Versão testada: PlayStation 5
Disponível para: PC, PlayStation 5, Xbox Series X/S
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price
Cyberpunk 2077 gerou muito entusiasmo logo no anúncio e esse entusiasmo foi crescendo progressivamente sempre que era revelado um novo trailer ou eram divulgadas novas informações. Afinal de contas, tratava-se de um projeto vindo do estúdio que lançou o universalmente conceituado The Witcher 3. A expetativa era enorme e o que era mostrado tinha imenso potencial para ser algo muito especial. Mas tudo mudou no dia 10 de Dezembro de 2020, quando o jogo foi lançado e se constatou que o produto final estava longe do prometido com o vídeo gameplay de 2018 e toda a informação divulgada desde então.
Existem lançamentos em que jogos têm alguns problemas no início e depois existiu Cyberpunk 2077. O jogo estava cheio de bugs, glitches, jank e tinha várias funcionalidades em falta. E para piorar as coisas, existiam sérios problemas de performance na PS4 e Xbox One. A única forma de se ter uma experiência minimamente fluida em consola naquela altura era jogar na PS5 e Xbox Series X, duas consolas quase que impossíveis de obter devido à pandemia. A receção por parte da comunidade foi de tal forma negativa que o jogo foi retirado temporariamente de venda da PlayStation Store, outras lojas colocaram avisos sobre os diversos problemas que o jogo tinha e a própria CDPR iniciou uma campanha de devolução para quem adquiriu o jogo em formato físico.
Eu fiz a análise na altura, na Xbox Series X, e em retrospetiva, talvez devesse ter sido mais duro. O potencial estava lá, mas estava enterrado por debaixo de camadas de problemas. É capaz de ter sido um dos jogos mais frustrantes que analisei até à data por essa razão. Mas passados quatro anos, Cyberpunk 2077 é um jogo muito diferente. Foram lançadas muitas atualizações que corrigiram quase todos os problemas, foram adicionadas a vasta maioria das funcionalidades e sistemas em falta, foram feitos vários ajustes à skill tree e ao loot e foi lançada uma expansão. Uma vez que estamos no mês em que Cyberpunk 2077 celebra o seu 4º aniversário, parece-me uma boa altura para revisitar este título. Importa salientar que esta foi a minha terceira playthrough e a primeira com a expansão. No total, demorei quase 100 horas a terminar esta nova aventura.
Cyberpunk 2077 é um action RPG na primeira pessoa, cujo palco de fundo é Night City, uma cidade obcecada pelo poder, glamour e alterações de corpos. Os cidadãos ou são explorados pelas empresas ou pelos diversos gangues que estão espalhados pela cidade. Não é de todo um sítio muito acolhedor. O jogador irá seguir as pisadas de V, um mercenário que pretende deixar a sua marca na cidade. Mas se calhar estou a adiantar-me demasiado. Antes de começar a aventura, é necessário passar pelo menu de personalização do nosso V. Decidi, novamente, escolher V mulher, pois o papel é desempenhado pela atriz Cherami Leigh. Alguns irão conhecê-la como Makoto em Persona 5 ou Rhea em Fire Emblem: Three Houses. Ela tem uma prestação fenomenal como V, a ponto de, por vezes, nem conseguir reconhecer a sua voz.
Passado este ponto, é necessário escolher um background. Estão três disponíveis, mas Corpo parece-me o mais indicado dado os temas do jogo e o rumo da história. Mas no fundo, acaba por ser preferência de cada jogador, pois o impacto desta escolha na campanha resume-se apenas a algumas opções de conversa específicas sem consequência. Uma vez completado o prólogo, que é diferente para cada um dos backgrounds, chega a hora de V e do seu parceiro se unirem para começar a ganhar reputação. E eis quando surge um trabalho demasiado bom para recusar e que, em caso de sucesso, colocará a dupla no mapa. Como seria de esperar, a coisa não corre como o planeado, e V vê-se numa luta contra o relógio para sobreviver.
