Análises

Deus Ex: Mankind Divided

Versão testada: PlayStation 4

Deus Ex: Mankind Divided pode decorrer no futuro, e embora o enredo envolva conspirações e sociedades secretas, consegue reflectir parte aquilo que está a acontecer actualmente no mundo. Refiro-me à segregação racial e cultural, a uma constante ameaça terrorista, e à corrupção de classes políticas. É uma pequena amostra das consequências de colocar um grupo de pessoas contra outro grupo de pessoas com diferentes convicções e ideologias.

A acção decorre em 2029, dois anos após os eventos de Human Revolution. Adam Jensen e o grupo anti-terrorista Task Force 29 participam numa operação no Dubai com o objectivo de apanhar um traficante de armas, quando subitamente a missão é interrompida por um misterioso grupo de mercenários. Jensen consegue neutralizar as ameaças e recuperar as armas, mas desconfia que algo mais se passa. Essa desconfiança materializa-se quando se vê envolvido no meio de um atentado terrorista.

Deus Ex Mankind Divided review screen 2Seria de esperar que com tanta conspiração e com tanta coisa em risco, a narrativa fosse melhor do que realmente é. Não é que a história seja má, porque não é. Simplesmente não faz jus ao seu potencial e acaba por ter um final demasiado abrupto, muito por culpa de ter sido pensada para receber sequelas. Ainda assim, Mankind Divided apresenta uma história competente, suportada por um bom voice acting, personagens interessantes e missões de história bem realizadas.

Mankind Divided também apresenta uma grande quantidade de missões secundárias. Estas missões incentivam a exploração da cidade de Praga, e podem ser descobertas ao fazer hack em emails ou ao conhecer estranhas personagens que precisam de algo em troca. Algumas destas missões secundárias cruzam-se com os objectivos principais, mas a maior diversidade e diversão acontece mesmo nas missões de história.

A jogabilidade de Mankind Divided mantém o mesmo estilo do Human Revolution. As áreas das missões tem um grande level design, e estão pensadas para permitirem que o jogador avance de várias formas diferentes. Podem fazer o mínimo de takedowns possível e avançar através de condutas de ar condicionado, podem utilizar as habilidades para fazer takedowns de forma silenciosa, e até podem fazer hack a camaras e outros dispositivos inimigos e usá-los a vosso favor. Alternativamente, também podem utilizar uma abordagem mais tradicional e entrar a matar.

Makind Divided não é o típico FPS, mas o gunplay é competente e está mais polido do que aquele presente em Human Revolution. O gunplay mais responsivo e fluido tornam completamente possível e viável assentar um estilo de jogo puramente nas armas. A possibilidade de trocar de acessórios nas armas a meio do combate abre ainda mais as opções tácticas, e é gratificante utilizar a combinação das armas e das habilidades para despachar todos os inimigos numa área.

Deus Ex Mankind Divided review screen 3A evolução do Jensen é finita. Ao contrário de outros jogos, não dá para evoluir ao máximo todas as habilidades da personagem. Por isso, primeiro é necessário escolher que tipo de abordagem iremos ter ao longo do jogo, letal ou não letal, para depois evoluirmos apenas as habilidades que serão úteis a esse tipo de jogo. Quanto mais especifica for a evolução do Jensen para um estilo de jogo, mais fácil e eficaz se tornará a progressão pelas missões.

O tipo de acções que tomarmos irá afectar a história, como tal, é preciso pensar duas vezes na hora de matar tudo o que mexa. Isso poderá complicar determinadas situações lá mais para a frente. E até as escolhas mais básicas necessitam de alguma reflexão e nunca se sabe bem que consequências terão. Ao contrário do que aconteceu em Human Revolution, o final de Mankind Divided irá ser transferido para o próximo Deus Ex.

A cidade de Praga não é visualmente tão variada como os hubs do jogo anterior, mas é bastante detalhada e apresenta personagens únicas. O ambiente está muito bem realizado, mostrando claramente a tensão existente na cidade entre os humanos normais e os humanos ciberneticamente melhorados. O design geral é um pouco mais realista e natural, retirando assim alguma da atmosfera cyberpunk que existia em Human Revolution. Isto poderá desapontar alguns, mas acho que a identidade característica não foi perdida no processo.

Os NPCs apresentam animações um pouco mais realistas que as do título anterior, mas as expressões faciais são da geração passada, a ponto de afectar a sincronização labial. Isto mete uma nódoa na apresentação e é algo que acaba por estragar um pouco a imersão. O que vale ter bons gráficos e texturas realistas, se algo tão importante como as expressões faciais são negligenciadas?

Depois de completada a campanha, coisa que pode demorar mais de 30 horas, dependendo da forma como abordem as missões, podem ainda experimentar um novo modo de jogo chamado Breach. Breach é um modo que incentiva o jogador a completar determinados desafios em ambiente virtual, utilizando mecânicas mais simplificadas da campanha. É um modo interessante para variar um pouco ou quando não se tem muito tempo para sessões mais longas, mas é algo que acaba por não adicionar grande coisa ao pacote completo.

Deus Ex: Mankind Divided não é uma evolução de Human Revolution, mas sim um aperfeiçoar das mecânicas e conceitos anteriormente apresentados. O bom level design aliado a uma jogabilidade apurada, proporcionam uma experiência de jogo fantástica que decorre num mundo fascinante. A narrativa, mais precisamente o seu final, e as medíocres expressões faciais são sem dúvida os pontos negativos nesta boa sequela de Human Revolution.

 

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela editora/distribuidora para efeitos de análise.

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