Análises

The Surge

Um dia diferente no escritório.

Versão testada: PlayStation 4 Pro

The Surge… Já ouviram falar neste título? Provavelmente não, porque o marketing deixou a desejar. E aqueles que já ouviram falar, geralmente têm a reacção “meh, é dos mesmos gajos que fizeram Lords of the Fallen”. Não posso dizer que seja uma reacção surpreendente. Lords of the Fallen ficou aquém do que se esperava, muito por culpa de o estúdio Deck13 não ter compreendido o que é um “Souls” e o que torna este títulos tão interessantes. Mas agora, eis que chega The Surge, a segunda tentativa deste estúdio de tentar cativar os fãs de Souls, especialmente aqueles que gostavam de ver esta fórmula aplicada num ambiente sci-fi. E ao contrário do que aconteceu com Lords of the Fallen, The Surge consegue ser uma experiência positiva.

The Surge decorre num futuro distópico, onde a humanidade esgotou os recursos naturais e causou vários problemas ambientais. É aqui que entra a CREO, uma empresa tecnológica cujas experiências e pesquisas ambicionam “fazer do mundo um lugar melhor”. Como seria de esperar, as coisas não correram como o previsto. Warren, a personagem que iremos controlar ao longo do jogo, vê-se preso nas instalações da CREO e terá de enfrentar os antigos trabalhadores da empresa que se tornaram em máquinas assassinas, porque algo corrompeu os sistemas e os seus chips. Como Warren foi dos poucos não afectados, recebe a tarefa de descobrir o que se passa e, se possível, corrigir o problema.

Tal como nos Souls, a história, ou melhor, a explicação do que se passa, é feita através das falas dos NPCs e de outras pistas como, por exemplo, os audiologs. No entanto, The Surge não consegue apresentar uma quantidade consistente de informação que explique o que se passa, a ponto de chegarem ao fim e ficarem com imensas perguntas por responder. Os Souls também deixam muita coisa por responder, mas a quantidade de lore revelada é suficiente para o jogador unir as peças do puzzle e perceber, mesmo que por alto, a sequência de eventos. The Surge nunca consegue fazer isto consistentemente.

Outra coisa que The Surge não consegue fazer bem, é guiar o jogador na direcção certa. Certo, os Souls também não indicam o ponto exacto do objectivo, mas a missão atribuída juntamente com o design dos níveis “empurra” o jogador na direcção certa. O design das áreas em The Surge tem um estilo labiríntico, o que dificulta bastante o sentido de orientação. E a presença de alguma sinalização não é o suficiente para tornar a navegação menos confusa. Os Souls são subtis a encaminhar o jogador para a área seguinte, enquanto que The Surge falha neste aspecto.

No entanto, apesar de o destino nunca ser razoavelmente claro, há que destacar o excelente design das áreas. O estilo sci-fi pode não ser apelativo para todos, mas as diferentes áreas são visualmente consistentes ao longo de todo o jogo, o que faz sentido, pois os eventos decorrem num enorme recinto. E existe variedade suficiente para não parecer que estamos a andar sempre pelos mesmos corredores. Além disso, as áreas são interligadas e oferecem bastante verticalidade e horizontalidade, havendo áreas secretas, condutas e elevadores que funcionam como atalhos, e caminhos secundários.

Visualmente, o estilo sci-fi e industrial está bem conseguido e passa um sentimento “mecânico e de frieza. Os efeitos de luz e sombra, os efeitos especiais e a qualidade gráfica geral está igualmente bastante boa, e juntamente com os efeitos sonoros, consegue criar um excelente ambiente. Na PS4 Pro, a versão testada, é possível escolher entre jogar a 30 FPS com melhor fidelidade visual ou a 60 FPS com alguns compromissos no detalhe gráfico. Tendo em conta o ritmo de combate, 60 FPS é sem dúvida a melhor opção. Dito isto, The Surge é um jogo muito bem optimizado, portanto, quer joguem a 60 FPS ou a 30 FPS não vão ter problemas de performance.

