Versão testada: PC
Disponível para: PC, PlayStation 5
São poucos os jogos que conseguem tornar-se ícones simbólicos de uma plataforma, reconhecidos universalmente com múltiplos prémios e globalmente aclamados pela comunidade de jogadores pela sua excelência técnica de jogabilidade e história envolvente. Este é o caso do jogo The Last of Us, até agora exclusivo das consolas da Sony que, passados 10 anos do seu lançamento original na PlayStation 3 e após outros lançamentos posteriores com remasterização na PlayStation 4 e um remake mais recente na PlayStation 5, a par do lançamento de uma adaptação para TV com uma série de 9 episódios lançados em exclusivo na plataforma de streaming HBO, chega finalmente ao PC, possibilitando assim que mais jogadores possam ter contacto com este fantástico jogo.
É pois, neste cenário de antecipação da chegada ao PC de um jogo tão simbólico e marcante e que conheço bastante bem, pois joguei-o nas várias formas e níveis de dificuldade, de acordo com os vários lançamentos e a evolução que foi acontecendo, que foi com enorme satisfação que carreguei no botão de “play” que permitiu arrancar pela primeira vez o jogo The Last of Us Part I no PC e permitir assim ir aos vários menus de configurações e tomar contacto com uma diversidade de opções que só esta plataforma permite alterar e ajustar. Mas antes de falar dos aspetos técnicos (sendo que, infelizmente, haverá várias situações anómalas a sinalizar), creio ser importante efetuar um enquadramento adequado na análise, no que diz respeito ao tipo de jogabilidade e excelência da história marcante que The Last of Us Part I nos proporciona.
The Last of Us Part 1 é uma história de sobrevivência, mas sobretudo uma história de emoções. Desespero, medo, egoísmo, fraternidade ou amor são muitas das emoções humanas que atravessam e marcam o jogo envolvendo o jogador num carrossel de sentimentos e nos fazem pensar no que faríamos por alguém a nós conectado se fossemos levado ao extremo perante a possibilidade da sua perda.
Depois de um início de jogo muito calmo, tranquilo e fraternal entre Joel e sua filha Sarah, passado na cidade de Austin, Texas, em 2013, rapidamente somos confrontados com o caos e a mudança abrupta para um cenário de terror, motivado por um devastador surto que infetava os seres humanos, com origem numa mutação de um fungo denominado Cordyceps que, tendo assolado inicialmente uma grande parte dos Estados Unidos, alastrou-se ao longo dos anos a todo o planeta, num cenário de futuro pós-apocalíptico de destruição aterradora. É neste cenário de uma civilização à beira da extinção que, ao longo dos anos, a sociedade se transforma radicalmente, com zonas citadinas de Quarentena altamente policiadas e numa divisão entre fações militarizadas, rebeldes e milícias armadas, como os Fireflies, e onde o contrabando e as atividades ilegais marcam o dia-a-dia de quem procurava lutar pela sobrevivência.
É neste contexto de sobrevivência que, 20 anos depois do surto inicial, encontramos Joel, cujas atividades ilegais de contrabando que efetuava com Tess, o leva à zona de quarentena de Boston em Massachuttes, para confrontarem Robert, um criminoso do mercado negro que teria roubado um carregamento de armas. Depois de uma altercação com este criminoso, Joel e Tess tomam conhecimento de que estas armas foram entregues ao grupo rebelde Fireflies, comandado na altura pela líder Marlene. É nesta sequência, motivada pela necessidade de recuperar as armas roubadas, que Joel passa a ter um objetivo que vai marcar o jogo e que passa pela necessidade de levarem a jovem Ellie para o agrupamento dos Fireflies, em Boston e fazer então aí a tão desejada troca. Mas, como seria de esperar, muitos acontecimentos irão marcar de modo dramático esta viagem e este objetivo.
The Last of Us é um jogo muito intenso dado que as consequências das mutações do fungo Cordyceps e dos efeitos que provocou nos humanos, nas suas várias formas de tempo de infeção, leva a que existam uma série de intensos combates e tensão permanente, sobretudo porque o próprio contacto que se tenha com um infetado como uma simples mordidela poderia significar uma transformação inevitável num ciclo interminável de contágio e mudança para este estado monstruoso. Os combates são muito intensos e tecnicamente muito envolventes. Todo o punch de proximidade, feeling da utilização das armas, agressividade da IA dos inimigos, coloca-nos sempre em alerta na utilização de várias estratégias que possam conseguir fazer ultrapassar as várias secções, neste jogo linear.
Depois temos a intensidade dramática da história e da relação entre Joel, Ellie e outros personagens carismáticos. Com uma cinematografia bastante envolvente, marcada pela excelência da banda sonora criada por Gustavo Santaolalla, The Last of Us consegue ao longo quase 17 horas ter um equilíbrio fantástico entre momentos mais intimistas e uma ação frenética e sem dúvida que, todos os prémios recebidos ao longo dos anos, são de uma inquestionável justiça.
