Análises

Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin

Chaos!

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S, Xbox One

Eu fiquei bastante entusiasmado quando surgiram rumores de que a Team Ninja estaria a fazer um spin-off de Final Fantasy. Ambos os Nioh são excelentes jogos a nível de jogabilidade, como tal, achei o conceito de existir um Final Fantasy com um estilo de combate do género de Nioh muito apelativo. No entanto, esse entusiasmo não durou muito. O jogo foi apresentado e rapidamente se tornou numa fonte de memes com tanta repetição de “chaos” ao longo do primeiro trailer e por as personagens parecerem deslocadas do cenário envolvente. Jack, em particular, parecia que tinha entrado no jogo errado. Mas agora que Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin já está aí, o jogo é aquilo que parece ou esconde algo mais por debaixo dos memes?

Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é uma prequela do primeiro Final Fantasy situada num universo alternativo. O protagonista é Jack, um homem consumido por uma incontrolável vontade de derrotar Chaos. Jack é acompanhado por Ash e Jed. O grupo aceita o papel dos lendários Warriors of Light e embarca numa jornada para erradicar Chaos de uma vez por todas. O mote para este spin-off não é nada mau; diria até que encaixa bem no tema típico Final Fantasy, mas a execução fica aquém. Ash e Jed são personagens tão profundas quanto os seus nomes deixam antever e Jack é uma caricatura de protagonista. Jack tem um desejo, uma sede, uma fome quase que incompreensível de encontrar e derrotar Chaos. Ninguém sabe bem porquê, mas tem.

As vozes japonesas fazem com que o jogo mantenha um estilo shonen, enquanto que as vozes inglesas são cringe e só acentuam mais a memeficação das personagens. O elenco de actores é de bom nível, e inclui nomes como Cherami Leigh (Makoto em Persona 5, V em Cyberpunk 2077), Laura Post (Tamayo em Demon Slayer, Kasumi em Persona 5 Royal), e Christopher Sabat (Vegeta em Dragon Ball Super, Roronoa Zoro em One Piece), mas não há actor bom o suficiente que consiga salvar um mau guião. A certa altura, mas ainda relativamente cedo no jogo, o grupo encontra Neon, que virá a ser o quarto elemento do grupo. Neon faz um monólogo bastante sério e pessoal sobre as razões que a levaram a tomar aquelas acções, ao que Jack simplesmente responde “bullshit”, vira costas e vai embora ao som de uma música que colocou a tocar no seu smartphone. Brilhante. O diálogo na cena seguinte também é fantástico, na medida em que não faz qualquer sentido, mas deixo para experienciarem em primeira mão.

Os gráficos são outro ponto onde este jogo fica aquém do esperado. Comparado com outras produções de peso da Square Enix como Final Fantasy VII Remake, Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é notoriamente de menor orçamento. O jogo tem um aspecto embaciado e pouco detalhado, juntamente com uma iluminação que tornam os gráficos ainda menos apelativos. Diria até que parece visualmente pior que Nioh 2. Mesmo a nível de apresentação geral, seja no balanceamento do áudio ou na edição das cutscenes, este parece mesmo ser um jogo B-tier a nível de produção.

A história não é muito interessante, as personagens não são particularmente bem desenvolvidas, e os gráficos deixam a desejar. No entanto, este não é um mau jogo. Como isso é possível? Cringe também tem a sua piada e, embora não seja visualmente impressionante, ao menos é fluído, mas o que ajuda mesmo a redimir a experiência é a jogabilidade. Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin pega no sistema de combate de Nioh rápido e responsivo e combina com o sistema de classes presente em vários Final Fantasy. O sistema de classes oferece uma panóplia de diferentes opções de combate, que visam oferecer algo para todos os gostos e para todas as situações. A quantidade de inimigos presentes nos cenários e a possibilidade de alternar entre classes e utilizar diferentes habilidades conforme a necessidade tornam os combates muito dinâmicos e gratificantes.

A profundidade vai ainda mais além graças ao Soul Shield, uma forma alternativa de defender e contra-atacar que reduz a Break Gauge dos inimigos. Quebrar esta barra permite que Jack realize um finisher que reduz os inimigos a cristais. O sistema de combate é complementado por um robusto sistema de loot, com peças de diferentes níveis, níveis de raridade, e perks para as diferentes classes. A quantidade de loot oferecida ao longo das missões é bastante generosa, tal como em Nioh, e por isso existe um filtro que permite escolher que itens apanhar e que itens ficam para trás. Procurar novo equipamento e optimizar as personagens é um aspecto muito satisfatório.

Uma diferença que importa salientar entre este jogo e Nioh é o facto de Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin oferecer níveis de dificuldade para cima e para baixo. Story reduz significativamente o nível de dificuldade e existe uma opção para tornar as batalhas ainda mais simples. Em sentido oposto, o nível de dificuldade mais elevado não dá piedade, mas em compensação oferece melhores recompensas. O nível Action é o meio termo, oferecendo batalhas desafiantes mas não demasiado frustrantes. É preciso aprender os padrões de ataques dos inimigos, particularmente dos bosses, mas o desafio nunca se torna numa parede excessivamente difícil de escalar. As missões decorrem de forma semelhante ao que acontece em Nioh, ou seja, escolher as missões num mapa e percorrer um cenário relativamente linear com ocasionais atalhos. Parte destes cenários são inspirados em locais de anteriores jogos Final Fantasy, o que é muito bom para quem é fã da série.

Nem todos os jogos têm de ser criticamente aclamados para serem divertidos ou para merecerem o investimento de tempo necessário para chegar ao fim. Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é um desses casos. O jogo falha na história e na caracterização das personagens e a cinematografia das cutscenes acentua ainda mais esse problema, mas apresenta uma jogabilidade surpreendentemente profunda e dinâmica que oferece uma boa dose de opções. Pode não ser o melhor jogo dentro do género action RPG, mas é um título que combina com sucesso alguns dos melhores aspectos de Nioh com elementos tradicionais de Final Fantasy.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 7

7

Apesar de ficar aquém na história e personagens, Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin é muito divertido graças a um sistema de combate profundo e dinâmico.

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Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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