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Um olhar sobre o PlayStation Now

Será este o futuro da PlayStation?

O PlayStation Now, o serviço de streaming de jogos da Sony, não é novo; já existe desde 2014, mas a sua disponibilidade limitada a poucos países e o preço alto da subscrição (100€) deixou a dúvida durante bastante tempo sobre qual seria o verdadeiro papel deste serviço na plataforma PlayStation e se teria futuro. Mas no ano passado, foi dado um enorme passo que demonstrou que o serviço faz parte dos planos da Sony. Refiro-me claro, à adição da opção de fazer download dos jogos para a consola. Este passo pode parecer pequeno, mas significou que o serviço ambicionava muito mais.

Durante vários anos, a disponibilidade do serviço estava limitado à América do Norte e a muito poucos países europeus, mas no passado mês de Março, o PlayStation Now chegou a mais 7 países europeus, incluindo Portugal. Eu tenho andado a utilizar o serviço desde o seu lançamento em terras lusas, graças a uma subscrição graciosamente oferecida pela PlayStation Portugal, e chegou a hora de responder a uma pergunta: o PlayStation Now vale a pena?

O início parece-me um ponto tão bom para começar como qualquer outro. A página inicial da app na consola tem um aspecto clean e é fácil de utilizar. Aqui são nos dadas algumas sugestões com os jogos mais populares, e em baixo, seguem-se algumas sugestões dentro de cada género de jogo. Sem surpresa, é possível pesquisar pelo nome de um jogo ou podemos ir a cada género ver que títulos estão disponíveis. Na página de cada jogo, há uma breve discrição sobre o mesmo, a indicação do espaço que ocupa em disco, e as opções de jogar em streaming ou fazer download. Importa salientar que os jogos PS3 não têm a opção de download porque, devido a razões técnicas que já são mais que conhecidas por esta altura, a PS4 não tem retrocompatibilidade com a PS3.

Como disse anteriormente, embora a opção de download seja recente, ela torna o serviço apelativo para mais gente, quer tenham uma boa ligação ou não, já que na prática faz com que o PS Now seja um serviço 2 em 1: um serviço de streaming e um serviço de aluguer de jogos. Ao fazerem download dos jogos PS2 e PS4 para a vossa consola PS4 vão poder usufruir desses jogos na sua resolução nativa. É literalmente o mesmo que comprar uma versão em formato digital de um jogo através da PS Store ou jogar uma versão em formato físico. Mas e o streaming de jogos, é funcional? Sim, mas com algumas condicionantes, como seria de esperar.

Eu fui jogando diferentes géneros de jogos ao longo destes últimos meses para ver, do ponto de vista do utilizador comum, se o impacto na responsividade dos controlos se fazia notar e até que ponto. Eu já sabia que iria existir uma menor fidelidade visual, até porque de momento o PS Now não suporta streaming a 1080p e nota-se a compressão na imagem e alguns artefactos, como tal, o que me interessava realmente saber era até que ponto pesava na jogabilidade. No geral, confesso que fiquei surpreendido pela positiva com o que experimentei. Jogos com pouca acção ou que não requerem controlos muito precisos, como visual novels (Batman: A Telltale Series e The Wolf Amoung Us) ou determinados tipos de RPGs (Disgaea 4 ou a série Atelier) controlam-se sem grandes problemas. Nestes casos, o input delay é um não-factor e os mais distraídos nem vão reparar que não estão a jogar o jogo localmente.

Por outro lado, jogos mais virados para a acção começam a demonstrar que estamos a jogar via streaming. Por exemplo, God of War (2018) não era tão responsivo como aquilo que me lembrava e o mesmo era aplicado a DOOM e a Killzone 3. Dito isto, sou forçado a admitir que o input delay não era demasiado alto e não estragou a minha experiência nestes jogos. Onde realmente notei mais o input delay foi em jogos que requerem grande precisão nos inputs, especialmente em jogos de luta. Eu joguei Dead or Alive 5 e Street Fighter IV em duas gerações de consolas, como tal, pode-se dizer que conheço ambos os títulos razoavelmente bem, mas jogá-los via streaming tornou a execução de combos bem mais complicada. Ninguém vai conseguir ser competitivo online nestes moldes ou aprender a sério a jogar este tipo de jogos, mas suponho que também não seja esse o propósito.

Eu não fiz testes técnicos nem nada do género, mas não é esse o objectivo deste artigo. O meu objectivo foi tentar perceber do ponto de vista do utilizador comum até que ponto o PS Now é funcional e tenho que reconhecer que é bastante funcional e prático de utilizar. A experiência vai ser diferente para cada utilizador pois está dependente da qualidade da sua ligação à internet, mas o input delay não afectou demasiado as minhas sessões de jogo, tendo eu uma ligação de 100/10. É verdade que alguns géneros de jogos são mais afectados do que outros com o input delay, mas parece-me que o streaming é funcional o suficiente para permitir que os utilizadores, via PS4 ou PC, consigam experimentar jogos actuais ou de gerações anteriores que tenham deixado passar. Mas isto coloca outra questão: o PS Now é o futuro da PlayStation? Sim e não.

Eu não tenho uma bola de cristal, mas não me parece que o PS Now vá conseguir substituir aquele pedaço de hardware que fica por debaixo da TV. Por muito que o serviço de streaming vá melhorar ao longo dos próximos anos, quer a nível de qualidade de imagem quer a nível de responsividade, não estou a ver que consiga equiparar com o jogar um jogo localmente numa consola. Numa industria que constantemente está em constante evolução e numa constantemente procura de novas tecnologias, parece-me contraproducente pensar-se que um serviço que reduz a fidelidade visual e a responsividade vá tirar o lugar a uma consola. E mesmo que estes dois métodos se venham a equiparar em qualidade no futuro, streaming vai ser sempre o método com mais variáveis à mistura.

Dito isto, os serviços de streaming de jogos não devem ser subvalorizados. O PS Now pode não tirar o lugar a uma consola PlayStation, mas a sua importância faz-se notar no ecossistema. Por exemplo, um novo utilizador que tenha adquirido agora uma consola PS4 pode, com o preço de um jogo, ganhar acesso a um catálogo de mais de 700 títulos, sendo que, no caso dos jogos PS4, poderá transferi-los para a sua consola e jogar localmente. Existem outras situações, mas acho que esta é suficiente para demonstrar uma enorme mais-valia do serviço. É aqui que vejo o futuro do PS Now; um serviço que complementa uma consola PlayStation, sem retirá-la do papel de destaque, e que é capaz de oferecer diferentes tipos de experiências conforme as necessidades dos utilizadores. É verdade que o PS Now ainda tem algumas lacunas no catálogo de jogos, pois estão ausentes algumas séries sonantes, mas é inegável a qualidade do serviço e o valor pedido de 60€ por ano parece-me justo tendo em conta o que está em oferta.

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