Análises

Metal Gear Solid V: The Phantom Pain

Versão testada: PS4

Metal Gear Solid V The Phantom Pain marca definitivamente o fim de uma era, pois apesar de a série poder continuar caso a Konami assim o deseje, as pessoas mais importantes como Hideo Kojima, já não estarão envolvidas no projeto. Mas este título também representa um novo inicio, pois Phantom Pain leva a série para caminhos que até agora nunca tinha percorrido. Ambição é algo que não falta.

Phantom Pain começa nove anos após os eventos de Ground Zeroes. Big Boss e o seu grupo Diamond Dogs irão procurar vingança contra o responsável que levou a Mother Base à destruíção. Há muito mais para revelar, mas para não estragar a surpresa a ninguém, não irei falar mais sobre detalhes específicos da história. No entanto, há uma coisa que vou dizer. A primeira missão, ou seja, o prólogo, é surreal e algo tipicamente Metal Gear.

Como seria de esperar, Phantom Pain é um título pensado para os fãs que estão familiarizados com o lore da série Metal Gear e que estão habituados às maluquices do Kojima. Os novatos terão bastante dificuldade em apanhar todos os pormenores da história, e até certos acontecimentos importantes poderão passar despercebidos.

MGSV The Phantom Pain review screenshot 2Comparativamente a títulos anteriores da série, Phantom Pain tem consideravelmente menos dialogo e as personagens têm uma menor exposição. E é exatamente isto que torna Phantom Pain num mau Metal Gear. Devido á forma episódica como o jogo está estruturado, não existe uma evolução natural narrativa e as personagens não têm o devido destaque. Isto também significa que momentos com “kojimice” são poucos e bastante afastados uns dos outros.

Esta estrutura é totalmente intencional, e tem como objetivo mostrar o reerguer da força militar de Big Boss e a construção da sua lenda como soldado, ao mesmo tempo que debate com os seus próprios demónios. O jogo quase que obriga o jogador a ouvir as dezenas de cassetes que se vão encontrando ao longo da campanha, pois são elas que vão dar a informação que não é dada nas missões principais. Sem elas, é extremamente difícil conseguir compreender tudo o que se passa.

A certa altura, Phantom Pain tem uma grande reviravolta na história. É algo que poucas pessoas vão conseguir prever, e é possível que alguns fãs não gostem do que vão ver. Mas é interessante reparar como os acontecimentos de Phantom Pain se vão ligar ao primeiro Metal Gear, e o impacto que isto tem no resto da linha temporal da série.

Mas mesmo sem o foco esperado na história, Phantom Pain é um jogo excepcional graças à jogabilidade. Neste aspeto, este é o melhor Metal Gear de sempre. Apesar de utilizar o mesmo tipo de controlo de Ground Zeroes, Phantom Pain oferece muito mais liberdade na forma de abordar as missões. A quantidade de itens à nossa disposição, juntamente com o uso dos buddies, permite um improviso que até agora não era possível.

MGSV The Phantom Pain review screenshot 3Para ter todas as ferramentas disponíveis, é preciso investir da evolução da Mother Base. Esta base de operações é extremamente importante na hora de criar um vasto arsenal de armas e acessórios. Para isso acontecer, têm de adquirir mais pessoal das missões usando o Fulton Recovery Device. Isto vai extrair os soldados inimigos via balão, e posteriormente, vão se juntar à nossa causa. Cada soldado tem as suas próprias habilidades, e cabe ao jogador atribuir cada um à área que melhor se adeque às suas características. À medida que as instalações vão evoluindo, novas armas e acessórios vão ficando disponíveis para aquisição.

Este sistema já estava presente em Peace Walker, mas é mais rico em Phantom Pain devido à dimensão das áreas. Afinal de contas, trata-se de um open world. As áreas que iremos explorar são vastas, cheias de desafios e rotas alternativas. As próprias missões são bens construídas e incentivam que o jogador observe e planeie bem as suas ações. Pelo caminho, há sempre a possibilidade de usar os Fulton para adquirir mais pessoa, armas de grande calibre, contentores de materiais, e veículos.

Para além das missões principais e secundárias, existem missões que podem ser feitas pelos soldados que fomos extraindo ao longo do jogo. Estas missões são mais uma boa fonte de dinheiro (GMP), recursos, e de pessoal. No entanto, há que ter atenção às estatísticas, pois enviar pessoal abaixo do nível indicado, pode significar a perda de alguns soldados. Mas como tudo neste jogo, existe uma boa relação entre risco e recompensa.

Uma outra adição comparativamente a Ground Zeroes é a implementação de buddies. Não tenham dúvidas, isto afeta aquilo que é possível fazer durante uma missão. A função dos buddies é acompanhar o Big Boss ao longo das missões e oferecer suporte especifico. Só é possível ter um buddy ativo em missão de cada vez, mas temos a opção de trocar de buddy durante o desenrolar da missão quantas vezes quisermos. Cada buddy tem a sua própria função; por exemplo, o D-Horse dá mais mobilidade, o D-Dog indica a posição dos inimigos e das plantas, a Quiet pode reconhecer o terreno em busca de inimigos e pode matar à distância, e o D-Walker oferece poder de fogo adicional e alguma mobilidade extra.

