Análises

Pokémon: Let’s Go, Pikachu! & Let’s Go, Eevee!

Hey! Oh! Let’s Go!

Versão testada: Pokémon: Let’s Go, Pikachu!

Pokémon: Let’s Go, Pikachu! e a versão companheira Pokémon: Let’s Go, Evee! são remakes do Pokémon Yellow (lançado para o Game Boy na Europa em 2000), que aproveitam pedaços do ADN do Pokémon Go para introduzir a primeira geração de jogos Pokémon de uma forma mais familiar e acessível aos novos fãs que começaram no smartphone a sua jornada para serem mestres Pokémon.
Continuamos a embarcar numa aventura para ser o melhor treinador (ou treinadora!) Pokémon da região de Kanto. Para isso, há que capturar e treinar Pokémon, lutar contra outros treinadores, vencer oito líderes de ginásio e derrotar os Elite Four. Então o que é que mudou?

As grandes diferenças são a maneira como encontramos e capturamos Pokémon selvagens. Acabaram-se os encontros aleatórios; agora podemos ver os monstrinhos no mundo e escolher ir ter com eles ou tentar evitá-los. Se os encontros aleatórios criavam alguma tensão ao entrar nas ervas altas ou cavernas, esse sentimento rapidamente passava a irritação, especialmente quando se tem o objectivo de apanhá-los todos. Ver os Pokémon selvagens não só torna a experiência mais fluída, como elimina a barreira que separava os monstros de bolso do mundo onde vivem, tornando-o mais credível e coeso. Além do/a nosso/a Pikachu ou Eevee nos acompanhar pelo mundo ao ombro ou em cima da cabeça da nossa personagem, também podemos escolher outro companheiro para andar atrás de nós e, nalguns casos, até podemos andar em cima dele.

Em Let’s Go não há batalhas contra Pokémon selvagens, tal como em Pokémon Go, para os capturar apenas lhes atiramos Poké bolas, aumentando a probabilidade de sucesso se usarmos bolas melhores e conseguirmos acertar dentro de uma circunferência que vai diminuindo. Depois da captura, todos os membros da nossa equipa activa ganham pontos de experiência, o que torna a subida de nível bem mais rápida. Apanhar consecutivamente vários monstros da mesma espécie aumenta a experiência ganha, assim como a probabilidade de encontrar um Pokémon shiny (com uma cor diferente do normal). É uma forma muito mais acessível de arranjar shinies, mas que, ao mesmo tempo, exige dedicação do jogador, que poderá ter de escolher entre continuar o combo ou capturar um Pokémon raro que possa aparecer.
Este novo método de captura é a mudança mais drástica face ao que a série nos habituou, e é sem dúvida a mais divisiva. Por um lado, acelera consideravelmente o ritmo do jogo – capturar, treinar e avançar pelo mapa é muito mais rápido –, por outro, ganhar pontos de experiência tão facilmente, atirar um sem-fim de bolas a um sem-fim de monstros e ter tantos Pokémon tão rápido faz com que tudo seja demasiado trivializado, tirando valor às capturas. Além disso, sem a probabilidade de enfraquecer os Pokémon, a dependência de números aleatoriamente gerados para ter sucesso é demasiado grande, podendo levar a situações ridículas onde é necessário tentar vezes sem conta para apanhar até um Pokémon fraco e comum.  É um sistema com falhas, mas que eventualmente se entranha; talvez não seja algo que se queira ver nos próximos jogos Pokémon principais, mas tem os seus méritos e faz o jogo escorregar facilmente – quando não é frustrante.

Jogando na TV, é preciso fazer um movimento de atirar com o Joy-Con para lançar a Poké Bola, enquanto que no modo portátil basta pressionar um botão, sendo possível apontar com movimentos ligeiros da consola ou com o analógico esquerdo. Estranhamente, não se pode usar o ecrã táctil como no jogo de telemóvel e o comando Pro também não pode ser usado, apenas um Joy-Con (usado com uma mão) ou o acessório Poké Ball Plus (a única maneira de obter o lendário Mew no jogo é comprar isto). Apesar de ser engraçado imitar o movimento de atirar, na minha experiência, os controlos são extremamente erráticos, falhando muitas vezes. Se até a atirar em frente com todo o cuidado e atenção à forma há problemas, tentar atirar para os lados quando um Pokémon se move é uma tarefa incompreensível. Com toda a atenção tida em tornar este jogo acessível, é difícil perceber como nem sequer há indicações de como mover o comando nestas situações, algo muito provável de causar frustração e confusão.
Mesmo que os controlos por movimento funcionassem sempre bem, a opção de os desligar seria mais que bem-vinda, não só por eventuais questões de preferência pessoal, mas para se poder jogar em condições mesmo numa viagem de comboio ou autocarro mais acidentada – algo que é relevante, tendo em conta a importância que a portabilidade sempre teve na série. Mais grave do que isso, assim ficam de fora os jogadores com condicionantes físicas que não lhes permitam fazer os movimentos ou manter a consola ou comandos estáveis.

