Análises

Ni no Kuni II: Revenant Kingdom

Evan no país das maravilhas

Versão testada: PlayStation 4 Pro

“Eu sou do tempo” é uma expressão que faz-me parecer mais velho do que sou, mas dado o contexto, acho que é a expressão correcta a usar. Eu sou do tempo em que os JRPGs usavam o conceito de overworld para mostrar um mundo inteiro para explorar, com muitos segredos para descobrir, e novos inimigos para enfrentar. Ni no Kuni II: Revenant Kingdom faz-me voltar a esses tempos; faz-me voltar aos tempos em que literalmente, percorria livremente um mundo em busca do desconhecido.

Revenant Kingdom não se afasta dos JRPGs modernos apenas em conceito, como também em termos de história. Em vez de uma aventura épica cinematográfica cheia de acção, o JRPG desenvolvido pela Level-5 oferece uma história magica, ou se preferirem, um conto de fadas. O protagonista é Evan, um jovem e muito ingénuo rei que apenas tem um simples objectivo: trazer a paz a todo o mundo. Evan, juntamente com o misterioso Roland, embarcam numa viajem esperançosa com o intuito de cumprir esse objectivo. Pelo caminho, vão arranjar aliados, construir um reino e, sem surpresas, enfrentar uma terrível ameaça.

Se não jogaram Ni no Kuni: Wrath of the White Witch não se preocupem, pois não se trata de uma continuação directa. Sim, existem algumas referências, mas a história de Ni no Kuni II é nova e autónoma. O que aconteceu em Wrath of the White Witch é visto como uma lenda em Revenant Kingdom. No geral, achei a história interessante, tendo inclusive sido apanhado de surpresa algumas vezes. Não é a melhor história de sempre de um JRPG, e nem sei se é melhor que a de Wrath of the White Witch, mas achei boa e cativante o suficiente para me fazer continuar para a frente para ver o que iria acontecer a seguir. E honestamente, de vez em quando sabe bem experienciar uma história com um tom mais positivo e esperançoso.

Revenant Kingdom mantém um estilo visual semelhante ao visto no seu antecessor, o que não é uma surpresa, já que o character designer é Yoshiyuki Momose, um artista do estúdio de animação Studio Ghibli, que também colaborou em Wrath of the White Witch. O estilo anime e o traço artístico usado tornam este jogo num título muito belo e apelativo, algo reminiscente dos filmes de animação do Studio Ghibli. Tanto na PS4 Pro como na PS4 standard, o jogo corre a 60fps, embora tenha notado algumas quebras de fluidez no modo 4K na PS4 Pro durante a exploração no overworld. Tirando estes pequenos percalços, a performance aliada à fluidez, tornam a experiência muito precisa e responsiva.

O que também melhorou a experiência foi a alteração de sistema de combate. Foi uma decisão arriscada, mas no final, foi para o melhor. Revenant Kingdom deixou de lado os combates por turnos para abraçar o estilo action RPG, semelhante a Tales Of ou a Star Ocean. Podemos andar livremente pelos campos de batalha e atacar quando queremos, tendo à nossa disposição várias ferramentas. Além dos ataques básicos normais e fortes, temos também a possibilidade de utilizar ataques especiais que consomem MP. Estes ataques especiais podem ser melhorados, caso tenhamos os materiais certos, ou podemos adquirir novos ataques especiais, sendo que estamos limitados a quatro ataques especiais diferentes nas batalhas.

Com isto, os Familiars do título anterior desapareceram. No seu lugar apareceram os Higglidies, pequenos e estranhos seres mágicos, que prestam suporte durante as lutas. Ao longo das batalhas, eles colocam o seu símbolo no chão, e ao entrarmos no circulo, damos a ordem para eles fazerem o seu golpe especial, que tanto pode ser curar a equipa como fazer um ataque poderoso contra vários inimigos em simultâneo. Estes seres podem ser encontrados em pedras especiais espalhadas pelo mundo ou criados no nosso reino, e posteriormente, podemos evoluí-los ao dar-lhes o tipo de itens que eles mais gostam.

Além das normais batalhas, existem também um outro tipo de lutas estilo RTS chamadas Skirmishes. Aqui controlamos pequenos batalhões em tempo real ao longo do campo de batalha para completar objectivos específicos. Cada batalhão tem a sua função e ataques especiais, e o ataque e defesa dos nossos batalhões contra os batalhões inimigos são determinados num sistema de pedra, papel e tesoura , como tal, é necessário gerir bem o posicionamento do nosso exército em campo. Os Skirmishes são interessantes e surpreendentemente profundos, trazendo uma boa dose de variedade à jogabilidade.