MGSV The Phantom Pain review screenshot 6Cada buddy assenta num estilo de jogo especifico, e escolher um buddy em detrimento de outro significa sacrificar alguma coisa em troca. Mas o mais interessante na forma como isto foi implementado, é que não existe um buddy que possa ser considerado demasiado forte ou que “quebre” o jogo. Por exemplo, o D-Dog consegue marcar automaticamente os inimigos, o que é algo extremamente útil, mas sempre que o escolho, sinto falta da segurança que a Quiet oferece por conseguir tratar das ameaças à distância de forma eficaz. Não existe uma forma ideal de jogar, e isto é muito bom.

Mas estes não são os únicos elementos que tornam a jogabilidade tão boa. Phantom Pain é um jogo stealth, e como tal, está dependente da IA dos inimigos. Felizmente, a IA dos soldados inimigos é bastante sofisticada. Patrulhas constantes, várias torres de vigia, e snipers bem colocados tornam as missões bastante desafiantes. Aliás, os guardas em patrulha conseguem ser bastante imprevisíveis. Ora num momento estão a fazer o seu caminho normal, ora voltam para trás para ir falar com um companheiro, ou então, simplesmente vão fazer uma sesta.

Mas se forem descobertos, eles não vão desistir facilmente da procura, e vão lançar flares para o ar, chamar reforços de outros outposts, e suporte aéreo. Um bom pormenor é o facto de os guardas inimigos se adaptarem ás táticas dos jogadores. Por exemplo, se utilizarem frequentemente a arma tranquilizadora para dar headshots, eles vão passar a usar capacetes. E se fizerem as missões frequentemente à noite, vão passar a usar óculos de visão noturna.

Existe tanta coisa a ter em atenção na hora de fazer uma missão que, eventualmente, até os jogadores mais cautelosos vão ser apanhados desprevenidos. Phantom Pain é um jogo que requer uma grande capacidade de improviso, e são estas decisões que podem ser a diferença entre o sucesso e o fracasso de uma missão. Mesmo após 60 horas de jogo, Phantom Pain ainda consegue surpreender devido às situações imprevistas que pode criar.

Enquanto Metal Gear Online não chega, o único modo online disponivel é o Forward Operating Base (FOB). Neste modo, o jogador pode criar uma base opcional, aumentando assim o influxo de recursos e facilitando a evolução da Mother Base. Mas esta FOB é uma base online, e como tal, pode ser invadida por outros jogadores para tentar roubar recursos e soldados. Estes duelos assimétricos são feitos 1 vs 1, e oferecem uma enorme dose de tensão.

A forma como as invasões decorrem vão depender de quão boas são as defesas das bases. Isto torna importante extrair artilharia pesada durante as missões para aumentar o nível de defesa da FOB, mas ao mesmo tempo, coloca mais material em risco de ser roubado durante uma invasão. Colocar os nossos melhores soldados na defesa da FOB, significa retirar pessoal importante para desenvolver novas armas e equipamento. Este é mais um aspeto do jogo onde todas as decisões têm consequências. De referir que as invasões podem acontecer mesmo não estando no jogo, reforçando ainda mais a necessidade de ter uma base com boa segurança. Em contrapartida, os recursos da FOB são independentes da Mother Base. Se tiverem um soldado com boas estatísticas que não querem correr o risco de perder, podem deixá-lo em segurança na Mother Base.

Mas este modo, por muito interessante que seja, também tem um lado um tanto ou quanto duvidoso. Microtransações são sempre um tema muito discutido, e parece que é algo que vai continuar a ser. Quando mal implementadas, as microtransações conseguem estragar a economia de um jogo por propositadamente adiarem o mais possível a evolução do jogador. Mas quando são bem implementadas, funcionam apenas como uma opção para aqueles que não têm ou não querem perder tanto tempo.

A primeira FOB é gratuita, mas caso queiram mais bases, terão de usar MB Coins. Estas MB Coins só poderão ser adquiridas usando dinheiro real, ou através do bónus de log in. Mas existe um enorme desequilibro entre o que nos é oferecido e o preço de uma segunda base. O bónus de log in pode ser, por exemplo, 30 MB Coins, mas uma segunda FOB custa mais de 1000 MB Coins. Se optarem por não comprar pacotes de MB Coins com dinheiro real, vão demorar muito tempo até conseguirem construir mais FOB. É verdade que não é necessário ter várias FOB. Aliás, este modo online é completamente opcional, mas não o utilizar, só irá aumentar o grind necessário para colocar a Mother Base no máximo. Neste aspeto, o jogo está mais pensado para “incentivar” o jogador a gastar dinheiro real em mais bases.

MGSV The Phantom Pain review screenshot 8Correndo o risco de ser óbvio, Phantom Pain é um jogo graficamente surpreendente, não só pela qualidade visual e atenção ao pormenor, mas também porque corre a 60 FPS na atual geração de consolas. Ainda para mais, podem contar com transição dia/noite e condições climatéricas. A Kojima Productions perdeu muito tempo a otimizar o motor de jogo, e isso reflete-se positivamente no jogo final.

Em essência, Phantom Pain é um mau Metal Gear, mas um grande jogo stealth e um excelente título sandbox. Sim, existem outros títulos sandbox com um mundo maior para explorar, mas devido à quantidade de opções dadas, Phantom Pain é aquele que realmente mais incentiva a que o jogador se adapte e improvise consoante a situação. O foco reduzido na história vai desapontar a maioria dos fãs da série, mas este é indiscutivelmente uma adição significativa a esta lendária série.

Veredito

Nota Final - 9

9

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