Mas The Surge não se destaca dos Souls apenas no estilo sci-fi; o jogo destaca-se também através da sua jogabilidade. Aliás, a jogabilidade de The Surge é sem dúvida um dos principais pontos positivos. O combate, em termos de velocidade, situa-se entre Dark Souls e Bloodborne. É rápido e fluído, e tal como nos Souls, é necessário gerir bem a stamina. Se formos demasiado agressivos nos ataques a ponto de ficarmos sem stamina, ficamos em sérios apuros, pois os inimigos em The Surge não são brincadeira. O move set de cada tipo de arma é variado, oferecendo várias combinações de ataque graças à existência de ataques horizontais e verticais. E ainda é possível executar running attacks, backstabs e até pequenos saltos no mesmo sítio.

Além disso, The Surge apresenta alguma boas ideias. Uma delas é a forma como se obtém o loot. O sistema de lock-on permite-nos escolher que parte do corpo do inimigo atacar, o que por sua vez, nos dá maiores hipóteses de recebermos essa peça de equipamento. Se, por exemplo, necessitam de um helmet ou dos materiais para criar ou evoluir um, atacar os inimigos na cabeça dá maiores probabilidades de receberem o loot que querem. E poder escolher que zona do corpo atacar, é também uma opção estratégica, porque atacar zonas dos inimigos sem armadura faz com que o dano seja maior e possibilita que os inimigos fiquem staggered.

Outra ideia interessante está relacionado com a personalização da personagem. É possível equiparmos chips com diferentes bónus, à semelhança dos anéis nos Souls. A diferença é que em The Surge é possível equipar uma maior quantidade destes itens, e eles têm um maior impacto na optimização da build, dando assim mais incentivo para que existam mais trocas conforme a necessidade. A exploração pelas áreas talvez necessite de mais chips dedicados a aumentar a stamina e a quantidade de itens curativos, mas para os boss, talvez seja uma melhor opção aumentar a vida máxima.

Estruturalmente, The Surge tem uma abordagem um pouco diferente dos Souls. Nos Souls, os bosses são os pontos de destaque da campanha, havendo inimigos relativamente acessíveis de derrotar entre cada um. Mas The Surge apenas tem cinco bosses, cada um com as suas mecânicas, e a maioria é fácil de derrotar. Por sua vez, os inimigos normais em The Surge são mais difíceis que os comuns inimigos dos Souls. Em termos gerais, a dificuldade de The Surge é boa, sendo desafiante mas não frustrante…excepto na última área. A última área, devido à presença de um inimigo substancialmente mais forte que tudo o resto, abranda demasiado o ritmo na parte final do jogo, chegando até a ser frustrante.

Se forem veteranos dos Souls ou se jogaram outros jogos do género, são capazes de terminar The Surge em 25 horas, mas isto depende também do tempo que investirem em melhorar o equipamento e o tempo que perderem com coisas extra. E depois, ainda têm um New Game Plus com algumas surpresas à disposição, para poderem ir às zonas que ficaram por explorar ou para fazer as quests dos NPCs.

“Dos criadores de Lords of the Fallen” pode não ser uma boa frase publicitária, mas The Surge é a prova de que o estúdio Deck13 aprendeu com os erros. The Surge é uma aposta confiante num estilo de jogo semelhante a Souls, que consegue apresentar algumas ideias interessantes. O jogo não faz um bom trabalho a contar o que se passa e a última área é desequilibrada em termos de dificuldade. No entanto, o ambiente sci-fi, o design complexo dos níveis e o sistema de combate fluído, são suficientes para entregar um sólido título num género de jogo bastante familiar. Pode não ser tão bom como Nioh, Bloodborne ou os Souls, mas é um título que merece a atenção por parte dos fãs destes jogos.

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela Ecoplay para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8

8

The Surge é uma aposta confiante num estilo de jogo semelhante a Souls, que consegue apresentar algumas ideias interessantes. O ambiente sci-fi, o design complexo dos níveis e o sistema de combate fluído, são suficientes para entregar um sólido título num género de jogo bastante familiar.

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