Análises

Final Fantasy XV

Versão testada: PS4

Custa a acreditar que aquilo que deu origem a Final Fantasy XV foi anunciado à mais de 10 anos. Inicialmente intitulado Final Fantasy Versus XIII, o jogo estava previsto fazer parte do universo Fabula Nova Crystallis, juntamente com Final Fantasy XIII e Final Fantasy Agito XIII. Muitos problemas depois, em 2013, o jogo reapareceu, agora como Final Fantasy XV. Embora os problemas de desenvolvimento por si só não sejam indicativos da qualidade de um jogo, é algo impossível não reparar à medida que se vai avançando pelo mundo de Eos. Final Fantasy XV é um jogo ambicioso e consegue fazer muitas coisas bem, mas é também um jogo que não consegue esconder as marcas deixadas por um desenvolvimento atribulado.

Em termos gerais, a história é fácil de seguir. Noctis, o herdeiro ao trono do reino de Lucis, embarca numa jornada para tentar recuperar a sua cidade do controlo de Niflheim, um poderoso e maléfico império. Existem aqui muitos elementos clássicos usados em anteriores Final Fantasy, com a diferença que Final Fantasy XV centra-se no grupo de quatro protagonistas e no seu crescimento como indivíduos enquanto enfrentam as dificuldades. Cada um dos quatro protagonistas tem a sua própria identidade; por exemplo, Prompto tem uma atitude mais brincalhona e descontraída, enquanto que Gladiolus é mais sério e age como irmão mais velho de Noctis. E neste aspecto, Final Fantasy XV é um dos melhores títulos da série no que toca a demonstrar o crescimento emocional dos protagonistas. Já no que toca à história, a coisa é bem diferente.

O núcleo da história, em termos de enredo e de pretexto, é bom e tem potencial para algo fantástico. Trata-se da ascensão de um jovem e ingénuo príncipe, da fraternidade de um grupo de amigos à medida que viajam, de um império que investiu imenso na ciência, e de uma profecia à espera de ser concretizada. Estes elementos por si só eram suficientes para criar algo bom, e todos juntos, podiam facilmente dar origem algo complexo e profundo. No entanto, tudo cai por terra porque o jogo tenta dar conta de demasiadas ideias narrativas de uma vez só sem dar tempo suficiente para que tudo se conjugue de forma coerente. Como resultado, a história atrapalha-se sobre a que elemento dar atenção; se ao conflito entre Lucis e Niflheim ou se ao destino de Noctis em parar a praga Starscourge.

Depois, como tudo é visto da perspectiva de Noctis e dos seus mosqueteiros, elementos narrativos importantes para o contexto geral não são devidamente demonstrados. A invasão de Niflheim a Insomnia, algo que levou à destruição da capital e à morte de Regis, rei de Lucis e pai de Noctis, acontece fora de camara. Aliás, ao longo do jogo, há a constante sensação de que tudo o que é mais importante acontece fora de camara. Para além disso, o filme Kingsglaive: Final Fantasy XV e o anime Brotherhood: Final Fantasy XV têm demasiada importância na preparação dos eventos do jogo, a ponto de considerar que não são puramente conteúdo extra opcional. Eles existem não para dar maior contexto, mas sim para tapar buracos narrativos. Os jogadores que decidirem não ver este conteúdo vão perder bastante informação importante.

Se o desenvolvimento dos protagonistas é bem realizado, já não posso dizer o mesmo do restante elenco, em particular de Lunafreya. Luna é apresentada como sendo importante nos acontecimentos gerais, e o jogo tenta reforçar a sua importância amorosa para o Noctis através de flashbacks e de troca de mensagens. Mas ela não recebe tempo suficiente de antena, e acaba por funcionar apenas como um motivo supérfluo para Noctis prosseguir a sua jornada e não como uma personagem com verdadeiro peso na história e no desenvolvimento de Noctis. Aliás, a história podia ser facilmente adaptada para lidar com a ausência de Luna que nada se perdia. Diria até que teria dado um melhor resultado se Luna não existisse e se o jogo se comprometesse exclusivamente com o grupo de quatro amigos.

ffxv-review-lunaA estrutura open world de Final Fantasy XV beneficia o desenvolvimento das quatro personagens principais, pois ao longo das viagens, a personalidade de cada uma vem ao de cima. Mas nem sempre o jogo sabe utilizar bem a formula na hora de avançar a história, e isso nota-se negativamente no ritmo de progressão. A primeira metade oferece imenso para explorar, mas pouco conteúdo importante. Em contrapartida, a segunda metade oferece bastante informação significativa, mas apresenta capítulos mais lineares. Isto, em combinação com a importância de conteúdo extra jogo, reforça a desarticulação de como a história é contada e apresentada.

Final Fantasy XV difere também de outros Final Fantasy através da passagem de um sistema de batalha por turnos para um sistema em tempo real. Os jogadores podem alternar entre quatro armas em qualquer altura. Carregar repetidamente ou pressionar o botão de ataque começa um combo, e carregar no botão de defesa permite Noctis desviar-se dos ataques inimigos com o uso de MP. Para recuperar MP basta usar a habilidade warp para um ponto no mapa, esconder atrás de cover, ou usar um consumível. A necessidade de gerir o uso de MP é um dos aspectos que torna o combate de Final Fantasy XV interessante.

