Análises

Pokémon Sword e Shield

Os Pokémon sairam do bolso.

Versão testada: Nintendo Switch

O Mario e o Sonic aparecem juntos em vários jogos. Saiu o Shenmue III. O Final Fantasy VII vai ter um remake. Vai haver um Half-Life novo (ainda não é o 3, mas é qualquer coisa). A certa altura, todos estes jogos não passavam de um sonho, havia sempre alguém a perguntar por eles. Eis que se concretiza mais um sonho e a próxima geração de Pokémon se desliga das consolas portáteis e nasce numa consola caseira. Muitos pediam isto há anos: um Pokémon com mundos e gráficos mais avançados, tirando proveito do maior poderio tecnológico, mas a Game Freak e a Pokémon Company sempre acharam que os monstros de bolso deviam ficar… no bolso. Entra a Switch e este problema desaparece, mas a realidade é mais imperfeita do que os sonhos.

Quase dois meses depois do lançamento da nova geração, apesar da intensidade da reacção de alguns fãs ao facto de apenas haverem 400 Pokémon e não todos os cerca de 900, não parece que isto tenha tido grande impacto nas vendas, ou até na recepção crítica. É natural, com 400 Pokémon, 81 deles novos e 14 variantes regionais, não é que faltem monstros para apanhar e o número de pessoas interessadas em ir buscar Pokémon aos jogos antigos é relativamente pequeno. Pessoalmente isto não me incomoda muito e claramente só é grave para uma minoria de jogadores, mas essa minoria é composta por fãs que jogam Pokémon há muitos anos e é difícil não notar a triste ironia da situação numa saga conhecida pelo mote “Vou apanhá-los todos”. Com isto dito, e apesar de perceber que é complicado tratar de um elenco de cerca de 900 Pokémon, a dimensão do franchise justifica o investimento necessário para isto ser feito. Especialmente com a existência da Pokémon Box e a vinda iminente do Pokémon Home, um serviço pago onde podemos guardar online os nossos monstrinhos, isto custa ainda mais. É de salientar que foi anunciado que as expansões que vão começar de sair em Junho trazem 200 Pokémon já conhecidos, que não aparecem no mundo do jogo de base, mas podem ser transferidos mesmo que não se tenha a expansão. Além disso, a existência destas expansões também é preferível ao lançamento de uma terceira versão dos jogos daqui a uns tempos.

Felizmente, uma grande parte dos novos Pokémon estão muito bem desenhados e têm características interessantes e apelativas; ver que monstro vai surgir a seguir e capturá-lo é provavelmente o maior incentivo a avançar no jogo. Juntamente com a possibilidade de aceder à nossa colecção e mudar de equipa a qualquer momento fora dos ginásios, há imensa escolha, uma grande variedade de movimentos e muito poucas desvantagens em experimentar Pokémon e ataques diferentes.
Não que alguém jogue Pokémon pela história (espero eu), mas é impossível ignorar que a de Pokémon Sword e Shield é muito aborrecida: as personagens – com óptimos designs – são muito mal aproveitadas e a apresentação é fraquíssima. Está na hora de a Game Freak pensar em apostar mais nesta vertente. As cenas mais importantes começam a parecer particularmente ridículas com as bocas a moverem-se sem voz a sair; ainda para mais, os diálogos raramente passam de algo para despachar o mais rápido possível.
A falta de experiência da Game Freak em jogos 3D é óbvia; ainda não conseguem tirar bom proveito do que um mundo tridimensional pode oferecer e os gráficos estão mais do que ultrapassados. As animações dos Pokémon são quase todas bastante básicas, havendo algumas ridiculamente más. Não peço longos vídeos e diálogos – por favor, nada disso – mas o franchise de media que faz mais dinheiro no mundo merece uma apresentação melhor e, acima de tudo, mais ambição.

A maior novidade de Sword e Shield é a Wild Area, uma grande área aberta (onde podemos controlar a câmara!) que liga várias zonas de Galar. Aqui podem-se encontrar imensos Pokémon diferentes, muitos deles demasiado fortes para nós sequer os capturarmos até ganharmos mais crachás. Ver os bichinhos a passearem pelo mundo, a correrem atrás de nós ou a fugirem faz toda a diferença. Uma aventura onde temos liberdade de escolha de para onde vamos, com quem lutamos, que equipa usamos e como a treinamos, é uma aventura como treinador Pokémon muito mais interessante, num mundo mais imersivo. Ter que estar sujeito aos efeitos do tempo, como neve ou ensolarado, ver outros jogadores, encontrar Pokémon diferentes à medida que se avança e ver como eles reagem à nossa presença, acampar para curar os nossos Pokémon e brincar um bocado com eles. Por mais corriqueiro que seja muito do que faz, a Wild Area traz uma mudança muito bem vinda. Ter uma zona central mais aberta que dá acesso a outras áreas lineares não é uma má ideia, mas a execução deixa algo a desejar. A Wild Area não demora muito a revelar-se monótona e perder o brilho e uma boa parte dos outros caminhos são desinteressantes a nível de navegação, sendo demasiado lineares e curtos. As cidades também não oferecem muito conteúdo, nem há muito de novo no pós-jogo, mas é escusado dizer que, mesmo assim, há imenso para fazer. Chegar ao fim pode durar umas quarenta horas, mas quem quiser apanhá-los todos ou jogar competitivamente consegue chegar facilmente aos três dígitos.

