Análises

GreedFall

Uma aventura em terras selvagens.

Versão testada: PlayStation 4 Pro

É compreensível que exista pouco falatório em torno de GreedFall. Afinal de contas, Bound by Flame e The Technomancer, os dois anteriores trabalhos do estúdio Spiders, tiveram uma classificação média abaixo dos 60%. Confesso que eu fazia parte do grupo de jogadores que não estavam propriamente entusiasmados com GreedFall, mas felizmente, as minhas expectativas foram largamente ultrapassadas. As aparências iludem e GreedFall é na verdade um action RPG competente e complexo.

Mas indo primeiro às aparências, GreedFall não é um jogo feio, mas também não é nenhum marco a nível gráfico, uma consequência de este ser um projecto de baixo orçamento. A qualidade das texturas é mediana, assim como a qualidade dos materiais, e as expressões faciais são péssimas. Isto resulta numa qualidade de imagem inconsistente, pois por vezes o jogo oferece algumas imagens de grande beleza, para logo a seguir mostrar imagens datadas. Mas a direcção artística é de grande nível e acaba por disfarçar alguns destes aspectos gráficos menos positivos.

Se conseguirem fechar os olhos a isto aceitar este nível técnico mediano, vão ter à vossa disposição um action RPG a nível de mecânicas reminiscente dos RPGs mais antigos da BioWare. Em GreedFall seguimos as pisadas de De Sardet, um(a) diplomata que ruma à terra de Teer Fradee em busca de uma cura para uma doença chamada Malichor. Isto implica, tal como o seu cargo deixa antever, que temos de estabelecer linhas de diálogo com os nativos. Sem surpresa, os colonos e os nativos não estão em termos muito amigáveis uns com os outros, e havendo várias facções em cada lado das barricadas, é preciso ter atenção às nossas decisões para não chatear ninguém, coisa que não é fácil.

E aqui entra a complexidade de GreedFall em acção. Por exemplo, se vamos negociar com uma determinada facção, não é boa ideia ter na nossa equipa activa um elemento que esteja numa facção rival, porque a conversa poderá não acabar bem. Da mesma forma, convém ter atenção à vestimenta equipada em De Sardet, de forma a não levarmos um fato de uma facção rival para uma reunião. Depois, em alguns momentos, temos que fazer escolhas, que incluem tentar convencer alguém com a nossa perseverança, com ameaças ou, se a coisa correr mesmo mal, com violência. Aliado a isto está um sistema de quests complexo, em que uma quest pode ter impacto noutra, além de que alguns passos dentro de uma quest podem ser passados à frente.

Dando um exemplo na zona inicial do jogo, a certa altura temos que encontrar um amigo nosso que está desaparecido e, para isso, é necessário encontrar pistas para o seu paradeiro. Neste ponto da quest podemos ir a uma taberna falar com o dono, oferecendo-lhe dinheiro em troca de informação, ou então, caso tenhamos descoberto uma nota de resgate colada numa parede nas imediações da taberna, irmos directamente ao local onde ele está a ser retido contra a sua vontade. As opções não terminam aqui, já que essa mesma quest pode ser completada de diferentes formas. Podemos resgatar o nosso amigo à força, via stealth ou ao destruir uma parede frágil do outro lado do complexo. E isto é apenas um exemplo inicial. Numa altura em que a BioWare já se deixou deste tipo de action RPGs complexos, é bom ver alguém a aproveitar o vazio deixado em aberto.

Isto também acontece com as personagens na nossa equipa. Tal como em Mass Effect, as personagens que nos acompanham ao longo da aventura têm os seus problemas e assuntos para tratar. Se não os ajudarmos, é normal que eles também não se sintam particularmente tentados a nos ajudar, como tal, é aconselhado dar alguma atenção às suas necessidades. Existem alguns momentos em que a narrativa global é previsível, mas no geral, a história é boa, as personagens são memoráveis e as quests, principais e secundárias, são, na sua maioria, interessantes. Consequentemente, isto torna o processo de subir de nível mais divertido, já que existem mais motivos para explorar as áreas e completar conteúdo secundário.

Um dos componentes que mais me surpreendeu em GreedFall foi o combate, porque tem uma boa dose de profundidade. Temos à nossa disposição três classes diferentes: Warrior, que é focado em combates corpo-a-corpo, Magic, que como o nome indica é focado no uso de magias, e Technical, uma classe que dá uso a armas de fogo e armadilhas. Contudo, isto são apenas as classes iniciais, já que o jogo permite misturar habilidades de diferentes classes e criar classes híbridas. Uma das minhas builds favoritas implica misturar a classe Warrior com a classe Technical. O resultado é uma personagem capaz de usar long swords revestidas com dano elemental e com a capacidade de meter poison nos inimigos. Há aqui muita margem para experimentação, e caso não gostem dos resultados, é possível fazer reset à personagem e voltar a redistribuir os pontos pelas habilidades, graças a um item chamado Memory crystal.

O progresso da personagem em GreedFall não foge muito ao que é tradicional num RPG, ou seja, recorre a um sistema de experiência, níveis e pontos de habilidade. Estes pontos, além de poderem ser usados para melhorar vários elementos do combate, podem também ser usados noutras estatísticas da personagem, como melhorar o Charisma, que pode ser útil para conseguir resolver alguns problemas de forma pacífica, ou melhorar o Craftmanship, que permite criar e evoluir armas e peças de armadura nas crafting tables e, assim, poupar algumas coins. De referir que este sistema de evolução de armas e equipamento é bastante competente, já que oferece a possibilidade de pegar num item e melhorá-lo desde que tenhamos os materiais necessários. No caso das armaduras, estas melhorias são visíveis e, em alguns casos, os resultados são visualmente muito apelativos.

GreedFall não é perfeito e o baixo orçamento do projecto é notório em alguns aspectos do jogo, mas por debaixo de uma aparência por vezes áspera, encontra-se um RPG competente, complexo e profundo, que certamente irá satisfazer os fãs deste género de jogos. A narrativa é interessante, as missões têm uma boa dose de variedade, e o combate é bastante divertido. Tem algumas arestas que mereciam ter sido limadas a tempo do lançamento, mas no geral, fiquei muito agradado com a experiência oferecida por GreedFall. Há aqui margem para muito mais, e espero sinceramente que este título seja o início de algo mais.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 7.5

7.5

GreedFall é um action RPG competente, que oferece uma narrativa interessante e cheia de jogadas políticas. Não é um marco a nível gráfico, mas os fãs deste género de jogos que se conseguirem abster desse aspecto, vão encontrar aqui uma boa experiência de jogo.

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