Utilizar a fraqueza dos inimigos a nosso favor é um dos factores cruciais a ter em conta durante as lutas. Saber que tipo de arma e/ou magia os inimigos são vulneráveis pode significar a diferença entre vitória e derrota, ainda para mais quando o nível dos inimigos pode variar dentro de uma área ou ao longo de uma quest. A habilidade warp também tem uma enorme importância a nível estratégico; é uma boa forma de iniciar uma luta, de derrotar inimigos isolados, de dar em retirada para se repensar a abordagem, ou simplesmente para se fazer um combo aéreo.

ffxv-review-comboOs membros da equipa não são totalmente inúteis em batalha. Quando um inimigo é apanhado desprevenido ou acertamos com o timing de um parry, eles juntam-se a Noctis para fazerem ataques únicos. Também é possível utilizar habilidades dos aliados para um suporte ofensivo ou defensivo adicional, o que acaba por contribuir para o tema de camaradagem entre estas quatro personagens. Como as animações das personagens são excelentes e os golpes são espalhafatosos, as lutas nunca se tornam secantes, independentemente da frequência a que acontecem. A diversão está sempre presente. Contudo, a camara de jogo pode ser algo problemática, especialmente em áreas mais fechadas ou com muitos objectos no mapa.

Se é verdade que os nosso companheiros podem contribuir positivamente nas lutas, é igualmente verdade que também podem ser um grande peso morto, especialmente em lutas mais complicadas. Às vezes parece que não têm noção do perigo e não conseguem evitar situações mais complicadas. Aqui sente-se a falta de um sistema que permita personalizar o comportamento dos nosso companheiros; um sistema tal como o que estava presente em Final Fantasy XII.

Alguns elementos clássicos da série regressam, mas com alterações profundas. Magia, por exemplo, tem um número limitado de usos antes de ser necessário recolher mais quantidade do mapa mundo. Pode-se dizer que existe alguma semelhança com o Draw System do Final Fantasy VIII. A grande diferença está na possibilidade de se combinar magias com itens para criar efeitos secundários. Ou então, para criar magias mais eficazes. O número limitado de utilizações pode ser uma desilusão para alguns, mas as magias fazem parte das ferramentas mais poderosas em combate.

ffxv-review-titanSummons também estão de regresso, desta vez sob o nome Astrals. Estas poderosas entidades são muito impressionantes quando fazem a sua entrada no combate e são uma valiosa ajuda em situações complicadas. Mas as aparições destes seres celestiais são raras, porque só acontecem sob determinadas circunstâncias. Embora isto tenha o objectivo de demonstrar a superioridade dos Astrals, ou seja, de que fazem o que querem, acaba por ter um efeito inconsistente em termos práticos. Pode-se completar uma luta longa ou uma luta de boss sem que nenhum Astral apareça, para depois aparecer numa luta contra inimigos comuns e fracos.

Se a aparição de um Astral em batalha é entusiasmante, ganhá-los nem por isso. O jogo tenta fazer com que estas batalhas sejam momentos fantásticos, e pelo menos visualmente são, mas não necessitam de grande coisa por parte do jogador a não ser carregar num botão na altura certa e atacar até mais não. Depois é repetir o ciclo até atingir a vitória. O que começa como algo espetacular, perde a piada por deixar-se arrastar por demasiado tempo.

Visualmente, Final Fantasy XV é fantástico. Os vastos ambientes proporcionam grandiosas e variadas vistas. E maior impacto tem quando se conjuga transição dia/noite e condições climatéricas com a grande quantidade de detalhes colocada na criação do mundo. O jogo corre sem grandes problemas na PS4 Pro e na PS4 standard, embora na PS4 standard se note algum frame pacing. Os meios de viagem por Eos são eficazes de forma diferentes. Viajar de carro proporciona uma relaxante forma de avançar para o próximo objectivo enquanto se houve a picardia e as brincadeiras entre os quatro amigos. Os Chocobos são bons para utilizar em zonas por onde o carro não consegue andar.

A banda sonora composta Yoko Shimomura acompanha na perfeição todos os momentos da jornada, quer seja em alturas mais calmas em exploração ou em momentos mais épicos durante uma luta de boss. O voice acting em inglês é surpreendentemente bom, mas caso prefiram, podem alterar para as vozes japonesas.

Final Fantasy XV definitivamente acertou na escala, e mesmo após várias dezenas de horas de jogo, ainda é possível ficar surpreendido com aquilo que o título tem para oferecer. Contudo, nem tudo oferecido é interessante. A maioria das side quests são básicas e baseiam-se em apanhar itens ou em matar monstros específicos. Já as outras actividades adicionais, como as corridas de chocobos, apostas em combates de monstros e uma espécie de pinball, são boas distrações da campanha principal.

A jornada foi longa e a espera foi dolorosa. O peso das expectativas pode ser esmagador, e após um Final Fantasy XIII que dividiu a opinião dos fãs, a pressão sob Final Fantasy XV era imensa. Nesta perspectiva, Final Fantasy XV não é o bálsamo esperado e definitivamente não irá agradar a todos. Mas ao mesmo tempo, é um salto na direcção certa. A sensação de escala está muito bem conseguida e o desenvolvimento emocional deste grupo de quatro amigos é definitivamente um dos pontos altos. Inconsistências à parte, Final Fantasy XV é um bom título e merece a atenção dos fãs desta mítica série.

 

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela editora/distribuidora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8.5

8.5

Final Fantasy XV faz jus ao enorme peso que a icónica franquia da Square Enix tem, mas a história é um manto de retalhos, que se traduz numa narrativa abaixo do desejado.

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