Análises

Resident Evil 4

LEON! HELP!

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price

Existem três tipos de remake: aqueles que são extremamente fiéis ao material original mas melhoram o aspeto técnico e a jogabilidade, aqueles que são fieis ao material original e melhoram os aspetos técnicos mas tomam a liberdade de alterar diversos aspetos da campanha e da jogabilidade, e aqueles que mudam tanta coisa que caminham numa linha ténue entre remake e reimaginar. O remake de Resident Evil 4 enquadra-se na segunda categoria.

Resident Evil 4 é considerado como sendo um dos melhores jogos da franquia e um dos melhores jogos do género survival horror, como tal, a expetativa para com este remake era elevada. E agora que joguei a versão final, posso confirmar que este projeto foi muito bem executado, consideravelmente melhor que o remake do terceiro título, porque consegue oferecer aquela história de forma mais moderna, mas sem perder a essência que tornou o original num título tão acarinhado pelos fãs.

Os eventos de Resident Evil 4 decorrem seis anos após o desastre biológico que aconteceu em Raccoon City. Leon, um dos poucos sobreviventes desse incidente, foi enviado para salvar a filha do presidente que foi raptada por um culto sinistro. Eventualmente, Leon segue o rasto até a uma pequena e misteriosa aldeia em Espanha, e vê-se novamente cara a cara com outro “incidente” biológico. Desta vez não são zombies, mas sim infetados designados por Ganados. O facto de não serem zombies resulta num estilo de confronto diferente dos anteriores Resident Evil.

Como não quero estragar a surpresa a ninguém, vou-me limitar ao que foi mostrado nos últimos trailers e à demo. Uma grande diferença entre o original e o remake está na modernização da jogabilidade, que agora controla-se de forma semelhante aos remakes do Resident Evil 2 e Resident Evil 3. Por exemplo, Leon consegue andar e disparar ao mesmo tempo, algo que não conseguia no original. Leon parece um pouco menos responsivo, mas isso deve-se à maior complexidade e variedade de animações disponíveis e também por uma questão de equilíbrio na dificuldade. Na pratica, ele é tão ágil como são as personagens nos remakes do segundo e terceiro Resident Evil.

Uma outra adição à jogabilidade é a possibilidade de fazer parry a ataques, adicionando assim mais um elemento aos confrontos. O loop de Resident Evil 4 é diferente dos anteriores, na medida em que os Ganados andam com armas, existem em grande quantidade e são bastante agressivos, por isso, o método mais eficaz é atordoar um inimigo ao e dar-lhe com um golpe melee. Acaba por ser uma boa forma de crowd control. Resident Evil 4 é um survival horror, e o remake até envereda por um tom mais sombrio e opressivo que o original, mas é também um jogo com bastante ação e estas opções, juntamente com um esquema de controlo moderno, melhoram imenso a experiência nas partes mais caóticas.

Aliás, eu diria até que a adição de bloquear e parry acabam por tornar os confrontos mais intensos, porque abre-se a porta para se sobreviver a situações que eram praticamente inescapáveis no original. Como disse anteriormente, os Ganados são mais agressivos e existem em maior número. Não só isso é um problema, como há também o risco de um tiro bem dado na cabeça permitir a aparição do parasita. É claro que existem outros perigos a ter em conta ao longo da aventura, mas basta olhar para a secção inicial da vila para se ter uma ideia de que os confrontos são intensos e que o seu rumo rapidamente pode mudar para pior. A verdade é que a modernização global da jogabilidade e dos movimentos de Leon fazem com que até as secções que menos gostei no original sejam divertidas aqui.

Uma outra grande alteração está no facto de o remake não utilizar os Quick Time Events (QTE) típicos do jogo original. Existiam alturas onde a sua utilização abundava e até existiam lutas completamente focadas nesta mecânica, incluindo contra o Krauser. Obviamente, não vou dar muitos mais detalhes, mas a experiência por este tipo de secções é diferente. Existem alguns elementos que talvez se possam chamar de QTE, mas nada na linha do que oferecia o original. Pode haver quem diga que a presença dos QTEs era quase uma imagem de marca e que a sua retirada altera demasiado algumas secções e lutas, mas acho que esta é uma muito bem vinda mudança.

Resident Evil 4 é um jogo diversificado. Não no mau sentido como em Resident Evil 6, que era uma mistela de ideias e execuções, mas sim no bom sentido. A parte inicial tem uma forte componente de survival horror, enquanto que outras secções mais avançadas são mais focadas em puzzles e/ou em ação. O mais importante é que tudo é consistente em qualidade e, mesmo com as suas diferenças, todas as secções são coerentes e fazem sentido, mesmo as mais estapafúrdias. Sim, o remake pode ter um tom mais pesado, mas certas falas ou ações mais cheesy continuam presentes, como a fala “Where’s everyone going? Bingo?” dita pelo Leon. No geral, acho que os fãs do original vão gostar do que este remake tem para oferecer. Existe bastante familiaridade, mas ao mesmo tempo, coisas suficientemente novas ou diferentes para oferecer algo para todos, quer seja ou não a primeira vez a jogar Resident Evil 4.

