Análises

Atomic Heart

Em busca de uma utopia

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S, Xbox One
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price

Atomic Heart é um novo FPS com elementos RPG de ação, da Mundfish, onde teremos a oportunidade ficar imersos num momento histórico-chave ocorrido numa realidade alternativa ficcional de 1955, na União Soviética, com a pesquisa e investigação científica a atingir um pico tecnológico revolucionário no uso da energia e da robótica avançada, que iria libertar a população da necessidade do trabalho manual.

Em concreto, Atomic Heart tem como cenário o centro de investigação onde se iniciou esta revolucionária investigação científica nos anos 30 – Facility 3826, cuja origem tem por base as descobertas tecnológicas de Dmitry Sechenov, com a produção de um líquido programável chamado Polímero e que iria ser a base da criação de uma rede neurológica de inteligência artificial chamada “Kollektiv” que iria unir todos os robots. Estamos então em 13 de junho de 1955, o dia do lançamento oficial da rede de inteligência artificial “Kollektiv 2.0”, uma evolução do programa de investigação iniciado anos antes que culminou no desenvolvimento de um aparelho chamado “Thought” que iria permitir integrar o Polímero no corpo humano e criar uma ligação neuronal em rede dos seres humanos com os robots para uma revolucionária utopia de ficção científica que pretendia atingir a harmonia perfeita entre as máquinas e a população. Mas depressa o caos acontece…

Por detrás daquela aparente ilusão de paz e harmonia, começa a perceber-se que estava a gerar-se uma revolução das máquinas, cujas experiências secretas fizeram derivar a criação de criaturas mutantes e robots superpoderosos sendo neste contexto que surge o Major P-3 cuja missão é investigar os horrores que se escondem na Facility 3826. É assim no papel do Major P-3 que somos envolvidos numa missão frenética de combate contra robots gigantes, experiências mutantes defeituosas, e outras falhas biomecânicas numa luta contra o tempo para se parar com este processo de revolução das máquinas.

Este enquadramento mais longo é justificado pelo destaque que dou à componente à qualidade e detalhe deste mundo de ficção que é criado em Atomic Heart. A atenção ao detalhe e aos pormenores gráficos consegue perfeitamente simular uma realidade de 1950, onde identificamos uma séria de traços estéticos da época, mas com um twist de ficção científica muito bem pormenorizado. Neste aspeto, este jogo merece todos os elogios, pois destaca-se a enorme qualidade estética de todos os cenários.

Não existindo escolha de modos gráficos, seja de performance ou de fidelity, na Playstation 5 o jogo apresente uma única versão a 60fps com resolução dinâmica, resultando daqui uma jogabilidade bastante fluída e sem quebras. O jogo tem 3 modos de dificuldade – Peaceful Atom (fácil); Local Malfunction (Nomal) e Armageddon (Difícil), podendo alterar-se o escolhido ao longo do jogo, alertando-se, contudo, para quem pretenda ganhar troféus, existe um específico destinado a premiar quem termine o jogo no nível mais difícil.

Em termos de jogabilidade, temos várias componentes a destacar. Desde logo, no que diz respeito ao combate, o nosso herói Major P-3 faz uso de uma luva especial – A Luva Polímero que lhe permite utilizar poderes como a telecinese, o congelamento ou a eletrificação para travar os adversários. Esta é uma luva falante e que interage com o nosso personagem e permite assim alargar mais as possibilidades de combate, na medida em que também temos acesso a armas mais tradicionais, como machados, caçadeiras ou armas de disparo de descargas elétricas, pelo que pode ser efetuado um uso combinado de combate à distância e de proximidade. A própria luva, com a telecinese, é utilizada para explorar gavetas, corpos ou baús e retirar de uma só vez todos os itens que podem ser aproveitados. Neste aspeto, é uma mecânica bem implementada, prática e de muito fácil utilização.

