Análises

Dragon Quest Heroes: The World Tree’s Woe and the Blight Below

Versão testada: PS4

Será invulgar pensar em Dragon Quest e não ter a imagem na nossa cabeça no mais tradicional, se quisermos conservador, tipo de jogabilidade por turnos que o Japão tem. Não sendo uma série que tenha gozado de tremendo sucesso fora de terras japonesas há algumas reticências que a Square tem em localizar determinados jogos, esta série incluída. Com o transitar para uma nova geração a companhia decidiu tentar algo diferente da norma, e o resultado é este Dragon Quest Heroes (porque quem é que se vai lembrar do subtítulo enorme).

Com a ajuda da produtora OmegaForce, mais conhecida pelos títulos Dinasty Warriors, temos à partida uma diferença gigante, combate em tempo real. Como também é comum nesta produtora, sabemos que vamos ter quantidades imensas de inimigos para derrotar, no entanto, com um ligeiro toque de RPG, pois há determinados elementos que não esperaria encontrar no jogo, que de um modo geral até conseguem resultar mas mais sobre isso à frente.

Dragon Quest Heroes review 1A nossa viagem começa em Arba, cidade onde o rei e os seus fiéis guardiões habitam. Ao contrário do que seria normal, humanos e monstros, clássicos de Dragon Quest, coabitam juntos e vivem alegremente os seus dias, não deixando nós de espantar tal coisa. Esta ordem “natural” das coisas é agitada/abalada quando um feiticeiro, cujo sotaque latino, bastante ameaçador por sinal mas que me dava vontade de rir, decide que está na hora de as forças da escuridão tomarem pela força o lugar dos homens, e lança pelo reino o caos “libertando” os monstros, fazendo com que comecem a atacar os humanos. Não sabendo exatamente o que se passa a guarda do rei decide intervir e é aqui que nós entramos.

O jogo deixa escolher entre duas personagens, uma feminina e outra masculina, que determina a liderança do nosso grupo. A escolha é indiferente para além do óbvio, pois grande parte das cinemáticas juntam os dois e mesmo as habilidades são iguais, exceto nos elementos que usam. É aqui que começamos a ver um dos problemas do jogo, a partir do momento em que abrem a boca. Confesso que não esperava um enredo de RPG mais tradicional, mas sim uma coisa mais simples, mas afinal de contas isto é um título Dragon Quest. Não sendo nada de transcendente consegue, em parte, manter o interesse em continuar a aventura, mas está longe de ser o cerne dos problemas do jogo.

Dragon Quest Heroes review 2O mais importante que o jogo tem para oferecer é a sua jogabilidade, e aqui as coisas são bastante simples. Simplicidade é de facto a palavra a usar, pois inclusivé temos um sistema de controlo que permite usar apenas um botão para os mais variados ataques, sem qualquer tipo de preocupação com os combinações a usar.
Se há coisa que os jogos da omega force são conhecidos é pelo número grande de inimigos que temos para derrotar no nosso ecrã. Sabemos também que são jogos onde não podemos encontrar nada com o que se pareça com um sistema de combate com alguma profundidade, e aqui não é diferente. Temos um conjunto básico de ataques para fazer, e mais umas habilidades, que ocupam uma parte significativa do ecrã quando as realizamos, mas que muito rápido se tornam monótonas. Não será de espantar, portanto, que o jogo se transforme num button masher, que rapidamente esgota as ideias. As primeiras 2/3 horas são igual áquilo que vão a andar a fazer o jogo todo, o que neste caso é mau.

Ao longo da nossa aventura vamos encontrando vários personagens, muitos deles com presença noutros Dragon Quest anteriores, para que assim os possamos adicionar à nossa party, perfazendo um total de 12 escolhas de heróis. Este grupo pode ter um máximo de 3 aliados, fazendo um total de 4 personagens ao mesmo tempo de poderem ser utilizadas. Podemos assim trocar de membro de grupo em tempo real, permitindo usar determinadas habilidades conforme as necessidades.
À medida que vamos jogando vamos subindo de nível, desbloqueando pontos para inserir em habilidades mais fortes, ou então mais vida ou magia, simultaneamente abrindo mais conteúdo também nos vários vendedores para comprar melhor equipamento. Apesar de alguns trazerem coisas novas, como curar, fazer buffs/debuffs, o combate nunca se desenvolve mais do que ser básico/decente para aquilo com o que temos de lidar, não faltando como esperado um super ataque, no caso um tension attack cujo medidor se vai enchendo conforme o sucesso dos nossas ataques normais, culminando numa transformação em super guerreiro para nos mostrar o quão grandioso vai ser.