Existe também outro conteúdo que promove e recompensa a exploração das áreas, que me vou abster de comentar, mas que é bem vindo e adiciona mais uma camada ao que já existia. Além disso, este remake conta com um New Game Plus. E claro, como não poderia deixar de ser, o icónico vendedor regressa no remake. Uma componente central em várias secções do jogo está associada à Ashley, na medida que em determinados pontos do jogo ela irá acompanhar Leon. Nestas alturas é necessário protegê-la, dando-lhe indicações para se manter próxima de Leon ou afastar-se, e noutras terá um papel mais ativo para a progressão nessa área ou num puzzle.

Repetindo o que disse anteriormente, Resident Evil 4 é um jogo muito diversificado, mas consistente em qualidade da oferta e na execução das diferentes secções. Contudo, nem tudo sobreviveu ao processo de remake e algumas coisas ficaram para trás, mas em termos gerais, acho que estas perdas não são significativas. Acho que os remakes de Resident Evil 2 e 3 perderem muito mais no processo que o remake do quarto título. Por outro lado, também se pode dizer que foi adicionado novo conteúdo e melhoradas algumas áreas, o que acaba por equilibrar a coisa. No entanto, há uma ausência que merece mencionada, nomeadamente Separate Ways. Para quem não jogou o original, Separate Ways era um modo que permitia seguir as pisadas de Ada Wong e ver o que ela andou a fazer enquanto Leon andava na sua missão. Talvez venha mais tarde como DLC, quem sabe.

No que toca ao aspeto técnico, este remake do Resident Evil 4 é muito bem conseguido, o que não é uma grande surpresa depois do Resident Evil Village e dos outros dois anteriores remakes. Tudo é incrivelmente detalhado, a iluminação é utilizada exemplarmente para acentuar todos os momentos do jogo, e a fluidez incute uma claridade bem vinda ao mundo. Este não é propriamente o título mais assustador da série, mas a fidelidade visual e toda a componente técnica elevam imenso a experiência oferecida face ao original e o ambiente condiz melhor com os eventos decorridos.

O jogo apresenta dois modos gráficos: um focado na resolução, que oferece 2160p com ray-tracing e tem como alvo 60 FPS, embora seja inconsistente, e um focado na performance, que oferece resolução dinâmica a 2160p, sem ray-tracing, a uns constantes 60 FPS. É possível ligar o ray-tracing no modo performance, mas eu joguei neste modo sem ray-tracing para ter uma framerate praticamente bloqueada nos 60 FPS. No entanto, recomendo desligarem o Chromatic Aberration e Lens Flare nas opções gráficas de forma a que a qualidade de imagem seja mais nítida. Chromatic Aberration é um efeito que raramente gosto de ver nos jogos, incluindo no remake de Resident Evil 3, e desligar esta opção traduz-se num maior detalhe e claridade de imagem.

Acredito que haja quem não vá gostar das alterações gerais, do diferente tom, do redesign das personagens, da retirada de certos elementos característicos do jogo original ou do reajuste de algumas coisas e, principalmente, dos cortes feitos, mas acho que este remake do Resident Evil 4 é muito bem conseguido. Ao contrário do que aconteceu com o remake do Resident Evil 3, parece que a equipa teve um plano bem delineado e executou-o muito bem, com o intuito de ser fiel ao jogo original mas, ao mesmo tempo, conseguir oferecer algo de novo. Sim, certas coisas não estão presentes, mas existem outras no seu lugar, e no final, a longevidade entre o original e o remake não é muito diferente.

O original Resident Evil 4 é um dos meus jogos favoritos. Adorei jogá-lo em 2006 na PS2 e ainda hoje me lembro dessa experiência. Dito isto, e tentando colocar a nostalgia de lado, acho que gostei ainda mais de jogar este remake, porque melhora alguns dos aspetos que menos apreciei no original e parece-me que, no fim, é um produto mais consistente. Qual das versões é melhor? Bem, acho que essa vai ser uma discussão que fará correr muita tinta, mas vejo mérito em ambos os jogos. De qualquer forma, os fãs desta franquia e deste género em geral têm mais uma excelente opção à sua disposição.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9.5

9.5

O corte de algumas coisas não vai ser do agrado de todos, mas as adições e alterações compensam essas ausências, e a perda do modo Separate Ways não é significativa o suficiente para manchar a excelente qualidade deste remake.

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Ricardo Silvestre

É o editor da ZWAME Jogos e faz um pouco de tudo no site. Gosta em particular de jogos de corrida, jogos de luta e RPG's, mas também não diz que não a um bom jogo com loot.
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