Until Dawn

Versão testada: PlayStation 4

Antes de mais nada, tenho uma confissão a fazer. Eu tinha plena consciência de que tipo de jogo Until Dawn era. Tendo jogado Heavy Rain, Beyond: Two Souls e grande parte dos jogos da Telltale, não tinha qualquer problema com o estilo de jogabilidade aqui presente. Mesmo assim, não estava preparado para aquilo que me esperava. Se na superficie Until Dawn parece uma simples cópia de filmes slasher clássicos, um olhar mais atento revela uma maior profundidade.

Tal como os filmes slasher onde a Supermassive Games foi buscar inspiração, o prólogo de Until Dawn é simples. Um grupo de dez amigos junta-se numa retirada de inverno numa estância de ski em Blackwood Mountain. Mas uma partida corre mal e acontece um horrível acidente; duas pessoas do grupo desaparecem. Um ano mais tarde, os oito membros do grupo reúnem-se novamente no mesmo sítio para prestar homenagem aos dois amigos desaparecidos. Só que desta vez, dão de caras com uma companhia indesejada e vêm-se perseguidos por um psicopata. No entanto, a escuridão esconde outros perigos. Este é o mote para a noite mais longa destas personagens.

Until Dawn vai beber inspiração a filmes slasher como “Psycho”, “Friday the 13th”, “Screams” e “I Know What You Did Last Summer”, como tal, podem esperar um diálogo forçado e exagerado, e uma enorme quantidade de clichés. Mas Until Dawn não esconde as suas origens e usa isto a seu favor para criar uma narrativa interessante, e personagens com uma evolução notória ao longo da aventura. Na primeira metade, o jogo tem um estilo tipicamente slasher enquanto que na segunda metade passa a ter um estilo mais survival horror. Existem alguns “jump scares” espalhados ao longo do jogo, mas a grande maioria da tensão vem de atmosfera sombria extremamente bem realizada.

A principal funcionalidade presente em Until Dawn é o “efeito borboleta”, ou seja, a capacidade que o jogo tem de se adaptar ás escolhas do jogador. A jogabilidade está na linha de Heavy Rain, nomeadamente na forma como o jogador consegue controlar livremente a personagem pelos cenários e como as decisões são feitas via QTE (Quick Time Event). Mas as decisões em Until Dawn, mesmo que inicialmente pareçam simples e pouco importantes, podem ter consequências marcantes na história como, por exemplo, resultar na morte de uma personagem.

Aquilo que decidirem nem sempre tem impacto imediato, podendo deixar o jogador na expectativa durante alguns capítulos. Posteriormente, as decisões e consequências ficam registadas no menu de forma a que o jogador possa ver o que é que causou determinado resultado.

No entanto, não esperem uma história completamente diferente dependendo do “efeito borboleta”. Tal como em Heavy Rain ou nos jogos da Telltale, existe em Until Dawn uma linha condutora. Afinal de contas, se todas as personagens pudessem morrer nos primeiros capítulos, o jogo não faria um bom trabalho a contar a história. A diferença para com os exemplos mencionados é que Until Dawn oferece uma maior variação em termos de eventos, diálogos e interação entre as personagens consoante as decisões efetuadas.

Uma mecânica interessante, e cuja inspiração foi retirada do filme “Final Destination”, é a introdução de premonições. Ao longo dos cenários existem vários colecionáveis que dão informação adicional sobre Blackwood Mountain e pistas sobre a identidade do psicopata. Mas também existem uns colecionáveis chamados Totems; pequenas figuras de madeira que oferecem um vislumbre sobre algo que poderá acontecer no futuro. Estas premonições tanto podem mostrar uma possível ação positiva como podem mostrar a morte de uma personagem.

Dependendo do tempo que percam a explorar os cenários e a ler as pistas, a campanha pode durar entre 8 e 10 horas. Mas devido ao “efeito borboleta” e ao incentivo que isto dá para repetir o jogo e ver outros possíveis eventos, a duração potencial que Until Dawn oferece é bastante maior. De referir também que, caso não sejam grandes fãs de controlos de movimentos, podem utilizar controlos tradicionais para movimentar as personagens e fazer as escolhas.

Mas a história só é tão boa e os diálogos das personagens só são tão credíveis quanto os atores escolhidos, e neste aspeto, o jogo está bem servido. Entre o elenco original encontram-se Hayden Panettiere, Brett Dalton, Rami Malek e Peter Stormare, enquanto que o elenco português inclui os atores Jessica Athayde, Pedro Teixeira e Rui Porto Nunes. O elenco original faz um excelente trabalho a transmitir o tom certo tipicamente presente nos filmes do género slasher; aquele tom exageradamente dramático misturado com algum humor. O elenco português é competente a entrar no papel destas personagens, mas admito que achei mais normal e natural o elenco original.

Tendo em conta o género de jogo que é Until Dawn, a banda sonora tem a extrema importância de transmitir tensão e horror. Não sendo novo nestas andanças, Jason Graves fez um grande trabalho e a banda sonora é irrepreensível na sua função.

Until Dawn foi anunciado originalmente para a PS3 em 2012, e é de notar as grande evoluções gráficas que o jogo teve ao longo dos anos na sua passagem para a PS4. Os cenário são bem detalhados, o sistema de iluminação acentua a atmosfera sombria, e os modelos das personagens são bastante realistas. No entanto, as animações faciais não são assim tão impressionantes como em outros jogos. Para além disto, de vez em quando existe alguma quebra de fluidez, embora acabe por não ter um impacto negativo na jogabilidade.

Until Dawn é uma parte sério, uma parte exagerado e completamente cliché, mas de uma forma brilhante. Do inicio ao fim, o jogo transborda atmosfera e tensão, e usa a sua inspiração nos filmes slasher para seu próprio beneficio. Bem escrito, com uma boa atuação e direção, e mais ambicioso do que inicialmente deixa antever, Until Dawn é uma grande experiência cinemática de horror em forma de videojogo.

Nota editorial: Cópia fornecida pela PlayStation Portugal para efeitos de análise.