Análises

Fallout 4

Versão testada: Xbox One

A nossa entrada em Fallout 4 é estranha. Depois da criação do nosso personagem somos confrontados com uma série de acontecimentos que se desenrolam a uma velocidade que nos faz desconfiar bastante do se passa realmente à nossa volta.
O que seria uma manhã perfeitamente normal na cidade de Boston, rapidamente se torna numa corrida pela sobrevivência depois do caos nuclear se abater sobre a população. Entrar em mais detalhes seria estragar o momento, mas os acontecimentos que se seguem vão transformar para sempre o nosso personagem.

Uma breve secção de tutorial acompanha o nosso início, que após breves momentos nos envia para a gigantesca cidade destruída pelos acontecimentos anteriores.
A partir deste momento somos nós que vamos escrever a nossa história, quer por aquilo que fizermos, quer por os lugares que descobrimos. Toda a trama que envolve a nossa aventura leva-nos aos sítios mais inóspitos e, aos sítios mais desprovidos de humanidade que possamos imaginar depois de um cataclismo nuclear. Ao longo da campanha as decisões que tomamos não se tornam sempre evidentes, mas arranjam sempre maneira de voltarem à nossa memória no tempo adequado.

A história, o seu caminho e os seus personagens, são interessantes e desenrolam-se de maneira imprevista por vezes, não por serem especialmente dramáticas, embora o seu mote principal seja, mas por nos levar a desvendar mistérios sobre o sítio onde estamos. A consequência da revelação de tais enigmas é a escolha de quem realmente queremos ser, sendo como é comum na Bethesda, uma escolha que teremos eventualmente de fazer. Escolhas essas que por vezes nos levam a decisões irreversíveis, portanto, convém pensarem bem antes de darem uma resposta, mesmo que por vezes aquele balão de sarcasmo/ironia no diálogo pareça bastante tentador.

fallout 4 review 1O tema comum presente nos jogos da Bethesda foi sempre a liberdade, ou seja, façam o que quiserem, quando quiserem. Assim sendo, e sendo também uma similaridade com jogos anteriores, a exploração tem um papel fundamental na nossa campanha. Essa exploração é um dos grandes aspetos que o jogo tem, nunca nos deixando de surpreender, quer pelas localizações, quer pelas situações que nelas acontecem. Sendo um jogo de mundo aberto há uma enorme quantidade de lugares para descobrir, cada um com as suas recompensas e perigos, que tornam a descoberta dos mesmos uma verdadeira aventura.

As ferramentas que nos permitem tirar partido da exploração têm que acompanhar o resto do pacote, para que além da sensação de descoberta possamos ter prazer em jogar quando realmente algo acontece. Não há como fugir da questão, a jogabilidade nunca foi um ponto forte nos jogos da Bethesda, especialmente no que toca à componente do corpo a corpo. Uma vez que aqui temos armas de fogo, e como houve a promessa de tentar melhorar este aspeto face ao jogo anterior, é com algum agrado que se pode dizer que a jogabilidade mais tradicional foi melhorada, ao ponto de por vezes podermos dizer que à situações onde se pode usar com regularidade, ao invés das mecânicas mais tradicionais da série como o sistema VATS. Não é tão polida como os shooters mais convencionais, mas foi feito um bom avanço, tornando o uso das armas bastante competente. Os controlos são bastantes responsivos, mesmo em situações mais problemáticas, mas acabam por sofrer em situações específicas, pois misturar interiores de edifícios e grandes quantidades de inimigos dá por norma mau resultado, nomeadamente na performance do jogo. O combate corpo-a-corpo infelizmente continua o legado anterior de não ter sensação de peso algum, e torna, quanto a mim, as situações demasiado parecidas com a outra saga da companhia, Elder Scrolls.

O sistema VATS torna uma mera e banal morte de um inimigo num festim de membros desmembrados. A sensação de satisfação que por vezes falta na jogabilidade normal é neste sistema, que abranda o tempo e nos permite apontar para uma parte específica do corpo de um inimigo, levada ao extremo tornando uma bala da nossa pistola um sinónimo de prazer. Para além disso, se estivermos a ser atacados sem saber muito bem de onde, o sistema faz lock ao inimigos que estão nas redondezas, mostrando a probabilidade de lhes acertarmos ou não. Utiliza a nossa barra de pontos de ação que determina o quanto podemos correr, por isso é necessário gerir muito bem quando correr e fugir ou usar estes pontos para tentar acertar numa determinada parte de um inimigo.
O jogo pode ser jogado na primeira ou terceira pessoa, sendo a visão na primeira a mais tradicional. A vista na terceira pessoa é funcional, mas sinto que perco alguma visibilidade, especialmente nos interiores, onde os corredores podem ser apertados.

fallout 4 review 2O outro grande componente da jogabilidade é o loot e as nossas habilidades. Durante as nossas viagens pela vasta Boston vamos encontrar de tudo, balas, armas, armaduras, lixo, etc. Se é verdade que a procura do melhor equipamento se torna bastante aditiva, é também verdade que vamos passar grande parte do nosso tempo a apanhar lixo, sim lixo. Temos toneladas dele para apanhar, desde ventoinhas, maços de cigarros, jornais, combustível, enfim tudo o que possam imaginar. A necessidade de recolher todos estes itens resulta do facto de termos novos sistemas de construção de bases e melhoramento do nosso equipamento.