Um outro importante elemento da jogabilidade é a construção do reino. Para Evan e companhia conseguirem atingir o objectivo de trazer paz a todo o mundo, primeiro precisam de construir um reino de raiz. Neste modo podemos construir edifícios para diferentes finalidades, recolher materiais e dinheiro, e reinvestir tudo na construção de mais infraestruturas e no desenvolvimento das já existentes. Depois, é necessário arranjar pessoal qualificado e colocá-los na função correspondente às suas habilidades. Com o tempo, o reino vai-se tornando mais eficaz e vai aumentando de tamanho.

A construção do reino não é apenas estética. Ao longo da história, vamos visitar outros países onde podemos comprar itens e armas. Mas ao evoluir Evermore, o nosso reino, vamos ter acesso a novos e raros materiais, a armas e armaduras mais poderosas, e a novas magias. Além disso, também podemos desenvolver tecnologias que nos dão bónus, como o aumento de experiência e dinheiro nas batalhas ou a habilidades que tornam os nossos batalhões mais eficazes nos Skirmishes. Não é um modo super complexo, mas complementa muito bem o tema da história e recompensa aqueles que quiserem investir mais nesta mecânica.

Wrath of the White Witch foi notoriamente conhecido pela sua dificuldade. Ao longo da campanha existiam aumentos de dificuldade muito agressivos, que acabavam por se tornar barreiras complicadas de ultrapassar. Revenant Kingdom também deve ser criticado pela sua dificuldade, mas por motivos opostos. Tirando um ou outro boss, a história é fácil de passar e não oferece grandes desafios. Desta vez, não há grande necessidade de andar a subir de nível sempre que se avança para uma nova área. Aliás, aconselho a que não seja feito qualquer tipo de grind, sob o risco de trivializar a campanha. E infelizmente, não existe uma opção de escolha de dificuldade.

Caso queiram algum desafio, as única opções são os Tainted Monsters, versões mais fortes dos monstros que estão espalhadas pelo mundo, ou então, as Dreamer’s Doors, dungeons divididas por níveis que se tornam progressivamente mais difíceis quanto mais tempo lá estivermos. Mas é uma pena não existir maior desafio no jogo, porque as lutas são rápidas, dinâmicas e bastante divertidas, especialmente contra inimigos do mesmo nível ou com um nível superior.

É sempre complicado tentar catalogar a longevidade de um RPG, mas campanha de Revenant Kingdom anda entre as 35 e as 55 horas de duração, dependendo daquilo que façam ao longo do jogo. Terminada a campanha, resta o objectivo de arranjar mais pessoal qualificado e colocar o reino no nível máximo, completar todas as Dreamer’s Doors e apanhar todos os Higglidies. O jogo oferece muito conteúdo, pecando apenas na pouca diversidade de missões secundárias. Estas side quests tornam-se algo aborrecidas, pois são simples fetch quests de ir apanhar um item ou matar um monstro.

Em termos sonoros, a banda sonora composta por Joe Hisaishi não consegue atingir os pontos altos da banda sonora de Wrath of the White Witch, mas ainda assim, consegue apresentar músicas com um bom nível de qualidade que se encaixam perfeitamente na acção ou nos temas das cidades. Uma das minhas músicas favoritas é o tema de Goldpaw, que mistura um estilo Jazz com um estilo Oriental. As vozes inglesas são competentes, mas se preferirem, estão disponíveis as vozes originais japonesas. Contudo, e tal como aconteceu no título anterior, Revenant Kingdom tem muito pouco voice acting, o que é uma pena, porque certas cenas ganhariam mais emoção com as vozes.

Ni no Kuni II: Revenant Kingdom oferece uma grande quantidade e variedade de actividades, todas elas importantes para os eventos gerais, que provaram ser muito divertidas de completar. O ritmo de desenvolvimento da história também é bom e todos os pontos narrativos focados acabam por ter algum tipo de conclusão a certo ponto. O baixo nível de dificuldade e as missões secundárias repetitivas são uma desilusão, mas no final Revenant Kingdom é um JRPG contemporâneo sólido, que utiliza um esquema clássico misturado com novas e interessantes ideias de design. É charmoso, divertido e muito agradável de jogar.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

Ni no Kuni II: Revenant Kingdom é um excelente JRPG que mistura um estilo tradicional com novas ideias, oferecendo assim uma experiência variada e completa. Peca apenas por ser muito fácil.

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