Com isto tudo dito, não é que avançar no jogo seja doloroso. Pelo contrário, é bastante divertido e acessível. O problema é que é demasiado acessível. Ser obrigatório que todos os Pokémon da nossa equipa ganhem experiência em cada combate, torna todo o processo de treinar e evoluir menos penoso e demorado, mas também resulta numa equipa demasiado poderosa. A questão é que este problema não existia antes, porque partilhar experiência era completamente opcional, resultando numa espécie de controlo do nível de dificuldade. Em todo o nosso caminho até sermos campeões, há muito poucos obstáculos à navegação e nada leva muito esforço. Para o lado mais competitivo da coisa, todo o processo de treinar os Effort Values, ou EVs, também foi simplificado e tornado mais acessível, o que é óptimo para quem quer levar a sua equipa ao limite. É de sublinhar que o jogo melhorou bastante no que se costuma chamar Quality of Life, acessível de controlar e livre de muitos processos aborrecidos, tendo até umas quantas opções, incluindo uma que facilita controlar o jogo com apenas uma mão. Infelizmente, não há quaisquer controlos tácteis, algo um bocado absurdo, tendo em conta que a Game Freak utiliza fortemente ecrãs tácteis há muitos anos e sabe que podem ser práticos.

Se, por um lado, é compreensível que não se possa manter tudo o que foi feito nos anteriores jogos da série, por outro, perdeu-se demasiado pelo caminho e não se ganhou o suficiente. Battle Frontier, Pokémon a seguir-nos pelo mundo, Mega Evoluções, Z-Moves, tudo isto e muito mais foi ficando pelo caminho. Tomando, de certo modo, o lugar dos Z-Moves, vêm o Dynamax e Gigantamax, fenómenos que só acontecem em Galar, onde um Pokémon pode ficar gigante (Dynamax) e até ganhar uma forma nova (Gigantamax). Isto não introduz nada de particularmente interessante ao sistema de combate, apesar de ser engraçado ver um Pokémon gigantesco. Isto só pode ser feito uma vez por batalha num ginásio, ou em Max Raid Battles, em vários pontos da Wild Area, onde podemos juntar-nos a outros jogadores (ou ao computador) e unir forças contra um só Pokémon gigante, que depois pode ser apanhado. Estas batalhas cooperativas que vêm do Pokémon Go são uma excelente novidade, esperemos que não desapareçam no futuro.

O modo online regrediu pelo simples facto de não haver o Global Trading System (GTS), o sistema que permitia facilmente fazer vários tipos de trocas online com imensas opções, como procurar alguém que esteja disposto a trocar um Pokémon específico, sem ser preciso que os dois jogadores estejam a jogar ao mesmo tempo. Agora apenas podemos trocar com pessoas que estejam online ou perto de nós, além de ser possível receber um Pokémon desconhecido que alguém tenha enviado para o Suprise Trade. Ligando as comunicações online, podemos ver os outros jogadores que andam pela Wild Area e até falar com eles para receber uns itens, mas a framerate cai dramaticamente, ficando por vezes num estado lastimável.

No final de contas Pokémon Sword and Shield são bons jogos que evoluem o franchise nalgumas frentes, mas ainda não são a evolução final da série. Fraco tecnicamente, com pouco conteúdo novo fora da aventura principal e com tantas coisas que não voltaram de jogos anteriores, é difícil não esperar mais. No entanto, não há como negar que me diverti com o jogo. A facilidade de navegação, a liberdade da Wild Area, o mundo repleto de monstros fantásticos e a eterna vontade de os apanhar e criar uma equipa imparável é irresistível. Abriu-se a porta para um mundo Pokémon maior e melhor, mas apenas um bocado.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota final - 7.5

7.5

Pokémon Sword e Shield são jogos divertidos e apesar de apresentarem boas novidades, ainda estão demasiado presos no passado, especialmente a nível técnico. Uma boa aventura, mas não foi a evolução que devia ter sido.

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