Análises

Devil’s Third

Uma das cenas iniciais do Devil’s Third parece prometer um jogo muito tongue in cheek: um Russo careca de óculos de sol e com os músculos cobertos de tatuagens toca um solo de bateria na sua cela privada num piso subterrâneo de Guantanamo Bay. Parece parvo o suficiente. Se o single-player seguisse esse linhas talvez fosse bem mais divertido, mas o resultado final é um shooter genérico e insípido que se destaca apenas por combinar mecânicas de tiro com componentes hack and slash.

Devil’s Third E3 2014 screenshot 2Podemos disparar na primeira e terceira pessoa ou usar espadas, facas, martelos e afins num violentíssimo combate corpo a corpo onde cortamos, esquartejamos ou esmagamos os inimigos. Se estavas à espera de um sistema de combate profundo por se tratar de um jogo de Tomonobu Itagaki, o criador de Ninja Gaiden, podes tirar o ninja da chuva.
É um sistema que tem muito pouco debaixo da superfície apesar de ter os seus momentos, esquece combos longos e uma data de ataques, há pouco mais a fazer do que malhar nos botões de ataque leve e forte, desviar, atirar a espada ou fazer um gigantesco salto que nos lança contra um inimigo, quase sempre matando com um golpe.
Por vezes, limpar uma sala cheia de inimigos com velocidade e brutalidade consegue trazer ao de cima algo de promissor, mas o sistema de combate acaba por ser demasiado simples e pouco fluído para brilhar.

Já no lado das armas de fogo, Devil’s Third não tem absolutamente nada digno de nota, é uma mistura genérica de cover-shooter com FPS, altamente prejudicada pela falta de controlos giroscópicos e por ter uma zona morta demasiado grande nos analógicos para nos permitir apontar bem, como se apontar com analógicos não fosse castigo suficiente.

De facto, há muito pouco de interessante no single-player de Devil’s Third, o combate, câmera, ritmo de jogo, história, gráficos e música andam entre o pobre o medíocre, tendo apenas alguns momentos inspirados como o nível passado num bordel Japonês, o único sítio que consegue mostrar alguma inspiração artística.

Devil’s Third E3 2014 screenshot 8Felizmente, o jogo não vive só do modo de história e é no online que Devil’s Third se redime um pouco.
Há uma série de ideias engraçadas e diferentes do habitual, podemos escolher lados na guerra ou até trabalhar como mercenários e depois de entrar num clã podemos participar em invasões, fortalecer a nossa base com armas especiais ou combinar combates com os outros clãs, entre outras coisas. É um sistema muito completo que ajuda a criar um sentido de comunidade e incentiva os jogadores a ligarem-se regularmente.
As micro-transações mostram a sua cara feia na forma de Golden Eggs – um nome aptamente escolhido- que servem para comprar acessórios para as armas e roupa, mas é fácil ganhar estes ovos à medida que se joga sem ter que pagar por eles, por isso não é um problema.

Além das típicas batalhas em equipa ou todos contra todos, também há modos sem armas de fogo e outras ideias originais como ter que apanhar galinhas ou atirar fruta para uma misturadora para fazer pontos. São modos engraçadíssimos e uma mudança de ritmo muito bem-vinda.

Já em combate, o que se destaca mais é a agilidade das personagens e a complexidade e verticalidade dos mapas, bem mais completos do que o habitual nos típicos jogos de acção online. Há vários caminhos, esconderijos, escadas, escritórios, torres, pontes, montanhas e uma data de outros elementos que em conjunção com o super parkour de que a nossa personagem é capaz tornam o movimento pelos mapas muito fluído e adaptável.

Devil’s Third E3 2014 screenshot 5Apesar do sistema de combate precisar de bastante trabalho e apontar com analógicos ser tão preciso e rápido como conduzir um camião TIR sem volante e com vários pneus furados, há alturas em que nos sentimos verdadeiros ninjas.
A velocidade com que disparamos, cortamos, deslizamos, saltamos, trepamos, matamos e somos mortos enquanto corremos pelos bem desenhados mapas é sem dúvida o ponto forte do jogo, mostrando aqui potencial para muitas horas bem passadas.

Para jogar uma partida assim divertida é preciso uma sala bem composta uma vez que os mapas são feitos para 16, claro que antes do jogo ter sido lançado era impossível encontrar uma sala populada, por isso as partes boas do jogo não vieram ao de cima. Depois de o jogo ter saído consegui encontrar algumas salas cheias ou quase e aí vi aquele multiplayer que parecia tão divertido nos trailers. A questão aqui é: durante quanto tempo é que as salas vão durar até ficarem desertas?

Se o single-player abraçasse mais o seu lado filme de acção série B podia ser mais cativante, se o sistema de combate fosse mais trabalhado seria muito mais empolgante, se o framerate fosse estável perdoavam-se os gráficos pobres, se as bases do jogo fossem mais fortes o multiplayer era mais apetecível.
Os “ses” não servem de nada e Devil’s Third é o que é: um jogo a evitar se for apenas para jogar sozinho, oferecendo pouco mais que alguns momentos de violência gratuita satisfatórios, mas uma experiência online potencialmente divertida, com alguns méritos e boas ideias, apesar de precisar de alicerces mais fortes para chegar ao próximo nível.

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