Análises

Gran Turismo Sport

Versão testada: PS4 Pro

Gran Turismo está quase a fazer 20 anos e é uma das franquias de maior sucesso da PlayStation. O slogan “o verdadeiro simulador de condução”, presente em todos os títulos desta série, pode fazer torcer o nariz a muita gente, principalmente a quem anda normalmente pelos simuladores mais hardcore no PC, mas a verdade é que Gran Turismo sempre teve uma mística que poucos outros jogos de corridas conseguem ter. Essa mística permitiu várias parcerias com construtores, marcas ligadas ao desporto automóvel e pilotos, e isso continua neste Gran Turismo Sport.

GT Sport marca uma mudança de estilo. Enquanto que os anteriores eram mais virados para o coleccionador de carros, GT Sport é mais focado no desporto motorizado. De parte fica uma gigantesca lista de carros, para dar lugar a uma lista mais pequena, cerca de 160, mas mais concisa para o objectivo proposto pelo jogo. De momento não estão presentes marcas como Cadilac ou Lotus, mas estão presentes carros de marcas icónicas como Ferrari, Porsche, Mercedes, BMW ou Toyota. Sendo fã de desporto motorizado, foi com grande entusiasmo que pude ver uma lista de carros que englobam muitas opções dentro das categorias GT4, GT3 e LMP1.

A condução propriamente dita é semelhante a GT6, mas mais refinada. Notam-se mais as transições de peso e os diferentes tipos de pneus, a perda de aderência é progressiva, e o movimento das suspensões e a reacção do chassis apresenta um maior feedback. Em asfalto, mesmo não sendo tão realista como alguns simuladores no PC, os carros apresentam um comportamento natural. Contudo, continuo a não ser grande fã de rally em Gran Turismo. Nestas provas, parece que o carro é demasiado leve e que não tem grande resistência.

Estruturalmente, a parte single player difere bastante das dos anteriores Gran Turismo. Em vez campeonatos temáticos ou com restrições de potencia e tipo de tracção, GT Sport apresenta uma campanha que gira à volta de missões. Estão disponíveis três tipos: os testes de condução, desafios, e conhecimento dos circuitos. Os fãs de Gran Turismo certamente que estão familiarizados com os testes de condução. Funcionam de forma semelhante às licenças e servem para o jogador praticar os básicos. O conhecimento dos circuitos desafia o jogador a aperfeiçoar um traçado, oferecendo primeiro um teste por secções. Os desafios acabam por ser uma mistura dos outros modos. Alguns pedem que se complete determinada pista dentro de um tempo limite, outros pedem que se atinge uma velocidade específica ou que se acabe uma corrida de 2 voltas em primeiro lugar. Como não poderia deixar de ser, também estão disponíveis corridas de endurance, onde o jogador terá de ir às boxes trocar de pneus e reabastecer. De salientar que a equipa de boxes é completamente animada.

Cada conjunto de provas completado premeia o jogador com um novo carro escolhido aleatoriamente de um grupo pré-determinado. Como não dá para comprar peças para os carros, o dinheiro obtido nas corridas serve apenas para comprar os carros que gostam muito e querem conduzir em single player ou no online. As provas também dão milhas como recompensa. Esta moeda é utilizada para se comprar capacetes, fatos de competição e decalques, entre outros itens cosméticos. Além da campanha, está disponível também o arcade mode. Este modo permite criar corridas personalizadas, fazer voltas em contra-relógio e até fazer drift. Conforme vamos fazendo provas na campanha e no modo online, vamos ganhando pontos de experiência. Por cada nível de perfil ganho, são desbloqueadas pistas para o Arcade, assim como algumas recompensas cosméticas.

Para alguns pode ser uma desilusão que GT Sport não tenha um modo single player tradicional que a série já nos habituou, mas isso até é positivo. Em vez de ter mantido a mesma estrutura e eventos de há já 20 anos, a Polyphony Digital fez várias alterações para entregar algo diferente, diria até com menos palha. É verdade que certas coisas foram sacrificadas, mas o resultado final é uma componente bem menos aborrecida do que fazer campeonatos tipo Clubman Cub ou Sunday Cup. Mesmo tendo menos eventos que os anteriores títulos, GT Sport ainda tem conteúdo single player suficiente para umas quantas dezenas de horas, e ainda há a promessa de mais a caminho, não só eventos, como carros e pistas.

Quando estiverem confiantes das vossas capacidades, podem enfrentar outros jogadores no modo online. Quem já se aventurou pelas salas públicas noutros jogos de corrida nas consolas, sabe muito bem que por vezes, ou melhor dizendo, na maioria das vezes, é o caos total em pista. Por essa razão, é surpreendente que o online tenha um foco tão grande em GT Sport. Felizmente, a Polyphony Digital fez um grande trabalho para tentar dar uma grande experiência aos jogadores. E como fez isso? Deu mesmo resultado?

GT Sport utiliza um sistema inspirado no iRacing, que visa separar aqueles que querem corridas limpas daqueles que são fãs de Destruction Derby. Para isso, o jogo segue permanentemente a nossa habilidade e o nosso desportivismo em pista, e há medida que vamos fazendo corridas no online, somos colocados num grupo de pilotos que têm um comportamento em pista semelhante ao nosso. Isto significa que se forem respeitosos em pista e tentarem fazer corridas limpas, vão ser colocados contra outros jogadores que simplesmente querem corridas desafiantes mas sem abalroamentos. Se, por outro lado, utilizarem os adversários como travão, então, vão ser colocados contra outros pilotos que não têm qualquer senso comum em pista.

