Análises

Judgment

Uma nova aventura em Kamurocho.

Versão testada: PlayStation 4 Pro

Judgment é bom. Judgment é mesmo muito bom. Eu joguei Yakuza 0, Yakuza Kiwami, Yakuza Kiwami 2 e Yakuza 6 num período de 1 ano e meio, e não sei como é que a SEGA e a Ryu Ga Gotoku Studio ainda conseguem fazer com que esta série se sinta fresca. Quero dizer, eu sei. Tem tudo a ver com uma qualidade de escrita geral acima da média e com uma narrativa cativante. Mas ainda assim, é surpreendente. Judgment não é um Yakuza, mas sim um spin-off dessa franquia, daí apresentar um estilo muito familiar. Mas mesmo sendo familiar, mesmo apresentando temas semelhantes, mecânicas semelhantes e visuais semelhantes à série Yakuza, Judgment consegue manter uma sensação de frescura.

Em Judgment vamos seguir a aventura de Takayuki Yagami, um advogado desacreditado que virou detective privado. Ele, juntamente com o seu compincha Masaharu Kaito, um ex-Yakuza, vão investigar uma série de homicídios violentos ocorridos em Kamurocho. Contudo, sem saber, eles tropeçam numa trama muito maior e muito mais perigosa do que imaginavam. O primeiro capítulo tem um ritmo de desenvolvimento lento, devido à necessidade de apresentar e estabelecer as personagens, além de que ao mesmo tempo, são apresentadas novas mecânicas. Não é ideal, mas é compreensível. Passadas essas horas iniciais, a narrativa é uma constante montanha russa de emoções apresentadas a um bom ritmo, com excelentes interacções entre as diferentes personagens, e a sua estrutura e cinematografia faz, por vezes, lembrar uma série televisiva com um estilo noir. Todos os elementos aqui presentes são de qualidade e conseguem manter o interesse nos eventos desde o inicio do jogo até aos créditos finais.

As missões principais têm alguns momentos cómicos, mas em regra geral, apresentam um tom mais pesado, com temáticas mais sérias. Por outro lado, as missões secundárias têm habitualmente um cariz mais aparvalhado, que serve para distrair da seriedade da narrativa. Uma dessas missões secundárias, e sem entrar em grandes detalhes, envolve a captura de um pervertido chamado Ass Catchem. Além disso, e tal como é hábito em Yakuza, Judgment inclui uma panóplia de mini-jogos. Podem contar com baseball, poker e videojogos clássicos da SEGA que podem ser jogados nas arcadas, e também com alguns novos, como as corridas de drones. O poket racing, que está habitualmente incluído em Yakuza, ficou de parte para dar lugar às corridas de drones. É um mini-jogo divertido, com elementos RPG, em que vamos arranjando partes melhores para, dessa forma, entrar em torneios progressivamente mais difíceis.

As secções de vigia e perseguição são uma das novidades face ao que vimos em Yakuza. Yagami, sendo um detective, vê-se por vezes obrigado a seguir um indivíduo durante um percurso pré-definido. É necessário manter uma distância segura do alvo e utilizar objectos do cenário para nos escondermos sempre que o alvo suspeita de que é seguido. Em algumas ocasiões, o alvo começa a fugir e é necessário persegui-lo e capturá-lo, sendo preciso evitar obstáculos no caminho através de sequências de QTE. Estas secções nunca me incomodaram ou aborreceram, mas é verdade que com o avançar da campanha tornam-se demasiado frequentes e longas. Estas sequências encaixam no estilo de jogo e na profissão de Yagami, mas falta algum refinamento que, espero eu, esteja presente numa possível continuação.

