Análises

Paper Mario Color Splash

Versão testada: Wii U

Com Paper Mario e Mario & Luigi a coexistirem no mercado, a mascote da Nintendo tinha dois RPGs no activo, o que provavelmente levou à decisão de fazer experiências com o canalizador de papel. Depois de Super Paper Mario brincar com a perspectiva e se aproximar do platformer e Sticker Star ser um RPG mais “lite”, Paper Mario Color Splash para a Wii U continua a mostrar uma Intelligent Systems interessada em mais do que fazer uma simples sequela de The Thousand Year Door. Será isso mau?

Color Splash continua a pôr o humor em primeiro plano, os diálogos hilariantes continuam cheios de trocadilhos, pontuados ocasionalmente com referências e atingem sempre aquele tom certo que parece algo fora de sítio no universo Mario, mas que nunca falha em arrancar gargalhadas.
Tal como em Sticker Star e Mario & Luigi Paper Jam, todas as personagens amigáveis do jogo são Toads, o que é adorável e engraçado até certo ponto, mas ultimamente cansativo e desnecessariamente repetitivo. Se bem que isto abre a porta a algumas piadas e provavelmente ajuda a Nintendo a cimentar os Toads como mascotes reconhecidas pelo público, com um mundo tão rico em criaturas e personagens, para quê ficar tão limitado?

Praticamente tudo é feito de papel e não foram poupados esforços para que todos os cenários pareçam algo que alguém recortou, colou e montou à mão com muita criatividade e olho para o detalhe. E se visualmente o jogo é uma delícia, não se pode ignorar a banda-sonora, cheia de jazz big band e uma data de temas memoráveis, tão coloridos e vivos como o resto do jogo.

Como os Shy Guys (ou Masquitos se preferires em Português) usaram palhinhas para chupar a cor de vários sítios e habitantes da Ilha Prisma, claro que calha a Super Mario a tarefa de resolver isto. Felizmente, o canalizador faz-se acompanhar de Huey, genialmente bapitzado de Pintas em Portugal, uma lata de tinta falante que nos dá o poder de usar o martelo para voltar a pintar os espaços em branco, devolvendo-lhes vida e restaurando a ilha.
Huey é a única personagem com um design original no jogo, mais do que um repositório de dicas e tinta, é um excelente sidekick cujos acessos de raiva e honestidade equilibram o silêncio de Mario e não falham em fazer rir.

As nossas reservas de tinta- que podem ser recuperadas martelando vários elementos coloridos do cenário- também servem para pintar as cartas que apanhamos pelo mundo fora e usamos para combater.
Continuamos a poder evitar os inimigos, ser apanhados de surpresa ou atacar primeiro para entrar com uma vantagem nas batalhas por turnos, mas agora cada acção que queremos executar é uma carta que temos que usar. Depois de escolher e pintar a carta (eventualmente cartas) no Gamepad, o Mario parte ao ataque, mas ainda cabe ao jogador carregar no A nos momentos certos para que os ataques sejam bem sucedidos.

paper-mario-color-splash-reveal-10Colecionar cartas para usar como ataques, itens ou até para invocar habituais inimigos como Koopas e conjugar isso com os nossos níveis de tinta e a ordem em que usamos as cartas para atingir os inimigos certos com os ataques certos resulta num sistema variado e divertido, com um bom equilíbrio entre acção e planeamento.
Infelizmente durante a maior parte do jogo os combates são bastante curtos e fáceis, o que de início parece colmatado pela maneira lenta de escolher acções (escolher de entre um leque de cartas é mais lento do jogador do que só carregar no A infinitamente até ganhar), o que torna as batalhas triviais mais envolventes, mas também corre o perigo de as tornar numa irritação demasiado comprida. Felizmente é fácil evitar muitos dos combates e eventualmente os inimigos mais fracos morrem imediatamente se os atacarmos antes de entrar em batalha, por isso não vais ter que perder tempo a lutar com Goombas para sempre.

Não havendo níveis ou pontos de experiência, apenas evolução ao longo da história, dos combates ganhamos dinheiro, tinta, cartas e também pequenos martelos de papel que sobem o limite máximo de tinta que podemos carregar. Seria algo mais útil se não fosse incrivelmente raro faltar tinta em grande parte do jogo, apenas as cartas mais fortes usam tinta suficiente para isso ser um problema e é fácil destruir os inimigos antes que eles nos roubem tinta.

Se o jogo atirasse grupos maiores e mais fortes de inimigos mais cedo, isso traria ao de cima as forças do sistema de combate, com maior necessidade de gerir a tinta, o baralho e o dinheiro, tudo ficaria mais equilibrado e interessante para jogadores mais experientes.

2Os níveis são relativamente pequenos, mas bem conseguidos e muito variados, com ênfase em quebra-cabeças e exploração, Color Splash não esconde a componente forte de jogo de aventura. O único problema aqui é que vários níveis têm mais que uma estrela de tinta (os nossos objectivos) para apanhar, mas em várias ocasiões, para apanhar as estrelas secundárias temos que percorrer os níveis todos praticamente até ao mesmo sítio de antes só para apanhar a estrela que está um bocado ao lado da que apanhámos antes. Se bem que com os puzzles resolvidos, isto é coisa para demorar poucos minutos, é absolutamente desinteressante e apanhar estas estrelas serve para pouco mais que “encher chouriços”.

A utilização obrigatória do Gamepad para escolher as cartas irá irritar aqueles que não gostam de ser forçados a olhar para um segundo ecrã e os passos de procurar carta, escolher, pintar, confirmar tornam a escolha de ataque lenta, mesmo com opções para simplificar ligeiramente o processo e usar ecrã táctil juntamente com botões.
Fora isso, não há grande utilização do Gamepad, para lá do Off-TV play e dos menus, por vezes podemos recortar partes pré-determinadas do cenário para ignorar a tridimensionalidade dos níveis e andar “nas paredes” pelos recortes, mas não há utilizações particularmente interessantes desta mecânica.

Mais interessante é poder usar cartas especiais em sítios certos para interagir com o mundo e chegar a locais novos. Com estas cartas invocamos as chamadas Coisas, objectos 3D, desde ventoinhas a ossos gigantes e os resultados normalmente são surreais e hilariantes. Estas cartas servem não só para avançar no mundo, mas também parra derrotar os bosses cuja única fraqueza é uma Coisa específica. Isto estende os elementos de jogo de aventura e puzzle aos combates, mas se não tivermos encontrado a carta certa antes do combate, o mais provável é termos que fugir para a achar. Apesar de um Toad nos ajudar a descobrir as Coisas que precisamos, é uma forma algo desajeitada de progredir.

largePaper Mario Color Splash conseguia ir ainda mais além com alguns ajustes, mas não deixa de ser uma aventura ridiculamente divertida e bem-diposta, uma data de peripécias cheias de imaginação com escrita hilariante e inteligente, níveis bem desenhados, uma enorme atenção ao detalhe e gráficos e banda-sonora de comer e chorar por mais. Uma boa forma de dizer adeus à Wii U no que provavelmente vai ser o seu último exclusivo.

 

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela editora/distribuidora para efeitos de análise.

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