Este sistema não é novo e há outros jogos de corridas que tentam fazer algo semelhante usando os seus próprios sistemas. Contudo, por GT Sport utilizar um sistema já provado pelo iRacing, os efeitos em pista são enormes. Como tenho um rank de desportivismo “A”, as corridas que fiz foram limpas ou com toques muito ligeiros e sem grande consequência para ninguém envolvido. Nunca tinha tido tantas corridas limpas em salas públicas como tive em GT Sport. E mesmo que as penalizações não sejam 100% acertadas, isto é algo que deve ser louvado, porque realmente funciona e tem impacto no divertimento. O que também deve ser louvado é a estabilidade das ligações. Tanto na demo que decorreu na semana passada como no jogo final, ou seja, em dezenas de corridas online, não tive qualquer experiência de lag ou problema do género.

No modo online podem criar as vossas próprias salas, com as definições e restrições que bem entenderem, mas é na vertente Sport que a coisa fica mais séria e competitiva. Aqui podem participar em corridas pré-definidas, cujas definições, pistas e carros vão mudando de forma regular, e brevemente, vão poder participar em campeonatos patrocinados pela FIA, assim como campeonatos de marcas. No geral, toda a minha experiência online no GT Sport foi extremamente agradável e consideravelmente melhor do que esperaria num jogo de corridas numa consola.

Se há algo que desilude é a lista inicial de traçados disponíveis. É uma pena que pistas como Le Mans, Spa, Silverstone e Monza estejam ausentes do jogo. São pistas icónicas do desporto automóvel, e que estavam presentes no Gran Turismo 6. Pelo lado positivo, as pistas reais incluídas estão muito bem recriadas e detalhadas, e até as pistas fictícias conseguem apresentar um layout interessante. Destaco particularmente os traçados Dragon Trail e Autodrome Lago Maggiore.

Condições climatéricas e transição dia/noite foram duas outras coisas a não serem incluídas. As condições climatéricas não estão presentes no jogo base de momento, mas isso é algo que será adicionado em breve, porque no menu de escolha de pneus estão lá pneus intermédios e pneus de chuva, e porque os carros já foram actualizados com a informação necessária para lidar com este elemento. Quanto à altura do dia, em vez de dar para escolher uma hora especifica, apenas podemos escolher alturas pré-definidas, que variam de pista para pista.

Independentemente da pista ou da altura do dia pré-definido escolhido, é inegável a qualidade gráfica apresentada por GT Sport. Nos anteriores títulos, a qualidade gráfica e a performance eram inconsistentes. Era notória a diferença de detalhe entre carros premium e standard, e os jogos não corriam sempre a 60 fps. Aqui, GT Sport também foge ao que é “tradição” da franquia, apresentando 162 veículos fielmente recriados e com um alto nível de detalhe, tanto no exterior como no interior. A atenção ao detalhe é tal, que os interiores conseguem apresentar exemplarmente os diferentes tipos de materiais usados na sua construção, incluindo até as costuras. O próprio para-brisas, sob as condições certas, consegue reflectir o interior do carro. As paisagens e os cenários são de uma qualidade acima do que o género nos tem apresentado, e dá mesmo a sensação de que a pista está situada num mundo maior. O sistema de iluminação conjuga tudo para apresentar uma imagem coesa e bela, e por vezes, quase fotorealista.

A performance também surpreende, porque é estável. Das minhas dezenas de horas de jogo não notei quebras de fluidez, o que é sem dúvida uma melhoria face ao que GT5 e GT6 nos deram. No caso da PS4 Pro, podem escolher entre dar prioridade à resolução ou à framerate. Em qualquer um destes modos, a fluidez não é afectada, mas a opção framerate permite que os replays também corram a 60 fps, algo extremamente raro nas consolas. E tendo em conta o aspecto gráfico, esta maior fluidez dos replays realça todo o esforço do estúdio em entregar um título tecnicamente forte.

Tratando-se de um Gran Turismo, há sempre a tal infame questão dos sons. Nos anteriores títulos, os carros pareciam aspiradores. Para GT Sport, a Polyphony finalmente deu mais atenção a este “pormenor”. Os carros finalmente parecem… carros. Isto é particularmente notório nos carros de competição, pois agora já se consegue ouvir o roncar do motor em esforço e dos escapes nas desacelerações. Além disso, o som tem algum dinamismo, o que significa que a intensidade do som do motor e da transmissão varia conforme a camara de condução escolhida.

As músicas, tal como já nos habituaram, enquadram-se perfeitamente na alma Gran Turismo. Aliás, toda a experiência da interface de utilizador é excelente. Os menus são fluídos, as opções estão facilmente acessíveis, e tudo funciona de forma super prática. Sem dúvida, a melhor interface de utilizador que já vi num jogo de corridas.

GT Sport não é o típico Gran Turismo. Mas numa altura onde existe maior competitividade dentro do género, esta parece ser a altura certa para a série tentar reinventar-se. Foi sacrificado bastante para atingir esse objectivo, mas em compensação, estamos perante o melhor Gran Turismo a nível técnico, a nível de consistência dos elementos apresentados e, acima tudo, do Gran Turismo mais divertido que a Polyphony Digital já nos trouxe. Recomendado para qualquer fã de jogos de corrida ou adepto do desporto motorizado.

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela PlayStation Portugal para efeitos de análise

Nota Final - 9

9

GT Sport distancia-se dos anteriores títulos desta franquia, e visa oferecer uma experiência mais virada para o desporto motorizado.

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