Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price
Existem jogos em que os memes surgidos durante a campanha de marketing acabam por abafar uma boa parte das discussões sobre esses títulos e, por vezes, até quase que reescrevem aquilo esses mesmos jogos têm para oferecer. Stranger of Paradise: Final Fantasy Origin foi um desses casos graças ao “Bullshit” e ao constante debitar de “Chaos” num trailer, e agora, também da Square Enix, Forspoken é a mais recente vítima dessa situação.
No caso de Forspoken, os memes surgiram através de um pequeno clip de alguns segundos, e isso levou a que o discurso em redor deste título caísse por terra. Obviamente, isto não é nem deve ser usado como um escudo para as críticas às coisas menos positivas que o jogo tem mas, ao mesmo tempo, quem apenas ligasse a esses comentários e memes iria pensar que este era um mau jogo, coisa que não é. Mas vamos por partes.
Forspoken tem como protagonista Frey, uma jovem que se vê embrulhada em alguns conflitos com a lei e que, devido a uma determinada ação, se vê transportada para Athia, uma terra mágica, bela e medieval, mas também cruel. Como se o choque de tal realidade não fosse o suficiente, Frey vê-se presa a uma bracelete falante chamada Cuff. Sem entrar em spoilers, achei a história no geral suficientemente interessante para me manter preso até ao fim e gostei bastante de alguns momentos específicos. Também achei que Frey, papel desempenhado pela atriz Ella Balinska, teve um bom desenvolvimento ao longo do jogo. No início, ela só pensa em voltar para casa e resiste em ajudar aqueles que precisam da sua ajuda, mas esse sentimento vai-se alterando com o progredir da história e ela começa a aceitar a enorme responsabilidade que tem em mãos.
Se calhar, a parte mais fraca está no diálogos, ou melhor, na inconsistente qualidade dos mesmos, a começar pela relação entre Frey e Cuff. Ambos têm tiradas sarcásticas e algumas piadas bem conseguidas, mas por vezes, a interação entre estas duas personagens torna-se irritante. Parece-me que o objetivo era fazer algo similar à relação entre Star-Lord e Rocket vista no jogo Marvel’s Guardians of the Galaxy de 2021, em que ambos estão constantemente a picar-se um ao outro, mas o resultado não é muito bem conseguido, porque a quantidade destes momentos não é equilibrada nem bem ajustada ao tom do jogo. Também não ajuda o facto de as animações faciais não serem as melhores. Mas depois, existem interações bem realizadas que elevam esses momentos e que são uma mais-valia à história e às personagens.
Athia oferece uma área vasta para explorar onde se pode utilizar as habilidades de parkour de Frey para andar de um lado para o outro, algo reminiscente de inFamous, mas num cenário medieval e mágico. Achei a exploração a pé bastante divertida e, curiosamente, até me fez querer ver um novo Infamous. Fast travel também é uma opção para quem quiser ir diretamente para o destino, sendo que neste caso, fast travel é mesmo… fast. Viajar entre diferentes locais demora um par de segundos e ir do menu da consola até controlar a personagem é algo para demorar cerca de 12 segundos. Forspoken pode ter os seus problemas, mas loadings não é um deles. Perde-se muito pouco tempo com este aspeto, algo muito bem vindo num jogo open world. Diria que o mundo de Athia talvez seja um bocado mais vazio do que gostaria, mas no geral, a diversidade de locais é decente.
Outro aspeto importante é, claro está, os combates. Os vídeos de jogabilidade podem ser algo complicados de seguir tal a quantidade de efeitos e animações no ecrã, mas se tivesse de descrever, diria que o arquétipo de combate é incomum, ou seja, mage rápido e ágil. No início, as ferramentas ao dispor de Frey são limitadas mas com o avançar da história ela desbloqueia novas habilidades e ataques bastantes satisfatórias de ver e executar. Recomendo, no entanto, a ativação da opção Automatic Support Spell-Switching que permite alternar automaticamente as magias de suporte quando estão em cooldown, de forma a simplificar as coisas. Também é importante decorar os diferentes símbolos das magias para que a troca seja feita de forma rápida e permita assim estar consistentemente bom dano.
O combate é divertido e, surpreendentemente, melhor do que esperava, mas tem um problema. No início, Frey está limitada a projéteis, fazendo com que essa parte pareça quase um third-person shooter. E para piorar a situação, o desbloquear de novas magias e habilidades não acontece tão rapidamente quanto gostaria. Quando o leque se abre, percebe-se facilmente a qualidade e diversão presente, mas até lá, perde-se uma boa parte da aventura.
De destacar as funcionalidades do DualSense. A equipa conseguiu aplicar essas funções à jogabilidade de forma exemplar. Isto inclui o aumento da resistência dos gatilhos adaptativos quando Frey utiliza a sua espada de fogo, a vibração variável e precisa do feedback háptico quando Frey anda e corre, e até a voz do Cuff a sair pela coluna do comando. Obviamente, é possível desligar tudo isto, mas acho que a implementação das funcionalidades do DualSense foi muito bem executada e acrescenta uma boa dose de imersão na hora de enfrentar inimigos e na exploração do mundo.
Eu demorei cerca de 18 horas a terminar o jogo e há conteúdo secundário suficiente para ocupar mais umas quantas horas, se bem que o conteúdo secundário aqui presente não é nada de extraordinário nem tem particular impacto. A primeira metade da campanha é a menos interessante pela razão anteriormente mencionada; o desbloquear algo lento das habilidades, enquanto que a segunda metade é bastante mais interessante, tanto a nível de jogabilidade como de enredo.
A nível técnico, Forspoken é algo inconsistente. As personagens são detalhadas, mas as animações faciais ficam um pouco aquém do esperado, particularmente quando comparado com outros títulos de grande orçamento. Essa inconsistência também é transferida para o mundo, onde algumas áreas são visualmente fantásticas e outras têm alguma falta de detalhes. A história repete-se na performance. Eu joguei no modo performance, que tem como alvo os 60 FPS, e na maior parte do tempo, a fluidez é consistente, mas depois existem zonas onde se nota a frame rate a afundar. Não é que estas instâncias estraguem a experiência, mas nota-se quando acontecem.
Forspoken não conseguiu corresponder na totalidade às altas expetativas deixadas pelos primeiros trailers, quando na altura ainda era conhecido como Project Athia, incluindo a nível gráfico e em termos de ambição. No entanto, no que toca ao panorama geral, é um jogo competente que, apesar das suas falhas, é divertido e suficientemente interessante para haver uma contínua razão para seguir em frente na campanha. E por debaixo de alguns diálogos cringe esconde-se uma protagonista com um bom nível de profundidade e com um bom crescimento narrativo.
Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.
Veredito
Nota Final - 7.5
7.5
Memes à parte, Forspoken fica aquém das promessas deixadas pelos primeiros trailers, mas ainda assim, é uma aventura competente e interessante, com uma protagonista que oferece uma boa evolução ao longo da aventura.