda a jogabilidade se foca no impulso que ganhamos dependendo do formato dos níveis, simplificando, velocidade. As rampas e vários desníveis que o jogo tem, proporcionam impulso para que saltos mais altos e saltos na parede permitam chegar a partes inacessíveis com um salto normal, mas sempre feitos com o mesmo botão. O nosso avatar tem peso, e isso nota-se durante os vários saltos que fazemos, o que poderia tornar a jogabilidade menos responsiva, mas nunca chega a acontecer pois a física aplicada à jogabilidade está executada de forma exemplar.
A estrutura dos níveis é bastante simples, começamos numa porta, que se fecha, e temos que encontrar a chave para a abrir para que possamos avançar. É só mais tarde quando temos imensos obstáculos pelo caminho que as coisas ficam deveras insanas, e de que maneira, pois tal como qualquer jogo do género a precisão dos nossos comandos é essencial.

Outra parte importante da jogabilidade é o ouro. Espalhados pelos níveis estão sempre pequenos quadrados de ouro, que uma vez apanhados permitem alongar o tempo que temos disponível para acabar os níveis. Este é o grande incentivo para completar os níveis, ou seja, para além de melhorar a nossa pontuação, permite por vezes descobrir técnicas mais avançadas de controlar o personagem, para além de ser extremamente recompensador completar um nível com todos os itens.
A outra face da moeda é que fazê-lo faz disparar a dificuldade do jogo, por vezes para níveis de frustração enormes, mas tal como outros jogos, a recompensa é de tal maneira gratificante que dominar um nível intransponível ainda momentos antes, e terminá-lo em segundos com tudo apanhado, se torna eufórico.

N++ review screenshot 3Visualmente o jogo é simples e bastante colorido, mas graças à customização que é possível, a experiência pode ser única a cada um, apenas com o pressionar de botão. Se virem uma imagem do jogo com uma determinada palete de cores, saibam que esta pode ser mudada. À medida que vão jogando, podem mudar completamente a experiência que vão tendo nos níveis pela simples mudança de cor. Fundo branco com destaques em azul, fundo preto com destaques em laranja, fundo rosa… enfim as possibilidades vão aumentando pelo simples acto de jogar, desbloqueando mais opções, mas nem todas elas ajudam por vezes a discernir melhor o cenário. A barra de luz do comando vai acompanhado as diversas paletes de cores o que dá sempre um extra à imersão. Tecnicamente corre a 60 fps, sem qualquer tipo de quebras e sempre fluído nos controlos.
Os menus foram também alvo de grande atenção, dando um ar high tech, podendo mesmo ser confundidos com algo que se encontraria em WipEout. Apesar de algum ou outro bug na disposição das tabelas de pontuação, não há aqui nada a apontar.

Os inimigos também tiveram direito a tratamento visual único, lembrando alguns deles os de Pacman, ou mesmo fugir da nossa própria sombra. Apesar de alguns terem ataques teleguiados com uma precisão quase cirúrgica, muitos dos seus encontros fazem parte do processo de completar os níveis, não de os terminar.
A música a acompanhar é também ela de certa forma ao nosso gosto, pois podemos escolher, apenas com alguns toques em botões uma à nossa medida. Jazz, Techno, Pop entre outros estilos musicais compõem a banda sonora, combinando muito bem com todo o estilo que o jogo tem. Mais de 6 horas de música estão presentes, proporcionando um festim sonoro muito completo, mesmo nos momentos de mais frustração.

N++ review screenshot 4Feita a descrição do que compõe o jogo é notório que há muito pouco, ou praticamente nada, a apontar a este jogo. Talvez a ausência de online seja importante mencionar, uma vez que o seu antecessor a tinha, mas independentemente das razões, não falta conteúdo para explorar. Desde a “campanha”, ao modo de co-op local, ao modo de corrida, temos centenas de níveis para dominar mantendo o lado competitivo sempre aceso graças às tabelas de pontuação. Uma vez isso feito, temos ferramentas para prolongar ainda mais a experiência, um editor de níveis, que nos dá a possibilidade de criar e partilhar as nossas criações com o mundo.

São raros os jogos onde podemos apontar que todos o seus elementos são executados de forma exemplar, mas depois de várias horas de jogo, sem ainda ter terminado, ou melhor, sem ter completado todos os níveis, a Metanet fez uma pérola digna dos melhores jogos do ano. Estes anos todos de espera valeram a pena, e vai ser muito difícil suplantar a excelência que este pacote tem.
No meio de toda a frustração que alguns níveis proporcionam, a jogabilidade sublime baseada em física combinada com o estilo visual muito próprio tornam este jogo absolutamente obrigatório para quem gosta de um bom desafio em 2D, culminando numa experiência polida até ao limite.

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