Análises

Travis Strikes Again: No More Heroes

O regresso do assassino otaku.

Versão testada: Nintendo Switch

No More Heroes ridicularizava, entre outras coisas, a monotonia das tarefas que uma pessoa repete vezes e vezes sem conta na vida, mas mais particularmente em videojogos. Mais de dez anos depois, o criador Goichi Suda – vulgo Suda 51 – volta com Travis Strikes Again: No More Heroes, um spin-off que se apresenta como uma homenagem a jogos retro e indie.

O protagonista continua a ser Travis Touchdown, o fanático por videojogos e anime que se tornou um assassino de topo, basicamente pela adrenalina e pela promessa de sexo. Anos depois do último jogo, Travis vive numa caravana nos bosques, afastado da cidade onde passou por inúmeros trabalhos temporários para financiar a compra de T-Shirts, VHS com bootlegs de anime ou gravações de combates de wrestling. Afinal de contas, agora tudo pode ser encomendado online. Ao ser atacado por Bad Man, o pai de uma assassina que Travis tinha matado, os dois são transportados para dentro de uma consola de jogos lendária, a Death Drive Mark II. De acordo com as lendas urbanas, quem vencer os seis jogos da consola pode ver um desejo seu realizado; começa assim a próxima matança (digital) de Travis Touchdown e Bad Man.

Na prática, Travis Strikes Again é um hack-and-slash e em cada jogo, ou seja, cada nível, a câmara muda um pouco e há mecânicas ou mini-jogos baseados em diferentes géneros, como platformers, jogos de corrida ou RPGs. É um ciclo de jogo pouco entusiasmante; as diferenças entre níveis não chegam para tornar Travis Strikes Again menos aborrecido. Não há nenhuma ideia especialmente inteligente ou bem implementada e qualquer coisa boa é esticada e repetida ad nauseum. A ligar as gimmicks de cada nível estão as batalhas, muitas vezes bem-vindas para quebrar o tédio. Sabe bem desfazer inimigos com os ataques fortes e experimentar as habilidades que se vão apanhando, mas, mesmo assim, é um sistema de combate pouco mais do que competente e rapidamente aborrece, mesmo em cooperação com outro jogador. Até as lutas contra bosses, que sempre foram as secções mais entusiasmantes de No More Heroes, são pouco dignas de nota.

Entre níveis, vemos como Travis descobre os jogos da Death Drive, não com vídeos, mas sob a forma de novela visual com uma apresentação bem old school, onde Suda aproveita as longas secções de texto para enfiar um sem fim de referências a outros jogos e quebrar a quarta parede. Visualmente, são das poucas partes apelativas do jogo, que pelo menos tem uma banda sonora com umas quantas boas faixas, mesmo que o trabalho dos compositores DJ Abo e DJ 1-2 não cheguem ao nível do óptimo trabalho que Masafumi Takada fez nos anteriores jogos.

Com a sua excentricidade e imagem de criador punk – o que quer que isso queira dizer -, é natural que Suda 51 se identifique mais com criadores indie do que com grandes estúdios. Talvez venha daí a colaboração com várias equipas independentes, podendo-se comprar várias t-shirts com desenhos vindos de jogos indie como Hotline Miami, Dead Cells ou Furi. São t-shirts giras, se bem que ficam muito aquém dos fantásticos designs dos dois jogos anteriores e a câmara do jogo raramente nos deixa vê-las em condições. A verdade é que em 2019, com tantos jogos indie a mostrar o muito de bom e original que se pode fazer com poucos recursos, Suda já não sobressai como antes.

Fãs acérrimos de Goichi Suda serão talvez dos poucos que poderão disfrutar do jogo, entretidos pelas referências a títulos anteriores do criador, como Killer 7 ou Shadows of the Damned, ou pela auto inserção do autor na personagem de Travis Touchdown (enquanto que nos jogos anteriores ele era uma representação pouco generosa dos jogadores). Apesar de Travis Strikes Again: No More Heroes ser o primeiro jogo em que Suda acumula os cargos de director, produtor e escritor desde o primeiro No More Heroes, o seu estilo e originalidade, pelo menos como estão aqui, não chegam para mitigar o quão entediante, medíocre e, por vezes, francamente mau o jogo é. Não há ironia ou intenções do autor que salvem o jogo disso.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 4.5

4.5

Travis Strikes Again: No More Heroes é um jogo aborrecido e fracamente concebido, fãs de Suda 51 podem apreciar as referências e rasgos de personalidade e humor, mas é difícil recomendar o jogo a mais alguém.

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