Análises

God of War

Por terras nórdicas

Versão testada: PlayStation 4 Pro

Kratos é uma das personagens mais conhecidas do universo PlayStation, mas o seu último capítulo, lançado em 2013 na PlayStation 3, foi recebido de forma tépida pelos fãs. God of War: Ascension não era um mau jogo; longe disso, mas a sua existência não foi justificada porque não acrescentou nada de verdadeiramente novo à série e nem atingiu os pontos altos de God of War III. Por outras palavras, o jogo mostrou que a fórmula estagnou. Cinco anos depois, Kratos está de regresso, agora à PlayStation 4 e com uma nova visão.

Muita coisa mudou, incluindo o setting. Anteriormente, a franquia God of War era baseada na Grécia Antiga mas esta nova entrada lança-nos na mitologia Nórdica. Isto abre espaço para tudo de novo que se segue. Kratos tomou más decisões que levaram a uma raiva insaciável, e que por sua vez, geraram mais péssimas decisões. Foi um ciclo vicioso de raiva, ódio e destruição que durou demasiado tempo, tendo levado à total destruição do Olimpo. Mas nem a missão cumprida lhe trouxe paz. Vivendo agora num novo mundo, também ele cheio de divindades e monstros, Kratos tem uma segunda oportunidade de ser pai e de tomar boas decisões, ao invés de perpetuar um ciclo de raiva.

Este representa um novo começo para Kratos, mas as suas acções passadas e o seu antigo “eu” ainda assombram a sua vida e há um constante risco de isto ter uma influência negativa em Atreus, o seu filho. Por vezes, chegamos a ver Kratos a tentar controlar-se na forma como reage às situações. Esta nova aventura mostra uma faceta de Kratos que ainda não tínhamos visto, pois ao longo dos acontecimentos, Kratos e Atreus vão-se conhecendo e vão-se aproximando, dando um carisma muito mais pessoal à história. Atreus vai ensinar Kratos a ser mais humano, enquanto que Kratos vai ensinar Atreus a ser um deus. Há claramente o objectivo de tentar humanizar e dar maior profundidade a Kratos, o que face aos títulos anteriores, é indiscutivelmente uma boa decisão.

Sim, é estranho eu ter dedicado dois parágrafos inteiros à narrativa de um God of War, mas isso só serve para atestar o esforço da produtora em fazer alterações profundas, com o objectivo de trazer frescura a esta série que já dura à 13 anos. Para complementar a parte narrativa, o jogo utiliza uma câmara sem cortes, ou seja, não existe qualquer transição abrupta entre ângulos diferentes ou cutscenes. Pode parecer apenas um pormenor insignificante, mas o resultado é excelente e cria uma maior imersão neste mundo fantástico, ajudando a contar as aventuras de Kratos e Atreus e a passar as emoções.

Este novo mundo apresenta um estilo artístico mais sombrio e com cores mais frias, dando a sensação de que até o próprio ambiente é um inimigo de Kratos, o que faz sentido, porque Kratos é um estranho naquele sítio. Estruturalmente, este God of Wars assemelha-se a Bloodborne ou Dark Souls. Vamos avançando de área em área, sendo que cada lugar tem caminhos opcionais, segredos para descobrir e atalhos para desbloquear. Além disso, existe uma boa variedade de ambientes e puzzles e, surpreendentemente, uma maior verticalidade do que esperava. O level design é mesmo muito bom, pese embora a mecânica fast travel seja algo limitada. Sem revelar muito, o conceito do mundo é deveras interessante.

Uma outra alteração importante e muito necessária, diga-se de passagem, foi feita na jogabilidade. Se alguma vez jogaram ou viram algum dos anteriores God of War, devem ter reparado que a câmara e o tipo de combate neste novo capítulo é completamente diferente. Agora acompanhamos a acção na terceira pessoa e o estilo de combate mudou de rumo, aproximando-se mais de um action RPG. Contudo, a componente hack and slash não foi esquecida; muito pelo contrário. Na verdade, trata-se de uma boa mistura dos dois géneros.

