Análises

Metaphor: ReFantazio

Awaken!

Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, PlayStation 4, Xbox Series X/S
Onde comprar: Tropical Price

Sendo grande fã dos JRPG da Atlus, foi com bastante entusiasmo que recebi o anúncio de Metaphor: ReFantazio, uma nova propriedade intelectual vinda de alguns dos principais responsáveis por detrás de Persona 3, 4 e 5. Após muitas dezenas de horas de jogo, posso dizer que Metaphor: ReFantazio é algo novo mas que, ao mesmo tempo, oferece muita familiaridade. Mas como se compara e o que oferece de diferente de Persona e Shin Megami Tensei?

Como é fácil de constatar pelas imagens e vídeos, Metaphor: ReFantazio deixa para trás locais reais para se focar num mundo fictício e apresentar um estilo de fantasia medieval. Apesar desta mudança de palco de fundo, continuam a ser mostrados temas sérios, sendo neste caso o racismo. Este mundo apresenta várias raças organizadas de forma hierárquica em que algumas são descriminadas simplesmente pelas suas características físicas. O protagonista é da raça mais odiada e isso faz-se sentir em várias interações com outras personagens.

Não vou dar muitos detalhes da história, mas a premissa das primeiras horas envolve o assassinato do rei, o que trás caos ao mundo. Uma vez que não há herdeiros, pois o seu filho misteriosamente desapareceu anos antes após ter sido atacado, eis que a porta fica aberta para um concurso em que qualquer um, independentemente da sua raça ou posição social, possa competir pelo trono. Para tal, os concorrentes têm de cumprir determinados desafios e conquistar o apoio do público. O objetivo dos protagonistas é conquistar esse apoio do público e conseguir quebrar a maldição que aflige o príncipe. A esperança é que o idealismo do príncipe consiga tornar o mundo num melhor sítio.

Como seria de esperar, as coisas nunca são tão simples e reviravoltas vão acontecer. Pelo caminho também vão ser encontradas novas personagens, algumas que eventualmente se juntam à equipa. O elenco de personagens jogáveis é de facto de grande qualidade e são muito bem desenvolvidas, tanto durante a história principal como durante os tempos livres nas interações sociais. Sim, Metaphor: ReFantazio tem os elementos sociais tipicamente encontrados em Persona, como o equivalente aos Confidants, aqui chamados de Followers, e estatísticas pessoais do protagonista que servem para desbloquear mais interações. Estes elementos são importantes, pois o evoluir dos Followers permite desbloquear mais Archetypes.

Um outro elemento de Persona que está aqui presente é a gestão de tempo, mas aprecio como este elemento foi incorporado em Metaphor: ReFantazio e adaptado para as viagens entre os diversos locais e cidades. Não é uma simples cópia, pese embora os resultados sejam semelhantes. Existe um limite de dias até à história avançar, e esse tempo livre pode ser utilizado em evoluir a relação com os companheiros e outras personagens ou passados em viagem para se explorar dungeons opcionais. Estas viagens demoram dias, mas durante esse tempo, é possível evoluir os stats sociais do protagonista e a sua relação com os restantes elementos da equipa. Isto acaba por adicionar um nível de camaradagem que melhora a sensação de uma grande aventura pelo mundo comparado com o que se costuma ver num cenário moderno de Persona.

Neste jogo não existem Personas, mas sim Archetypes. O seu funcionamento é completamente diferente, pois Archetypes são efetivamente classes. E pese embora as personagens tenham diferentes preferências, na medida em que umas são mais focadas para ataque físico e outras para magias, há liberdade de equipar qualquer Archetypes nas personagens. Por exemplo, Strohl é uma personagem claramente mais focada para o uso de armas corpo-a-corpo e ataques físicos, mas é possível equipar a Archetype de suporte Healer.