Tanto a luva como as armas podem ser melhoradas em pontos de vending espalhados ao longo do mapa, uns estranhos frigoríficos robóticos muito provocadores, mas onde conseguimos aumentar os vários poderes da luva, fazer progredir as armas ou ainda criar novas armas com os blueprints que vamos encontrando ou desbloqueando à medida que vamos avançando no jogo. Uma nota para o facto das características do DualSense serem muito ténues e pouco presentes. Nota-se algum uso dos adaptive triggers, mas de modo muito suave e sem a intensidade ou diversidade existente noutros jogos FPS.

O combate, na fase inicial do jogo é um pouco pesado e pouco fluído, e quase parece arrastar-se, sem grande dinâmica. Felizmente, à medida que vamos progredindo e desbloqueando características e melhorias, este combate de proximidade e à distância vai ficando mais fluído e agradável, mas demora um pouco a fazer-se sentir esta maior leveza de movimentos e ataques. É de destacar neste aspeto que o nosso personagem não tem sprint, pelo que estamos limitados à velocidade de base seja na vertente de exploração ou em combate mais intenso. Aqui, destaco esta componente, que retira velocidade e pode limitar a estratégia de movimento. É uma opção mecânica que considero um pouco estranha e limitativa e que pode gerar um pouco de frustração na abordagem a ter em combate ou na exploração.

Por outro lado, a navegação no mapa de jogo tem duas componentes distintas, zonas fechadas nas instalações militares e zonas de espaço aberto. Aqui temos outra opção mecânica pouco habitual, na medida em que apenas conseguimos utilizar o mapa nas zonas de espaço aberto. Nas zonas interiores, o mapa não está acessível e apenas podemos basear a passagem pelos objetivos a atingir com os pontos de referência que vão sendo criados de acordo com o progresso que vamos desbloqueando. Tal situação, nalguns momentos, gera alguma confusão, pois como existe alguma verticalidade no espaço, o movimento entre objetivos não é muito linear e não temos maneira de termos um mapa para melhor nos guiarmos.

Apesar de ser um jogo com momentos de intensa ação, existem muitos momentos de quebra de ritmo, na medida em que o jogo faz uso da necessidade de resolvermos muitos puzzles para conseguirmos progredir no jogo, como por exemplo, na abertura de puzzles. E aqui, tenho que referir que alguns destes puzzles são um pouco obtusos e pouco intuitivos. Seja por uso de lógica de ritmo, onde temos que carregar em botões ao ritmo correto, com um contador decrescente que faz com que tenhamos que repetir novamente desde o início caso não o resolvamos a tempo, seja a acertar em feixes de luz na ordem certa entre outros. Percebo que exista a intenção de criar diversidade e até impor alguma tensão para ultrapassar a dificuldade do progresso, mas cria quebras de ritmo pela repetição e frustração por serem pouco intuitivos.

Apesar de tudo, nas mais de 20 horas que demorei a concluir o jogo, existem momentos de grande intensidade e ação e com dificuldade crescente e diversidade de inimigos, mas será importante alertar para esta característica que retira um pouco de fluidez e ritmo à sensação de progresso.

Ainda um aspeto a destacar será a componente dos diálogos. Com um mundo tão rico e esteticamente bem detalhado, com um contexto da história tão denso, os diálogos são extremamente unidimensionais e sem qualquer profundidade. O nosso herói tem o carisma de uma anémona e os diálogos que este, nalguns momentos chegam a roçar a infantilidade. Talvez eu não seja o target etário do jogo, mas a componente dos diálogos tão superficiais e ocos, foi uma efetiva desilusão pessoal.

Em suma, Atomic Heart é um jogo que recria um excelente e atrativo mundo alternativo numa União Soviética dos anos 50, muito detalhado e esteticamente diverso, mas com opções mecânicas de jogabilidade que geram alguma estranheza e retiram alguma fluidez ao progresso que vamos tendo ao longo deste.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 7

7

Atomic Heart oferece alguns momentos de ação intensa num atrativo mundo alternativo, mas o ritmo de jogo por vezes quebra demasiado graças a puzzles obtusos e pouco intuitivos.

User Rating: 4.39 ( 5 votes)
Botão Voltar ao Topo