A parte action RPG está mais centrada na forma como se abordam os combates. A quantidade de inimigos em simultâneo nas “arenas” é menor face aos títulos anteriores, mas o perigo nas batalhas não foi reduzido. Há uma maior necessidade táctica em perceber onde estão as maiores ameaças, que inimigos eliminar primeiro e torna-se obrigatório ter uma especial atenção aos ataques dos adversários. A componente hack and slash está presente nos ataques de Kratos. Existem vários ataques e habilidades diferentes que permitem criar combos complexos e espalhafatosos. Estes golpes incluem parries, ataques com efeito AoE, ataques de longa distância com o machado e juggles. E sim, Spartan Rage está presente. Ao pressionar L3 + R3, Kratos liberta toda a sua fúria para distribuir de forma rápida e brutal pancadaria por todos os inimigos.

Atreus também oferece uma ajuda nas batalhas. Nós podemos dar a ordem de disparo para um inimigo especifico, algo muito útil quando enfrentamos inimigos com ataques de longo alcance. Ou também podemos fazer algumas combinações como atordoar um inimigo, atirar o machado para o congelar e deixar o Atreus dar o golpe final. Mas o Atreus também ajuda em lutas corpo-a-corpo, sendo capaz inclusive de algumas manobras com Kratos.

Em vez das tradicionais blades, Kratos usa agora um machado. O Leviathan Axe é a sua principal arma e conforme se vai avançando no jogo, vamos poder evoluí-lo, equipar runas que oferecem ataques especiais diferentes, e adquirir habilidades mais poderosas. O equipamento também pode ser evoluído com os materiais certos e até podemos equipar insígnias que oferecem bónus às estatísticas de Kratos, como o aumento de defesa ou de ataque. No geral, existe uma boa dose de personalização, que visa oferecer a possibilidade de criarmos várias builds diferentes e que complementam bem o estilo de jogo preferido de cada um.

A nível técnico, este é um excelente título. Toda a componente técnica aqui presente é exemplar, apresentado uma enorme quantidade de detalhes e atenção ao pormenor, desde as animações precisas de Kratos, passando à forma como os inimigos reagem aos ataques sofridos, e acabando nos fantásticos cenários nórdicos. De salientar também todo o sistema de iluminação e sombras que são brilhantemente usados para dar vida a estes novos ambientes míticos. God of War é definitivamente um dos jogos mais belos da PlayStation 4.

E já que estamos na parte técnica, na PlayStation 4 Pro, consola usada nesta análise, estão disponíveis duas opções gráficas: uma aumenta a resolução e a outra a frame rate. Com a opção Favorecer Resolução ligada, o jogo apresenta a resolução 4K via checkboard, oferecendo uma imagem muito limpa e nítida. O jogo corre a 30 fps, mas nunca notei qualquer quebra de fluidez. Com a opção Favorecer Performance, a resolução desce para 1080p, mas a fluidez aumenta. Suponho que corra sem limite de frame rate, mas nota-se o aumento de fluidez e com o tempo tornou-se na minha forma favorita de jogar este título. De salientar que durante as minhas sessões, não notei problemas técnicos ou bugs, o que demonstra que este é um jogo que recebeu a devida atenção.

A complementar o excelente pacote técnico está uma igualmente excelente banda sonora composta por Bear McCreary. Se viram o inicio da conferência da Sony na E3 2016, então, ficam com uma boa ideia da qualidade das músicas que acompanham os eventos de God of War. O voice acting é também de grande qualidade. Christopher Judge, actor mais conhecido como Teal’c de Stargate SG-1, é agora quem dá vida a Kratos, substituindo assim T.C. Carson. Atreus conta com a voz e performance de Sunny Suljic. Ao longo de todo o jogo, a performance dos actores é de grande nível, conseguindo com sucesso contar a história e passar os sentimentos certos nas alturas certas. Como nota, e porque é importante para alguns utilizadores, o jogo está totalmente localizado para português, tendo Ricardo Carriço sido o actor escolhido para dar voz a Kratos.

Tamanha mudança numa série tão popular e com um longo historial é altamente arriscada, mas é inegável que mudança era mesmo necessária em God of War. Será que foi pelo caminho certo? Sem dúvida que sim. Este novo jogo tem uma certa familiaridade com os títulos anteriores, mas ao mesmo tempo, traz uma frescura muito bem vinda a vários elementos de jogo. A espera pode ter sido longa, mas valeu a pena. Este é o melhor God of War até à data.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 10

10

A mudança de fórmula e a grande ambição neste novo capítulo deixavam antever que existisse algum tropeção pelo caminho. Para grande surpresa minha, os pequenos defeitos são, bem, pequenos e sem particular impacto na brilhante experiência de jogo que é God of War.

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