Heavy Rain (PS4)

Versão testada: PS4

Heavy Rain é um jogo de escolhas e consequências. Escolhas difíceis e emotivas assentes num desafio provocativo: “até onde irias para salvar alguém que amasses?”

Quando este exclusivo da PlayStation 3 foi lançado em 2010, Heavy Rain, produzido pela Quantic Dream, pelas suas características singulares em termos de jogabilidade, tornou-se numa referência incontornável no debate acerca do que caracteriza um videojogo, gerando alguma controvérsia entre os jogadores e a crítica em geral, mas permitindo consolidar David Cage numa referencia enquanto argumentista criativo, depois do sucesso de Fahrenheit, lançado anteriormente para a PlayStation 2.

Com a remasterização de Heavy Rain para lançamento na PlayStation 4, esta será a oportunidade para que este jogo chegue a novos públicos, ou se possibilite a quem já conheça o original, reviver esta história com substancial melhorias na qualidade gráfica que, nesta remasterização, são bastante notórias.

Heavy Rain é um drama interativo, com uma forte vertente cinematográfica, centrado em 4 personagens, controlados na terceira pessoa, onde é dada a possibilidade de se interagir com objetos ou outros personagens, através de ações baseadas no uso de Quick Time Events e de comandos com interface intuitivo e contextual, onde existe o imperativo de interagir com os objectos ou outros personagens através da sequência exata de comandos apresentados no ecrã, os quais podem ser construídos por movimentos com o analógico, sincronia de botões ou mesmo sacudir do DualShock 4 na direção apresentada. Ao mesmo tempo podemos aceder aos pensamentos dos nossos personagens, pressionando o L2, que permitem contextualizar alguns momentos vividos por estes.

Servindo de tutorial para o jogo, o início bastante calmo em ambiente familiar de Ethan Mars, abruptamente é interrompido por acontecimentos dramáticos, relacionados com o seu filho, Jason, que despoletam uma série de alterações profundas na vida deste protagonista, reforçadas posteriormente por acontecimentos bastante traumáticos que vêem acentuar a espiral de emoções em que somos envolvidos.

É no conjugar das histórias vividas por Ethan Mars um arquiteto, Norman Jayden, detetive do FBI, Scott Shelby, detetive privado, e Madison Paige, jornalista, que vamos estar envolvidos num intenso e emotivo drama que envolve ainda misteriosos acontecimentos relacionados com a existência de vários assassinatos de crianças de 10 anos de idade, atribuídos a um misterioso personagem denominado pela imprensa como o “Assassino do Origami”

Num jogo com uma estética quase depressiva, com precipitação constante, vamos podendo avançar nas histórias dos vários personagens e com as nossas escolhas, vamos gerando diferentes consequências que podem terminar em dezenas de finais diferentes, o que valoriza uma repetição do jogo para encontrar diferentes destinos para os nossos protagonistas.

A par da intensidade da história, um dos aspetos mais marcantes que contribuem para tornar Heavy Rain numa intensa experiência emotiva, advém da banda sonora, assinada por Normad Corbeil, a qual permite pontuar os diversos momentos e tonalidades vividas ao longo do jogo, seja em momentos mais intimistas, seja em momentos de intensa ação, permitindo uma envolvência perfeitamente adequada e dando uma identidade muito própria e memorável ao jogo.

Heavy Rain é um jogo que divide opiniões, seja ao nível de opções discutíveis ao nível do argumento, seja nos impactos diferenciados que as nossas opções poderiam gerar na alteração do rumo da história. Não deixa, contudo, de ser um jogo ambicioso e nesse aspeto considero-o percursor e uma base de referência importante para jogos que apostam neste tipo de jogabilidade.

Desde já, dever-se-á salientar que, no que diz respeito à remasterização em concreto, o incremento de qualidade de imagem é bastante visível e permite agora alcançar os 1080p e 30fps estáveis, eliminando, de igual modo, algum screen tearing existente na versão original. De notar, contudo, que, no que diz respeito às cutscenes, continua a notar-se alguma compressão, mas não a tornando intrusiva, ao ponto de estragar a experiência gráfica em geral.

Apesar de sentirmos que poderia ser oferecido nesta remasterização algo mais, para além da melhoria gráfica do jogo base e poder-se criticar a ausência do DLC – O Taxidermista (uma prequela com Madison Paige que fazia parte de uma trilogia de histórias adicionais que nunca foi lançada), do que o que já era conhecido anteriormente, não deixa de ser um jogo que tem o seu espaço no catálogo de jogos da PlayStation 4, pois existem memórias do passado que são essenciais revisitar