Análises

Kingdom Hearts 3

Don't Think Twice

Versão testada: PlayStation 4 Pro

Ser fã de Kingdom Hearts não é fácil. Além de uma narrativa complicada espalhada por várias plataformas e de se ter de lidar com a constante noção de que esta série “é para crianças”, ainda houve uma espera de mais de uma década pelo terceiro título numerado. Mas Kingdom Hearts 3 encontra-se finalmente disponível para a PlayStation 4 e Xbox One. Será que a longa espera valeu a pena?

Começando por aquela que deverá ser a dúvida de muita gente, é preciso jogar os títulos anteriores para perceber o que se passa em Kingdom Hearts 3? Mais ou menos. Kingdom Hearts 3 oferece exposição narrativa suficiente para dar a entender o contexto geral das coisas, por isso, se entrarem directamente neste novo título, deverão conseguir perceber os pontos principais. Inclusive, o jogo oferece uma série de resumos dos eventos passados. Não é bem a mesma coisa que jogar, mas é uma ajuda. Contudo, havendo tantas entradas na série e com imensa informação existente, ainda para mais tendo em conta a importância que os spin-off têm na narrativa, vão haver detalhes que de certeza passarão ao lado. Até os fãs que eventualmente não tenham jogado um ou outro título irão encontrar alguma dificuldade em unir todos os pontos.

No que toca à narrativa de Kingdom Hearts 3, Sora e companhia, além dos últimos preparativos para enfrentar Xehanort e a Organization XIII, vão também procurar Aqua, Ventus e Terra, personagens importantes para os acontecimentos e que há muito estão desaparecidas. E pelo caminho, vão ser revelados os destinos de outras personagens bem conhecidas da série. Sem entrar em grandes detalhes para não estragar a experiência a ninguém, gostei da forma como as coisas foram decorrendo há medida que ia avançado pela campanha, porque estavam melhor organizadas e explicadas. Não só isso, mas também na melhor forma como a Square Enix conseguiu combinar os mundos Disney com a história geral original de Kingdom Hearts. Achei uma grande melhoria face aos títulos anteriores.

Mas se calhar onde foi feita a maior evolução foi no design dos mundos Disney. Nos títulos anteriores, os mundos eram pequenos, especialmente nos spin-off, na medida em que consistiam em pequenas áreas de combate intercaladas por corredores e cutscenes. Em Kingdom Hearts 3, os mundos têm uma escala muito maior, com caminhos secundários intercalados e alguns segredos para descobrir. Agora parecem mesmo mundos e não mini arenas. Cada mundo Disney é único, apresentando mecânicas específicas baseadas nas características desse mesmo mundo, e pela primeira vez na série, gostei de percorrê-los a todos. É claro que gostei mais de uns do que de outros; Kingdom of Corona, Arendelle e The Caribbean foram os mundos que mais gostei, mas mesmo naqueles que gostei menos, não houve uma única vez onde tivesse dito “que seca”.

Em termos de jogabilidade, aquilo que resultou nos títulos anteriores continua presente. Os combates são rápidos, dinâmicos e fluídos, e testam as capacidade de cada um em reconhecer os padrões de ataque dos inimigos. Agora é possível equipar três keyblade em simultâneo e alternar em tempo real entre cada uma durante os combates. Ao fazer-se dano suficiente, desbloqueamos um estado diferente com novos combos e ataques especiais. No geral, o sistema de combate é bastante completo. Além do mencionado anteriormente, existem também várias magias, ataques de equipa com o Donald e Goofy, atracções Disney, como carroceis e barcos pirata, e Link Summons, o equivalente aos summons dos jogos Final Fantasy, mas com personagens Disney.

O único aspecto do combate que gostei menos, foi de uma certa leveza da personagem. É o mesmo aspecto negativo presente em Kingdom Hearts 0.2: Birth by Sleep – A fragmentary passage, o que leva a que os movimentos de Sora não sejam tão responsivos em algumas situações como o desejado. Não é tão prevalente como no jogo mencionado anteriormente, mas faz com que as reacções não sejam tão precisas como em Kingdom Hearts 2 Final Mix. Ainda assim, apesar deste aspecto menos positivo, achei o combate extremamente divertido e no geral melhor que os títulos anteriores.

Se há algo que divide os fãs, é a Gummi Ship. Uns adoram, outros odeiam, mas o certo é que Gummi Ship está de volta, agora maior que nunca. Tal como nos jogos Kingdom Hearts anteriores, a viagem entre os mundos é feita através de uma nave, numa espécie de jogo espacial em formato shoot ‘em up. A grande diferença é que agora temos a liberdade de explorar os mapas em qualquer direcção em busca de materiais. Pelo meio, é necessário lidar com naves inimigas e é aqui que entra a personalização da nossa nave. É possível usar uma já criada ou desenhar uma de raiz ao nosso gosto. Conforme vamos subindo de nível, vamos poder equipar armas mais poderosas, de forma a conseguirmos lidar com alguns inimigos opcionais mais poderosos. A personalização em Kingdom Hearts 3 é enorme. Confesso que Gummi Ship era um aspecto que não gostava muito nos jogos anteriores, porque sentia que era uma “barreira” desnecessária que era preciso ultrapassar para chegar ao que realmente interessava. E de certa forma ainda é em Kingdom Hearts 3. Mas pelo menos agora é divertido.

Graficamente, Kingdom Hearts 3 é bastante competente e demonstra uma boa evolução face ao que vimos anteriormente, mesmo quando comparado com 0.2: Birth by Sleep – A fragmentary passage na PS4. Os diferentes mundos e personagens Disney foram fielmente recriadas, chegando em certas alturas a igualar os respectivos filmes de animação. Até algumas das cutscenes no mundo The Caribbean conseguem rivalizar com as cenas CGI do filme Pirates of the Caribbean: At World’s End, como a imagem em baixo atesta. Sem dúvida que foi feito um enorme esforço para maximizar a inclusão do material de origem da melhor forma. A nível de performance, tendo jogado na PlayStation 4 Pro a 1080p, o jogo correu quase sempre a 60 fps, com uma ocasional quebra da frame rate, mas nada de significativo.

Mas Kingdom Hearts 3 desaponta em alguns aspectos. Os mini-jogos disponíveis são inconsistentes em termos de qualidade e não existem torneios no Olympus Coliseum. Além disso, também não existe a dificuldade Critical. Com isto não estou a dizer que o jogo tem pouco conteúdo. Após terminada a campanha, que dura cerca de 35 horas, dependendo do nível de dificuldade escolhido, existem várias batalhas opcionais espalhadas pelos mundos. E depois também há a caça a uns selos do Mickey e a busca pela derradeira keyblade. Existe muito para fazer.

Kingdom Hearts 3 traz de volta a magia que tem estado desaparecida desde Kingdom Hearts 2. Os títulos lançados desde então são decentes, mas não tinham a variedade, escala ou magia de Kingdom Hearts 1 e 2. Por sua vez, Kingdom Hearts 3 apresenta uma evolução onde mais precisava, sem perder a familiaridade da série, resultando num título que realmente é uma sequela. Terminar este jogo foi uma experiência fantástica. Respondendo à pergunta que fiz no início, Kingdom Hearts 3 não é perfeito, mas é o título por que todos esperavam.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9

9

O percurso até chegar aqui foi atribulado e a espera foi longa, mas no final, os fãs de Kingdom Hearts receberam um jogo cheio de qualidade e magia.

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