Análises

Project CARS 2

Em luta pela pole position!

Versão testada: PlayStation 4 Pro

A segunda metade deste ano promete ser fantástica para os fãs de jogos de corridas. Não só receberam um bom jogo de Formula 1, como em breve vão receber um novo Forza Motorsport e a nova iteração da franquia Gran Turismo. Mas há outro jogo a ter em conta: Project CARS 2. E porquê? Porque ambiciona entregar uma experiência de corridas que mais nenhum outro jogo até agora conseguiu entregar. E na maior parte do tempo, cumpre com o objectivo. Pelo menos, até se depararem com alguns dos vários bugs e problemas.

Antes de mais, devo dizer que não joguei Project CARS 2 com um volante, por isso, não posso responder à dúvida se este título tem um Force Feedback melhor ou pior que o título anterior. Posso, no entanto, responder a outra dúvida igualmente importante. Como é jogar Project CARS 2 com comando? Bem, diria que muito melhor que o primeiro Project CARS. Não são necessários tantos ajustes à saturação e deadzones, e é mais fácil de encontrar definições que se enquadrem aos gostos de cada um. No primeiro Project CARS, por mais ajustes que fossem feitos, era complicado conduzir determinados tipos de carros, porque qualquer imput tornava o carro demasiado instável. Desta vez dá para conduzir de forma razoável mesmo os carros mais rápidos.

Mesmo jogando de comando, dá para perceber que a física e o comportamento dos carros melhorou face ao título anterior. Dá para sentir quando um carro está no limite da aderência, e o próprio feedback visual é mais notório. É espectacular ver a forma como os carros reagem às imperfeições dos traçados e à passagem pelos correctores. E estes são dois pontos a ter em conta na hora de abordar uma curva. Por exemplo, o piso de Long Beach é muito irregular e imperfeito. Se entrarem demasiado depressa numa curva, correm o risco de o carro ressaltar numa dessas imperfeições e ir contra o muro. Ou então Sonoma Raceway. Se passarem demasiado forte por cima dos enormes correctores, em especial nas curvas 8 e 9, o carro pode não conseguir lidar bem com isso e ir em frente para a terra.

A autenticidade também chega às ajudas disponíveis. Project CARS 2 inclui uma opção que recria as ajudas que um carro tem disponíveis de origem na realidade. Os carros de GT3, por exemplo, têm ABS e TCS, mas os carros da classe GTO, tipo Ferrari F40 LM, não têm nenhuma ajuda. Esta opção é uma excelente inclusão para aqueles que querem recriar na totalidade como um carro virtual se comporta comparativamente ao seu congénere real.

A quantidade de pistas presentes em Project CARS 2 é de facto muito boa. Além de pistas clássicas como Mount Panorama, Spa-Francorchamps, Silverstone e Nürburgring, podem contar também com pistas menos utilizadas em jogos do género tipo Watkins Glen, Brno e até o circuito do Algarve. As pistas estão fielmente recriadas, incluindo os desníveis e irregularidades. A variedade de pistas conjuga muito bem com outro factor sempre presente no desporto motorizado: as condições climatéricas. Começar uma corrida com nuvens carregadas, passar para chuva forte, até progressivamente parar de chover. No processo, algumas partes da pista têm mais água que outras, e há medida que os carros vão correndo, a trajectória vai secando mais depressa.

E é isto que torna Project CARS 2 tão interessante para os fãs de desporto motorizado. Seja chuva, sol intenso, forte nevoeiro ou o típico frio de inverno, tudo tem efeito nos carros e como estes reagem ao longo das corridas, e Project CARS 2 consegue recriar estas situações de forma exemplar. E claro, também está presente a transição dia/noite. Querem fazer as 24 horas de Le Mans? Força, o jogo tem todas as ferramentas necessárias para isso. No entanto, seja um bug ou falta de atenção, é uma pena que os carros não deixem o rasto dos pneus na água ou na neve. É um pequeno pormenor, mas é algo que se nota devido a tudo o resto que o jogo faz bem neste departamento.

Project CARS 2 conta com cerca de 180 carros de várias categorias, desde Karts aos Formula, desde os GT3 aos LMP1, e claro, uma boa selecção de carros de estrada. Todos os carros estão muito bem modelados, e a presença destes carros na estrada é realista. Os carros têm a proporção certa, fazendo com que, naquelas alturas em estão a tentar recriar campeonatos estilo Blancpain GT Series, as corridas sejam muito parecidas com aquelas que passam na televisão.

A Inteligência Artificial (IA) é que deixa um pouco a desejar. Podem ajustar a dificuldade da IA e a agressividade quando estão em duelo directo. Em situações normais, ou seja, quando a dificuldade está perto ou abaixo dos 75 e a agressividade em 40 ou menos, a IA porta-se bem, e até oferece duelos realistas e intensos, particularmente na categoria GT3. No entanto, ao colocar a dificuldade da IA em 100 abre um novo leque de problemas, porque a segunda metade da grelha de partida tende a ter acidentes logo à partida e cria um molho de carros uns em cima dos outros. E isto é apenas um dos vários problemas que Project CARS 2 tem.