Neste contexto de sucesso e aclamação global, que, como referido anteriormente, até motivou uma adaptação para uma série televisiva com várias nuances na história e ritmo, mas respeitando o argumento original, sem se tornar numa cópia 1:1, chegamos então ao port deste título agora lançado para PC. Basicamente, é feito o port do remake lançado em Setembro de 2022 para a PS5, o qual também foi aclamado pela excelência de todas as alterações que introduz à versão original da PS3, mais tarde remasterizada na PS4.
O remake acaba por introduzir uma série de alterações à jogabilidade e às animações, algumas subtis outras mais evidentes, mas que permitem que o material original fique mais aproximado a The Last of Us Part 2, onde até é recuperado o sistema de motion matching que melhora os movimentos e o combate, sendo ainda refeitos alguns enquadramentos das personagens, tornando a cinematografia do jogo mais contemporânea. Como já considerei na altura em que finalizei esta versão do jogo na PlayStation 5, o remake tem imensa qualidade e era para mim a versão definitiva do jogo base e conteúdo adicional lançado até então, na expectativa que coloquei na versão anunciada para PC e as suas potencialidades visuais e gráficas num hardware capaz.
A edição lançada, tal como na consola da Sony, inclui o DLC Left Behind, mas acrescenta agora uma série de características específicas de Pc como um slide FOV, opções de framecap ou ajuste de FPS sem limite forçado, técnicas de performance como o DLSS2 e o FSR2, opções de ajuste individuais à qualidade das texturas, sombras e reflexos, uso de presets pré-configurados, entre outros. No aspeto de configurações, os menus são muito completos e permitem uma série de ajustes e tweeks que permitem adaptar o resultado à panóplia de configurações de hardware disponíveis nesta plataforma. E assim, carrego no botão de “play”, para finalmente usufruir desta pérola no PC… e começa aqui o sentimento de frustração que ganhei com o port do jogo para esta plataforma.
Começando por uma construção de shaders que demorou no meu sistema cerca de 30 minutos, o que é um tempo manifestamente longo para o que é habitual (sendo contudo, um processo inicial sempre positivo pela possibilidade de eliminar os stutters tão desagradáveis na fluidez em movimento da imagem), com o arranque do jogo rapidamente percebo que existiam algumas anomalias de performance. A imagem arrastava-se com um judder notório e na movimentação dos personagens foi logo notório um micro-stuttering intrusivo. Obviamente que de imediato procura-se efetuar os ajustes necessários nas configurações para corrigir esta situação que poderia estar ligada a alguma característica do hardware ao nível de GPU, CPU, velocidade do disco onde estava instalado o jogo ou memórias. Naturalmente que a tendência imediata será baixar opções gráficas que encaixem o desempenho do jogo às características do hardware. Ativar DLSS ou outras opções de desempenho, baixar settings e procurar alternativas de configuração que permitisse a imagem fluída.
Contudo, é perfeitamente visível que os saltos abruptos de framerate, com picos frenéticos de desempenho, era algo que resultava de questões de otimização, na medida em o estando os presets dentro das recomendações, não existia justificação para não obter um desempenho harmonioso e sem arrastamento. A única alternativa que minimizou esta situação foi mesmo meter um framecap bastante abaixo das capacidades da gráfica e, tentar manter, pelo menos os 60 FPS estáveis. Infelizmente, tal situação foi apenas um paliativo para solucionar outros problemas verificados, seja com glitches nos personagens (alguns até bastante cómicos) ou erros de shutdown do jogo, que quebraram imenso a fluidez.
Decorridos até esta altura 2 patches que foram lançados para correção de erros e melhoria de performance, continuam a não ser visíveis as melhorias ao núcleo da performance pobre e pouco estável, sendo expectável que este trabalho de melhoria e correções seja contínuo ao longo dos próximos tempos. Infelizmente, não recomendo este port de The Last of Us Part 1 para PC no estado atual, sendo bastante mais prudente aguardar pelas várias melhorias que inevitavelmente terão que ser lançadas.
Em suma, The Last of Us Part 1 é um jogo fantástico e único, com imensa qualidade na jogabilidade e no modo como se conta uma história de modo envolvente e emocionante, mas que chega agora à plataforma PC com vários problemas técnicos de performance, sendo expectável o inevitável lançamento de patchs de correção que o dignifiquem enquanto título tão marcante. Assim esperamos que aconteça.
Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.
Sistema: Ryzen 5600x; Nvidia RTX 4090; 16Gb Memória 3600Mhz; Windows 11
Veredito
Nota Final - 6
6
The Last of Us Part 1 é um excelente jogo que chega finalmente ao PC, mas que, infelizmente, chega através de um port com bastantes problemas técnicos.