Análises

Matterfall

Versão testada: PS4

Housemarque significa jogabilidade. Se há coisa que sabemos com que podemos contar da companhia finlandesa é que as mecânicas de jogo, controlos e restantes sistemas ligados ao ato de jogar, estarão polidas para tornar a experiência boa, e sobretudo voltar sempre para mais. Matterfall não é diferente, mas ao mesmo tempo também o é. O jogo está situado numa posição estranha no catálogo da Housemarque. Nunca se torna verdadeiramente apenas e só um jogo de arcada puro e duro, mas também não consegue ser mais nada do que isso, portanto, uma tentativa de tornar um side scroller num Resogun.

A história que é apresentada por Matterfall é irrelevante e desnecessária para o que vamos fazer durante a “campanha”. A descoberta de uma matéria alienígena abre a porta a possibilidades imensas de pesquisa e investigação para a raça humana. Acontece é uma chatice de esta se apoderar de tudo à sua volta, um organismo vivo. Tal como seria de esperar as coisas não correm muito bem para o nosso planeta e somos forçados a uma evacuação maciça. Para tratar do problema e ficar calada, sim é esta a linha de diálogo, nada como contratar uma bela mercenária, Avalon Darrow, com o seu fato de combate para tratar da coisa, onde é que eu já vi isto?
Uma pequena e insignificante exposição ao cenário, mas o jogo não perde por causa disso, nem é para isso que aqui estamos, mas é o que é.

Antes de qualquer explicação do que é Matterfall, convém esclarecer o seguinte, esqueçam qualquer noção que este jogo é uma evolução/refundação daquilo que foi a outra proposta de side scrolling da companhia, Outland. Se estão à espera de algo semelhante, à que procurar outras propostas. O jogo é, e não haverá mais simples do que isto, pegar em Resogun e transformá-lo, ou tentar pelo menos, num sidescroller. É uma proposta interessante sem dúvida, até porque Resogun é um excelente jogo de arcade. Mas será que funciona noutro género? Sim e não.
A primeira coisa a relatar é que não há dúvida que a jogabilidade continua, e bem, a ser o foco dos jogos da companhia. Controlos muito bons, responsivos, que possibilitam, uma vez habituados aos comandos, um domínio do personagem que é excelente. Existe, no entanto, um pequeno pormenor que convém mencionar. Vão utilizar os botões onde naturalmente fica o dedo indicador… para quase tudo. Isto indica que sim, vão utilizar o R1 para saltar. Não é muito comum isto acontecer, mas a razão é simples e revela-se acertada. Os analógicos são usados para movimento e disparo, e teriam que mover sempre o polegar direito para os botões faciais se fosse usado o sistema tradicional, X ou quadrado por exemplo. Este esquema possibilita mover o personagem, disparar e saltar, tudo ao mesmo tempo, sem tirar nenhum dedo de nenhuma função importante, porque sim, vão saltar, e muito. A melhor analogia será pensarem em Mirror’s Edge e como esse jogo utiliza os seus controlos.

Será necessário algum hábito, mas quando se sentirem confortáveis com o conceito verão que faz todo o sentido, proporcionando uma mobilidade pelo cenários excelente. Os controlos, apesar de importantes são apenas uma pequena parte das mecânicas que têm que dominar. Outra das grandes mecânicas que têm que se habituar a fazer rapidamente, sendo também ela super útil é usar o dash/investida que o personagem tem. Seria simples chamar a isto uma esquiva/dodge, mas felizmente faz muito mais que isso. Para além de nos livrar do dano permitindo uma deslocação rápida, torna o nosso personagem invencível enquanto estamos na animação de o fazer. No final do movimento é libertada uma pequena onda circular que congela os nossos inimigos, eliminando também outras balas que vinham na nossa direção. É uma das mecânicas mais importantes para usar, e possibilita por vezes quase um God mode, onde deslizamos pela cenário/ar praticamente invencíveis. Apenas é possível realizar este movimento em quatro direções, o que limita algumas da suas possibilidades, mas por outro lado permite que o seu uso seja mais deliberado.