Felizmente, à semelhança de Pokémon Sun e Moon, já não existem HMs (movimentos obrigatórios para avançar em certas partes do jogo), agora o/a Pikachu e Eevee aprendem, por exemplo, a cortar as  pequenas árvores que bloqueiam o caminho ou a surfar pela água, sem ser necessário ter um ataque que não queremos a ocupar espaço. De resto, não há tantas mudanças quanto isso. As batalhas funcionam de forma praticamente igual aos jogos originais: os Pokémon lutam por turnos, cada um pode ter quatro ataques e é essencial ter em mente as fraquezas de cada tipo. Experimentar várias equipas e ataques diferentes para evoluirmos com os nossos Pokémon continua a ser uma fórmula vencedora. Sem muitas das adições que vieram depois de Yellow, como habilidades, Pokémon com itens ou efeitos meteorológicos, Let’s Go regressa às bases para ser um pouco mais acessível, mas às vezes vai além disso. Só é possível entrar num ginásio se tivermos connosco pelo menos um Pokémon que seja forte contra o elemento desse ginásio; não é grave, mas é um dar de mãos desnecessário que retira alguma liberdade aos jogadores, especialmente a liberdade de errar e aprender. Pokémon Let’s Go é mais fácil do que Yellow, mas não como se a dificuldade alguma vez tenha sido o chamariz da série. Afinal de contas, inúmeras crianças passaram o jogo original sem sequer perceber o que estava lá escrito. Apesar do foco da Game Freak aqui ser tornar a experiência do jogo o mais indolor possível para os novatos, elementos de jogo mais avançados também foram democratizados. Treinadores interessados em treinar as melhores máquinas de combate provavelmente agradecerão o facto dos valores que determinam até onde os atributos dos Pokémon podem ir (os IVs e AVs) já não estarem escondidos, inacessíveis e difíceis de perceber. Isto é, como sempre, completamente desnecessário para passar o jogo, mas algo importante para a competição de “alto nível” com outros jogadores.

As opções para lutar e trocar online são mais limitadas do que nos últimos jogos da série; só há lutas e trocas simples, nada de Wonder Trade, GTS ou Battle Spot. Para estabelecer ligação com outros jogadores é preciso combinar um código (com dez Pokémon em vez de dígitos), um sistema que dá para os gastos, apesar de ser limitado e chato. Claro, é possível jogar com alguém localmente com outra Switch, mas a grande novidade é a possibilidade de um segundo jogador poder pegar num Joy-Con e juntar-se a nós em qualquer momento, usando outro Pokémon da nossa party para nos ajudar em batalha. Também é possível transferir monstros do Pokémon Go para um parque onde os podemos capturar, mas os que foram capturados em Let’s Go não podem passar para o telemóvel.

Há dezenas de músicas absolutamente brilhantes que marcaram uma geração, agora lindamente orquestradas. Os mais nostálgicos dificilmente ficarão indiferentes ao pôr o pé fora da porta de casa pela primeira vez e ouvir o tema de Pallet Town.
No entanto, não posso deixar de mencionar este bocado de mau design de som que infelizmente me ficou no ouvido no meio de tantas óptimas faixas: quando vários Pokémon sobem de nível ao mesmo tempo – o que é muito frequente durante as primeiras horas – tem de se ouvir um jingle a interromper várias vezes seguidas a música de vitória, que não foi feita para estar em loop durante tanto tempo. Em níveis mais altos pode deixar de ser comum, mas foram umas quantas horas em que a vontade de desligar o som era frequente.

Apesar do salto da 3DS para a Switch ser considerável, especialmente a nível de resolução (1080p na TV e 720p no modo portátil), Pokémon Let’s Go não é propriamente impressionante. Isto é especialmente notório na televisão, onde se nota a falta de detalhe nos cenários e texturas, faltando até pormenores presentes em jogos anteriores, como a relva a abanar ao vento. Os modelos dos Pokémon – os mesmos usados nos jogos anteriores – são adoráveis, claro, mas já começam a mostrar a idade, especialmente ao nível das animações. Os NPC, especialmente os treinadores, estão giríssimos, tendo passado muito bem para 3D, apesar de serem bastante estáticos. Correndo sempre a 30 fps com a Switch na base, no modo portátil há umas raras quebras de framerate ligeiras nalgumas zonas e até na interface. Apesar de tudo isto, graças aos bons designs de Pokémon e personagens, a alguns efeitos de pós-processamento e a um look limpo e colorido, o jogo até consegue ser agradável à vista, especialmente no ecrã da Switch – mesmo que esta tenha capacidade para muito mais.

Pokémon: Let’s Go, Pikachu! e Pokémon: Let’s Go, Eevee! até podem perder algo conceptualmente neste novo formato e têm algumas falhas de execução, mas também trazem novidades que poderão ser muito bem-vindas até nos jogos das próximas gerações. Let’s Go não é para quem procura um desafio ou todas as novidades que as recentes gerações de jogos Pokémon trouxeram, mas continua a ser, em grande parte, o Pokémon que apaixonou tanta gente. Uma divertida e entusiasmante aventura com uma mochila às costas por estradas de floresta e montanhas, cavernas e cidades, a descobrir criaturas fantásticas e evoluir com elas. Mesmo quando é um pouco diferente do que nos lembrávamos, o caminho para ser um mestre Pokémon é irresistível.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8

8

Pokémon: Let’s Go, Pikachu! e Eevee! podem não ser o próximo passo, mas dão uns passos à frente. Uma reinterpretação mais acessível, mas mesmo assim divertidíssima de um clássico.

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