Há medida que Archetypes evoluem, vão ficando mais poderosas e vão desbloqueando novas habilidades. Quando atingem o nível máximo, continua-se a ganhar experiência, mas em vez de subir de nível, é obtido um consumível que pode ser dado a outra Archetype para ganhar 1000 EXP. Isto permite que se continue a jogar com uma Archetype completamente evoluída e, em simultâneo, se possa ir evoluindo outras. Isto é muito bem vindo, pois é possível herdar habilidades de outras classes de forma a complementar melhor a equipa para o momento. Por exemplo, é possível um Mage ter uma magia de cura ou um Brawler uma magia elementar para quebrar a defesa dos inimigos. Se por um lado isto oferece um bom nível de personalização, por outro, acaba por uniformizar demasiado a equipa, pois todos têm acesso às mesmas ferramentas, diferenciando apenas as estatísticas base e o seu potencial crescimento.

Por falar em inimigos, o sistema de combate de Metaphor: ReFantazio é mais próximo de Shin Megami Tensei do que Persona. É utilizado o sistema Press Turn em vez de One More. Pode parecer muito semelhante, mas na prática existem diferenças consideráveis. Primeiro, a personagem que acerta na fraqueza de um inimigo ou acerta um ataque crítico não ganha uma ação extra para voltar a atacar. Segundo, a falha de um ataque significa a perda de ações. Isto requer algum cuidado na hora de atacar cegamente um inimigo. E por último, não está presente um sistema tipo Baton Pass que permita passar a vez a outra personagem à escolha. Eu gosto de ambos os sistemas, mas reparei que a gestão de MP em Metaphor: ReFantazio é mais difícil do que em Persona 5 Royal ou Shin Megami Tensei V, por exemplo, principalmente enquanto não se tem uma equipa de quatro elementos.

Se há algo que me desiludiu foi a parte técnica do jogo. Os RPGs da Atlus nunca foram portentos gráficos, mas o estilo artístico ajudou a esconder essas falhas. O estilo de fantasia medieval de Metaphor: ReFantazio, por outro lado, realça essas falhas, neste caso o excesso de aliasing. Em qualquer linha reta nota-se fortemente um serrilhado que é acentuado pelos tons de castanho e cinzento abundantemente usados e também pela arquitetura de estilo medieval. Por vezes, juntamente com outro efeitos visuais, confere ao jogo um aspeto datado. Também não ajuda existirem quebras de fluidez. Quem tiver um painel que suporte VRR consegue escapar a este problema, mas isto nem deveria de acontecer pois este não é um jogo com gráficos de topo. Além disso, o balanceamento do som não é o melhor, e mesmo após ajustes nas opções, há alturas em que a música de sobrepõe demasiado às vozes.

Sobre a parte artística, que sempre foi um ponto forte em Persona e Shin Megami Tensei, gostei de Metaphor: ReFantazio no geral. O design dos menus continua extravagante e estiloso, pese embora não goste dos elementos móveis existentes nos balões de diálogo. Demorou algum tempo até deixar de reparar nisso. O design das personagens e mundo em si é também muito apelativo, fazendo por vezes lembrar Fire Emblem: Three Houses, um jogo que adorei e onde gastei mais de 100 horas. No entanto, não fiquei grande fã do design das Archetypes. Não as achei tão visualmente apelativas e únicas como as Personas. O mesmo pode ser dito sobre o design dos inimigos, se bem que isto acaba por ser mais subjetivo. De mencionar que Metaphor: ReFantazio é acompanhado por uma excelente banda sonora composta por Shoji Meguro, que oferece um estilo bastante diferente do que estou habituado mas com o mesmo nível de qualidade. O elenco de atores, tanto o Japonês como o Inglês, é também bastante bom.

O meu tempo em Metaphor: ReFantazio foi muito bem passado e gostei de revisitar uma fórmula conhecida num novo cenário e ver até onde isto poderia ir. Eu tenho alguns problemas para com o jogo, alguns mais subjetivos que outros, mas no geral, Metaphor: ReFantazio é um fantástico jogo que vai cativar os fãs de Persona, Shin Megami Tensei e JRPG em geral.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 8.5

8.5

Metaphor: ReFantazio é mais um bom JRPG vindo da Atlus e num ano que já teve outros dois JRPG de qualidade. Metaphor: ReFantazio oferece uma boa mistura entre novo e familiar, e é uma grande opção para os fãs deste género de jogos.

User Rating: Be the first one !
Botão Voltar ao Topo