Dragon Quest Heroes review 3Para além do combate vazio e sem substância outro dos problemas do jogo são os cenários onde se desenrola a jogabilidade. Imaginem pequenas arenas, como se dum desafio extra se tratasse, num outro jogo qualquer, e agora repitam esse processo pelo jogo todo. Para agravar ainda mais a situação, os objetivos são claramente simples e despidos de qualquer significado, portanto, derrotem os inimigos presentes nesta pequena arena para poderem prosseguir para fazerem exatamente o mesmo na seguinte. Como se isso não bastasse, cada vez que terminámos um nível/arena somos transportados para o nosso hub, que permite viajar pelo mundo inteiro, mas torna o processo bastante entediante, quebrando o ritmo constantemente.

No meio de todos os inimigos presentes por vezes surgem bosses, que mesmo sendo uns poços de vida, trazem alguma estratégia necessária para que os possamos derrotar. Torna-se essencial nestas batalhas trocar de membros da party, mas mais uma vez isso demonstra outro dos problemas que o jogo tem, a AI. É frequente estarmos no calor da batalha com um inimigo particularmente difícil e os nossos companheiros estarem a contemplar o céu, tornando as ditas batalhas mais frustrantes do que deveriam ser. Portam-se melhor quando existe um número elevado de monstros para derrotar, utilizando por vezes as suas habilidades! Mas vê-los parados a não fazer nada dá para revirar umas quantas vezes os olhos.
Felizmente existe a possibilidade de usar os monstros derrotados e torná-los nossos aliados, que permite colmatar alguma da moleza dos nossos companheiros. Se ao serem mortos deixarem a sua moeda no chão podemos chamar os mesmos para nos ajudar.

As quests secundárias que vamos desbloqueando não são mais que repetições constantes daquilo que fazemos na campanha, ou seja, derrotar um determinado número de monstros, ou então uma espécie de tower defense em que protegemos uma área do mapa. Algumas dão boas recompensas, como aumentar a capacidade de itens de loot que podemos carregar, que permite criar acessórios de mais ataque/defesa/resistências, mas quando a jogabilidade se torna tão aborrecida passado algum tempo, o incentivo de as fazer torna-se baixo.

Dragon Quest Heroes review 4O estilo gráfico de Akira Toriyama está de boa saúde e recomenda-se. A maioria dos monstros clássicos de Dragon Quest aparecem no jogo. A arte inconfundível deste senhor transformou uma das entradas numeradas desta série, e a aparição na nova geração faz com que este aspeto se torne visualmente mais aliciante, fazendo a transição da CG que o jogo tem para a jogabilidade quase imperceptível, não dando o exemplo dos polígonos, mas apenas e só a arte que torna tudo tão bom de se ver, o que no meio do que é o caos que por vezes temos, diferenciador, e relega algum do tédio do combate para segundo plano. O jogo tenta, embora por vezes não consiga, manter uma framerate nos 60, mas às vezes as coisas conseguem tornar-se tão caóticas no ecrã que se torna impossível de o fazer.

Não fossem as más vozes que alguns aliados têm, e porventura, teríamos alguns que seriam interessantes. Como havia dito, quando abrem a boca é um pouco difícil ouvir determinadas falas, algumas vezes por as vozes serem más, mas sobretudo pela qualidade do diálogo, que para além de tornar alguns personagens demasiado irritantes, faz com o meu dedo passa-se muitas no skip cutscene. Se quiserem podem escolher vozes em japonês, mas vão perder algum do diálogo que temos durante as batalhas, se bem que para alguns isso não seja importante.

Apesar de incorporar elementos que são característicos de outros jogos da OmegaForce, este jogo tentou misturar outras coisas mais tradicionais da série num action RPG mais convencional. Um elemento de evolução de habilidades para dar alguma liberdade na construção dos personagens, mas no reverso da medalha, a não utilização de combos mais tradicionais faz com que usemos as habilidades da nossa party constantemente, tornando a jogabilidade demasiado repetitiva. A tentativa de introduzir um elemento de tower defense em algumas missões faz com que seja necessário algum planeamento para ultrapassar a constante horda de monstros, mas acaba por se tornar mais um sinónimo de repetição dado o tipo de jogabilidade presente.

É um jogo para os fãs da série, quem for à espera de Dragon Quest mais tradicional vai ter uma má surpresa. Trucidar hordas de monstros clássicos tem o seu divertimento, em poucas doses, pois fazer isto durante as mais de 30 horas que me levou a acabar tornam a aventura bastante entediante. Não é um mau jogo, ou seja, não há nada que mecanicamente/tecnicamente funcione mal, mas a jogabilidade sem qualquer tipo de profundidade, aliado à má AI, em conjunto com pequenas arenas que são os cenários, mais o mau diálogo, tornam este jogo apenas um pouco mais que acima de mediano.

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