Análises

Furi (Nintendo Switch)

Comedidamente furioso

Versão testada: Nintendo Switch

Furi abre connosco a sermos torturados por um guarda que nos avisa: “eu sou o teu futuro: uma eternidade de mortes lentas e dolorosas.” É uma boa descrição do jogo: uma sequência de longas boss fights onde vamos perder vezes e vezes sem conta, até conseguirmos resistir e triunfar, apenas para sermos torturados pelo próximo guarda/prisioneiro que nos separa da liberdade.

Entre lutas, há pequenas sequências onde caminhamos por uns belos e bizarros cenários, ouvindo o nosso misterioso libertador vestido de coelho cor de rosa a revelar – sempre de forma críptica – mais sobre os nossos inimigos e passado, levando-nos a questionar porque é que fomos presos e se não o merecemos.

Tudo muito intrigante e tal, mas quando começam as batalhas, não há espaço na cabeça para mais nada. Furi mistura duelos samurai com shoot’em ups. Com o analógico direito disparamos, enquanto nos movemos e mantemos à distância, evitando um sem fim de tiros e padrões caóticos de lasers para nos aproximarmos e aproveitar qualquer abertura que nos permita atacar com a espada e causar dano a sério. Se os primeiros contactos com um inimigo podem ser intimidantes, cada derrota é uma oportunidade para aprender – e há muito a aprender. É importante ter reflexos para nos esquivar-mos, mas nada é mais importante que o parry (contra-ataque), que, feito no instante certo, nos devolve um pouco de vida e deixa o inimigo exposto. É essencial aprender os padrões dos inimigos; jogar às cegas é inútil e é preciso ter frieza e paciência.

Por debaixo da velocidade estonteante do combate, do brilho dos neons e dos brutais synths da incrível banda-sonora a cargo de Carpenter Brut, Danger e Toxic Avenger, entre outros, Furi é um exercício de contenção.
Esvaziar as várias barras de energia de cada boss – cada uma revelando novos padrões de ataque – é uma tarefa árdua, especialmente porque nós só temos três barras e, ao perdermos uma, o inimigo recupera a dele, voltando ao início do seu actual padrão. Por outro lado, ao eliminar uma barra do inimigo, nós também recuperamos, resultando numa espécie de jogo da corda demorado e potencialmente frustrante.


É inevitável perder e isso significa ter de passar várias vezes pelos mesmos padrões de ataque até finalmente chegar ao fim de cada batalha. Por um lado, isto pode ser repetitivo e cansativo, mas, por outro, se estás sempre a repetir as mesmas tácticas sem sucesso, estás a fazer alguma coisa mal. Ao perceber as melhores estratégias para cada luta e apanhar o timing certo para fazer parry, uma batalha que inicialmente parece forçar-nos a ter de aguentar fases intermináveis mostra-se perfeitamente “acessível”, mais curta do que parecia e dependente apenas do nosso grau de perícia.
Depois de muitas derrotas, consegue-se transformar o que era um ciclo aparentemente interminável de tortura e morte numa vitória; o sentimento de recompensa é doce, se bem que rapidamente estamos a levar na boca outra vez.

A versão Switch de Furi tem todos os conteúdos extra lançados para as outras versões, mas perdeu leaderboards globais pelo caminho, ganhando um modo speedrun na dificuldade mais alta exclusivo para esta versão. Os gráficos são mais fracos do que nas outras versões, claro, mas a diferença não é gigantesca; há algumas quebras de framerate bem óbvias aqui e ali, mas não deixa de ser um port bem feito e uma versão bem apetecível do jogo.

Uma delícia para os olhos e ouvidos, Furi castiga o jogador, mas é quase sempre justo e ridiculamente entusiasmante enfrentar e conquistar. Um jogo arcade no seu coração, é óptimo para quem não se importa com a repetição e gosta de ser testado e desafiado.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8

8

Furi sabe como usar dificuldade para incentivar o jogador a aprender e melhorar, sempre com imenso estilo. Não é para os fracos de coração ou impacientes.

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