Todo o lixo que apanharmos vai ser transformado em material necessário para que possamos melhorar determinados pontos das armas e armaduras, que são muitas e variadas. É um sistema que está bem implementado e conseguimos construir as armas com o gosto que lhes queremos dar, com mais dano, mais precisão, ou simplesmente aumentar a capacidade dos cartuchos, não sendo necessário dinheiro, apenas os materiais. Nas armaduras talvez mais alguma variedade de escolhas, mesmo no aspeto, não ficava mal pois parece ter sido maior destaque às armas. Temos ainda maneira de combinar determinado loot para que possamos obter itens para cura e determinados efeitos temporários.
Não poderia deixar de faltar o nosso querido power armor, que para além de nos transformar num tanque ambulante permite negar o dano de saltos altos e aguentar a extrema radiação de determinados sítios. Para além das peças individuais que necessitam para usar um, e que têm durabilidade individual, necessitam de uma maneira de lhes dar energia, um núcleo. É um item raro de encontrar, mas pode ser adquirido em alguns vendedores, mas custando uma quantia significativa, daí ser prudente a moderação no uso desta armadura.

A outra grande novidade do jogo é o sistema que construir bases, e um dos usos que podemos dar ao lixo que temos. Após uma determinada missão temos a possibilidade de ter a nossa base, para que assim possamos ter um sítio onde construir as nossas armas e misturar alguns dos ingredientes que temos. Uma espécie de Minecraft em Fallout, mas com a possibilidade de ter vários membros que fazem uma série de trabalhos para nos beneficiar. Casas, recursos, defesas, energia, decoração estão entre os muitos aspetos que podemos ter nas nossas bases, pois se aceitarem determinadas quests e as completarem podem aumentar significativamente o número de estabelecimentos que podemos ter, o que levanta um dos problemas que tenho com esta componente. À medida que vão apanhando o loot necessário para ter mais estruturas, vão naturalmente querer deposita-lo em algum sítio. Sendo que os recursos necessários para a construção provêm do lixo que apanhamos, que têm peso, não é possível durante muito tempo ficar com ele no inventário. Existe uma pequena banca em cada um dos estabelecimentos para depositar os materiais, o problema é que é só nessa banca, desse estabelecimento, que eles ficam depositados, o que levanta sérios problemas de como transportar determinadas quantidades de materiais entre bases. Existe uma habilidade que permite minorar este problema, mas não faz sentido bloquear uma parte dos jogadores que não invistam nisso, o que torna bastante frustrante o transporte de materiais entre bases com os constantes loadings, uma vez que decorar o que precisamos para determinada estrutura não será o mais conveniente. O que seria conveniente, era uma vez descobertos/construída a nossa banca de materiais, esta ter as coisas que já havíamos depositado nas bancas todas ao longo do jogo.

Este elemento de construção é opcional, e excetuando um pequeno tutorial, que não é de todo esclarecedor, pode ser ignorado, mas terá os seus benefícios se decidirem investir nele, nem que seja apenas pelo prazer de construir uma base a nosso gosto. Na constante procura por determinados elementos necessários para o sistema de construção/modificação existe uma mecânica muito útil de procura, que permite que possamos identificar o que nos faz falta. Depois o jogo mostra, antes de recolhemos um determinado objeto, se ele contém o que queremos.

As habilidades são grande parte do que torna o jogo tão variado. Os nossos atributos, denominados SPECIAL, são uma porta para que possamos desbloquear determinados perks, ou seja, especializações que tornam verdadeiramente o jogo distinto de jogador para jogador. Os atributos mais comuns, como força, resistência, inteligência, melhoram determinados aspetos do personagem, mas esses apenas aumentam a proficiência nestas áreas. É depois de ter certos pontos nesses atributos que podemos usar os nossos pontos de subida de nível para tornar as coisas mais interessantes. Melhorar dano com armas, desbloquear modificações para armaduras, poder carregar mais coisas, melhorar e convencer determinados npc´s com diálogo, encontrar mais itens, dar mais dano corpo a corpo, etc.,etc. Existem cerca de 70 perks e cada um deles tem níveis, o que torna o sistema bastante recompensador se investirmos em coisas muito específicas. Pequenas figuras e revistas, em forma de colecionáveis, ajudam mais ainda desbloqueando outras habilidades, ou simplesmente melhorando as que temos, recompensando muito bem a exploração.