O primeiro Project CARS quando foi lançado, apresentava uma valente lista de bugs e problemas. Agora, sem a mesma pressão, havia a expectativa de que a Slightly Mad Studios tivesse conseguido polir melhor o jogo antes de o lançar. Tal não foi o caso. Além da situação da IA referida em cima, podem ainda contar com uma linha de corrida que não funciona correctamente em nenhuma pista, carros da IA que andam 30 segundos mais rápido em qualificação quando a passam à frente (skip to end), túnel no Mónaco fica inundado e faz com que seja impossível controlar o carro, menus muito lentos, replays das corridas que mostram erradamente os carros da IA parados na grelha de partida, a voz do engenheiro que teima em não sair pelas colunas, e o constante “piscar” das sombras, principalmente nos replays. Eventualmente, estes e outros problemas deverão ser corrigidos com actualizações, mas o que importa é o jogo agora. E é uma pena que um núcleo tão bom seja manchado por falta de polimento.

Além de Time Trial e Custom Race, têm à disposição um Career Mode. Este modo carreira, tal como no jogo anterior, oferece a escolha em que disciplina começar a jornada. Se, por exemplo, gostam de GT mas não gostam de open wheel, podem manter-se apenas na disciplina de GT, começando em GT5 ou GT4. Mas são livres de escolher uma outra disciplina em qualquer altura. Pelo meio, podem participar em eventos especiais das marcas, oferecendo assim uma “pausa” das competições. O modo carreira também faz um bom trabalho a tentar recriar algumas das regras das competições reais, como fazer a volta de formação da grelha, para depois proceder à partida rolante. No geral, gostei do empenho em tornar o modo carreira mais parecido com a realidade, sem que isso tornasse a progressão aborrecida.

Como não poderia deixar de ser, Project CARS 2 inclui um modo online, que agora suporta totalmente campeonatos online e apresenta um novo leque de opções de visualização das corridas. A componente online foi construída com o objectivo de evitar as situações tóxicas que os fãs deste género de jogos conhecem bem. Para isso, existe algo chamado Competitive Racing License. Esta funcionalidade regista a reputação de cada jogador conforme as suas acções nas corridas, para posteriormente ser usada na criação das salas online. Se os jogadores não tiverem um determinado mínimo de reputação, não irão conseguir entrar nessa sala. Com isto, os jogadores que entrarem na sala deverão conseguir ter corridas com menos toques e empurrões. E claro, a funcionalidade também tem em conta a habilidade de cada jogador, para assim encontrar adversários com uma habilidade semelhante. Trata-se sem dúvida de uma boa adição, e ao longo do meu tempo no modo online, não tive problemas de maior.

Visualmente, os carros estão bem modelados e detalhados, e os efeitos de luz e da chuva são de grande qualidade. No entanto, os gráficos de Project CARS 2 não representam um grande salto face ao primeiro título. Sim, os gráficos e os efeitos estão mais detalhados, mas ficam aquém do esperado. Isto é ainda mais evidente quando se olha para o cenário em redor das pistas. Algumas até que estão razoavelmente boas, mas outras apresentam estruturas pouco detalhadas e texturas de baixa resolução. A nível de performance, na PlayStation 4 Pro, não notei grandes problemas relacionados com quebras de fluidez, nem mesmo com uma grelha de partida cheia. Contudo, notei algum screen tearing ocasional em situações muito especificas, como numa corrida com uma grelha cheia e chuva torrencial. Adicionalmente, os danos nos veículos também podiam estar visualmente melhor pormenorizados.

A nível sonoro, Project CARS 2 é um título melhor que o seu antecessor. Juntamente com o som dos motores fielmente recriados, nota-se bem o “choro” da transmissão, o esforço do carro nas travagens fortes, e até o chiar das suspensões quando sob muito stress. A dinâmica dos sons durante os replays é sem dúvida um ponto positivo, e quem gosta de carros, facilmente irá conseguir reconhecer o trabalhar dos motores.

Project CARS 2 é inconsistente, mas quando funciona bem, que é a maioria das vezes, oferece uma grande representação do desporto motorizado. Por debaixo de uma camada de problemas existe um recheio de qualidade, que apresenta um vasto leque de opções que poucos jogos do género conseguem oferecer. A fundação está lançada e é boa; apenas precisa de alguma atenção extra para extrair todo o potencial deste bom simulador.

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela Bandai Namco para efeitos de análise.

Nota Final - 8

8

Project CARS 2 é uma boa representação do desporto motorizado, mas apresenta uma qualidade inconsistente.

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