Para além da excelente mobilidade, temos também outros brinquedos ao nosso dispor para nos livrarmos dos inimigos. Tal como noutros jogos estão espalhados pelo cenário humanos para que possamos salvar. Ao fazermos isto somos recompensados com armas e habilidades secundárias, das quais podemos equipar 3, nas combinações que quisermos. Existe também uma mecânica de abrandar o tempo, que permite desenrascar situações mais complicadas quando há muitos inimigos no cenário. Para dar alguma variedade ao loop de jogo de disparar e mover contante, temos uma arma de matéria que está sempre disponível, que permite solidificar determinadas plataformas durante os níveis para que assim possamos chegar a áreas mais inacessíveis, ou mesmo bloquear as balas dos inimigos.

Não há nada para demover o jogo da jogabilidade muito boa que tem, o questão é o resto do jogo. Não será por ventura o maior problema do jogo, mas contribui claro para o sentimento de repetitividade que cedo se revela, que é o muito pouco conteúdo que o jogo tem. Temos 3 níveis, cada um com 4 áreas cada. Fiquei um pouco espantado com o baixo número ao início, mas pensei, bom se eles forem bons e me derem vontade de melhorar constantemente a pontuação não haverá problema. Ainda posso concordar com quem pense que 12 níveis não podem ser representativos de nada, para o bem e para o mal, mas é quando são quase todos praticamente iguais e repetitivos que a coisa não funciona. Temos um prato da balança extremamente polido e muito bom de se usar, mas do outro lado não temos nenhum sitio interessante ou suficientemente satisfatório para o usar, revelando-se um balanço complicado. A longevidade dependerá de cada um, mas isto não é um jogo para aqueles que gostam de o passar apenas uma vez, aliás esse conceito nem se deverá aplicar aqui, uma vez que selecionamos níveis e a sua dificuldade para melhorar a nossa pontuação.
Uma coisa é ter poucos níveis e estes serem variados o suficiente e proporcionarem diferentes desafios, que é o que normalmente faz um bom jogo arcade. Aqui temos uma jogabilidade excelente aliada a conteúdo francamente desinspirado, incluindo nisto os bosses, que no caso apenas contribuíram para o aborrecimento se instalar mais rapidamente.

Tecnicamente o jogo é bastante competente. Corre a 60fps e não me lembro de ter saído desse valor. O aspeto visual industrial infelizmente mantém-se durante todos os níveis, não contribuindo para diferenciar neste ponto as partes por onde passamos, interessante mas despido de estilo. Apesar de alguma ausência de saturação de cores que esperava ver, a iluminação consegue ser em alguns pontos interessante, sobretudo com os efeitos das armas que temos ao nosso dispôr. As explosões de voxels são sempre um delícia de se ver, especialmente intensas depois de abrandarmos o tempo para destruir um número considerável de inimigos.
Mecanicamente existe uma pequena animação que acho que poderia ser melhorada, que é quando tentamos saltar para uma qualquer plataforma. Não existe uma animação para o personagem se agarrar quando, um salto por exemplo, fica a centímetros de o conseguir, provocando alguma situações estranhas de mortes que normalmente poderiam ser evitadas.
No campo sonoro a eletrónica está em força, e apesar de ser uma boa componente, não existe nada que se consiga destacar para ficar no ouvido, tornando este aspeto um pouco mais monótono.

Este jogo encontra-se num limbo um pouco estranho. Por um lado temos a grande jogabilidade que costuma caracterizar os jogos da Housemarque, por outro não temos conteúdo suficientemente interessante ou apelativo/desafiador para tornar a busca por melhores pontuações, algo que nos faça voltar para mais.
O jogo acaba por não ser uma experiência totalmente arcade nem algo que se aproxime de um side-scroller mais tradicional. Mesmo a quantidade de inimigos que carateriza os mais tradicionais bullet hell parece por vezes ausente. A jogabilidade acaba por salvar o que é um pacote francamente desinspirado para o que a Housemarque nos habituou. É bom, mas nunca chega a realizar todo o seu potencial.

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela PlayStation para efeitos de análise.

Nota Final - 7

7

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