Ao longo da nossa viagem vamos conhecer determinas pessoas que se querem juntar a nós, tornando-se nossos companheiros de descoberta. Existem inclusive perks que melhoram a sua performance, tornando-os mais eficazes, mas em último caso o papel destes companheiros será apenas serem umas mulas de carga. Não são, de todo, os mais inteligentes na gestão do que fazer nas situações, e em último caso conseguem a proeza de se meterem no caminho em determinados corredores apertados, dificultando e frustrando mais do que deviam. Se quiserem dar umas boas gargalhadas devido às ações dos companheiros, aconselho a darem-lhes para a mão uma arma que tem uma coisa pequena chamada mini-nuke, julgo não ser necessário explicar mais. Infelizmente a inteligência artificial de alguns dos inimigos também deixa a desejar, ficando estes especados num determinado momento à espera do golpe misericordioso.

A guerra nunca muda… pelo menos é o que diz o jogo, e infelizmente parece que a parte técnica dos jogos da Bethesda também não.
Não sei por onde começar sinceramente, mas Fallout 4 não é um jogo para jogarem se forem demasiado sensíveis a tudo o que seja problema técnico que possam imaginar. Más animações e expressões faciais, performance baixa, nomeadamente no combate dentro de edifícios, bugs, glitches, loadings longos inclusive para entrar em edifícios, pouco campo de visão ao longe, legendas fora de tempo, cinemáticas invadidas por outros npc´s, que pouco ou nada interagem nas mesmas, paragens de alguns segundos enquanto entramos numa nova área, mesmo com o jogo instalado num disco externo, e por fim ainda mais grave a possibilidade de crashes do jogo que nos podem corromper os jogos guardados. Crashes que chegaram a acontecer, mas felizmente consegui recuperar os dados perdendo pouco tempo de jogo.
É certo que é difícil encontrar alguém que tente fazer o que a Bethesda faz, com tudo a ser persistente no jogo, mas uma companhia desta envergadura não pode constantemente repetir erros do passado e esperar que ninguém dê por isso. Tem que mudar a forma como constrói os seus jogos, pois de outra maneira vamos ter exatamente os mesmo sintomas nos seus próximos jogos.

A performance é um dos problemas que afeta a jogabilidade infelizmente, pois apontar para os inimigos quando o jogo começa a arrastar-se é muito complicado, tendo que usar e abusar do sistema VATS. Apesar de algumas coisas provocarem risos nas primeiras vezes, é quando passamos muito tempo com o jogo que começa a ser mais difícil desviar os olhares para determinados problemas. O jogo não é especialmente detalhado, o que torna ainda mais espantosa a maneira como corre mal.

Nem tudo são coisas más felizmente, pois a arte que acompanha o jogo é boa, e em último caso é uma das partes que salva este aspeto. De notar também os mini-jogos que a Bethesda espalhou no jogo, para que na utilização dos terminais possamos ter uma breve distração.
Não deixo de mencionar a música que acompanha o jogo, particularmente o tema principal que nos fica imediatamente no ouvido, apenas com alguns notas de piano. As vozes que acompanham os personagens são boas e o diálogo também, mas é um pouco complicado por vezes sentir alguma imersão quando vemos determinadas situações descritas em cima a acontecer à nossa frente. Estranhamente o som de percorrer os menus do nosso pip-boy é bastante prazeroso, o que não tem uma explicação lógica, mas aquele som invulgar não deixa de ficar no ouvido.

Existe um jogo muito bom em Fallout 4, agora a questão é se estão dispostos a passar por todos os problemas técnicos que o jogo tem para retirar o prazer que jogo consegue dar. É um jogo difícil de recomendar, pois implica a decisão consciente que vão encontrar problemas, alguns deles sérios que podem minar seriamente a diversão. Se querem muito jogar isto vão ser recompensados com muitas horas de jogo na imensa exploração e colecionáveis que têm para descobrir.

Podem também aguardar para ver o que faz a Bethesda para corrigir, eventualmente, alguns destes problemas, se bem que a última experiência na PS3 com Skyrim não tenha sido a melhor, e espero que não seja indicadora de nada.
A história interessante, a enorme exploração para fazer, com missões interessantes e variadas habilidades, conseguem fazer a diferença no jogo, mas já é mais que altura de a Bethesda deixar de ficar presa a uma tecnologia que está constantemente a prejudicar os seus jogos.

Veredito

Nota Final - 7.5

7.5

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