Eu vi alguns comentários e criticas pela internet fora por Judgment utilizar a cidade de Kamurocho ao invés de uma cidade nova. Eu não concordo com essa linha de pensamento. Seria o mesmo que criticar um filme que tem, por exemplo, Nova Iorque como palco de fundo só porque essa cidade já apareceu noutros filmes. A cidade é a mesma, mas as personagens e a narrativa são novas. Além de mais, Kamurocho é uma cidade bem desenhada e interessante de explorar, que encaixa perfeitamente no estilo que este jogo pede. Como bónus, Kamurocho evita algumas das armadilhas que os jogos open world tendem a ter. O habitual é enveredarem pelo “maior mapa de sempre na série”, mas Judgment, tal como Yakuza, tem um mapa relativamente pequeno. Contudo, é super compacto, cheio de conteúdo, e não se desperdiça muito tempo a ir de ponto A a ponto B. Monotonia é coisa que não entra no dicionário de Judgment, até porque as coisas mais simples podem desencadear um evento ou missão.

O sistema de combate é semelhante ao que vimos em Yakuza, mas existem aqui algumas diferenças. Yagami tem apenas dois estilos de combate, menos do que Kiryu em Yakuza. Um estilo é mais rápido e ágil, que é pensado para lidar com múltiplos inimigos em simultâneo, e outro mais lento mas mais forte, focado no mano-a-mano. Não pensem, no entanto, que menos estilos de combate significa menos opções. Yagami tem várias habilidades à sua disposição, sendo até possível correr na parede para ganhar impulso para executar um golpe especial. Além disso, Yagami pode usar objectos que estão na rua para distribuir “afecto” pelos adversários e também tem direito aos seus próprios finishers. Estas e outras habilidades, incluindo algumas muito úteis para as secções de perseguição, são desbloqueadas com SP, que é obtido ao completar actividades e missões.

A forma como Yagami luta é muito vistosa e extravagante, fazendo que seja muito divertido de executar e de ver esses golpes em acção. Mas é preciso ter atenção a ferimentos específicos. Alguns inimigos conseguem causar feridas mortais que, além de retirarem imensa vida, causam também que a vida máxima de Yagami seja consideravelmente reduzida. Para recuperar destas situações, é necessário utilizar itens de cura muito caros ou visitar um médico específico. A implementação das feridas mortais foi bem conseguida, pois adiciona um elemento estratégico aos combates e reduz o incentivo para pressionar nos botões sem pensar duas vezes.

Visualmente, Judgment é um jogo cheio de detalhes e que mantém um estilo visual muito semelhante a Yakuza 6, o que não é de estranhar, já que ambos utilizam o mesmo motor de jogo. Contudo, está mais refinado em Judgment. Mas esta melhoria não se nota só a nível gráfico; a jogabilidade também saiu beneficiada. Nota-se que a equipa de produção está mais confortável com o novo motor de jogo e, como tal, tornou a jogabilidade mais responsiva que a vista em Yakuza 6. Toda a acção e intriga é acompanhada por uma banda sonora de qualidade e, para quem quiser, está disponível a opção de vozes Inglesas. As vozes Japonesas são as que encaixam melhor, e sem surpresa, são de grande qualidade, mas passado o choque inicial, confesso que as vozes Inglesas também são de bom nível e os actores foram bem escolhidos para os respectivos papeis.

Havia muito mais para dizer, mas acho que não vale a pena. Só iria tornar este texto ainda maior. O que interessa, e correndo o risco de me estar a repetir, é que Judgment é muito bom. Este fantástico jogo consegue oferecer uma mistura de narrativa cativante com secções de jogabilidade ridículas e super exageradas. Ora num momento estamos a investigar um homicídio, ora no outro andamos em fuga em cima de um skate pela rua abaixo. Judgment é um jogo bem escrito e sério quando é necessário ser sério, mas sabe, igualmente, quando pode aparvalhar e apresentar momentos cómicos e piadas parvas. Este é sem dúvida um jogo deliciosamente divertido, que faz jus ao legado de Yakuza. Yagami está aqui para ficar.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota final - 9

9

As secções de vigia e perseguição não são fantásticas, mas mesmo assim, Judgment consegue enfrentar de igual para igual a série Yakuza.

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