Um dos pontos fortes de Cyberpunk 2077 é a campanha. Existem vários momentos de grande nível e bastante únicos. O desenrolar da aventura tem um bom ritmo e as personagem que se vão encontrando pelo caminho são bem desenvolvidas e enquadradas neste mundo. Johnny Silverhand, interpretado pelo inconfundível Keanu Reeves, é um dos destaques. A sua relação com V vai evoluindo aos poucos ao longo da história até se tornar em algo tangível. E claro, existem as várias personagens secundárias que acabam por fazer parte do quotidiano de V e que, eventualmente, ajudam no que é preciso no momento chave, destacando aqui Judy e Panam. Eu não quero entrar em muitos mais detalhes para não estragar a surpresa de quem ainda não entrou neste mundo, mas a história e tudo o que a rodeia é de grande qualidade.
O que é também de grande qualidade é a expansão Phantom Liberty, que adiciona mais uma secção de Night City para explorar, chamada Dogtown. Diria até que esta campanha consegue superar em vários momentos a campanha base. Tudo começa quando V recebe uma mensagem de uma misteriosa mulher chamada Songbird, que lhe pede ajuda. V terá de entrar em Dogtown e resgatar uma determinada pessoa, ao mesmo tempo que persegue uma potencial cura para o seu problema fatal. Esta campanha tem vários momentos muito marcantes e até abre a porta para um novo final. No meu caso, decidi entrar em Dogtown após as missões dos Voodoo Boys e fui intercalando a expansão com o conteúdo base para tirar melhor partido das novidades, habilidades e equipamento. O resultado foi muito positivo a nível de experiência e pareceu-me natural em termos de história.
Tanto a campanha como a expansão beneficiam imenso com as correções e adições feitas desde o lançamento, particularmente duas coisas. A primeira é a introdução de um sistema de polícia. No lançamento, quando se fazia algo ilegal, mesmo que de forma não intencional, a polícia fazia spawn nas costas do jogador de forma instantânea e com a máxima força. Tecnicamente, não havia um sistema a funcionar, mas sim um atalho. Agora, está presente um verdadeiro sistema de polícia que faz lembrar os do GTA, em que o número de estrelas representa a força policial. E a polícia, em vez de fazer spawn nas nossas costas, aparece com alguma distância no mapa e com a indicação do campo de visão. Se ficarmos algum tempo fora do radar, deixamos de ser procurados.
A segunda coisa é a implementação de perseguições. Há medida que a história se vai desenrolando e V se vai emaranhando com os diferentes gangues e fações, vão haver alturas em que mercenários vão perseguir e atacar V pela cidade. Isto inclui, obviamente, pessoal a mando da Arasaka. A implementação destas duas funcionalidades resulta numa diferença brutal no que toca à interação com a cidade quando comparado com o jogo no lançamento. Antes, Night City parecia apenas uma vitrine, enquanto que agora existe verdadeira interação entre o jogador e a cidade.
No que toca à jogabilidade, Cyberpunk 2077 utiliza a câmara na primeira pessoa. Se no início a ausência de uma câmara na terceira pessoa foi uma desilusão, na prática, é o oposto. O jogo foi muito bem adaptado para esta câmera, incluindo nos diálogos com os NPC’s. Em vez do típico olhar morto do NPC para a câmera, os NPC’s em Cyberpunk 2077 gesticulam e movimentam-se pelo cenário de forma natural. Isto dá a sensação de realmente estarmos a ver esta história através dos olhos de V e não apenas de ser uma câmera ambulante.
Os combates e diferences desafios oferecem várias formas diferentes de serem ultrapassados, dependendo, claro está, da build utilizada. Tal como na segunda playthrough, decidi novamente utilizar uma build baseada em smart weapons, mas devido às alterações feitas na skill tree aquando do lançamento da expansão, a build envereda também pelos quickhacks. Estas duas coisas complementam-se muito bem, pois posso dar cabo de um inimigo de forma silenciosa com um quickhack e depois passar ao ataque com uma smart SMG para matar mais inimigos e recuperar recursos para fazer mais quickhacks. E o ciclo prossegue até ao fim do encontro. Mas esta é apenas uma build, e quem quiser pode, por exemplo, fazer uma centrada em melee com uma Katana. O leque de opções é bastante bom, especialmente após as últimas atualizações e graças às coisas introduzidas na expansão.
A nível de performance, Cyberpunk 2077 dá a escolher entre um Quality mode focado em resolução e com ray tracing (embora limitado) a 30 FPS e um Performance mode sem ray tracing e com uma resolução mais baixa mas a 60 FPS. Eu joguei na PS5 no modo Performance e apenas notei algumas quebras ocasionais ao andar por Dogtown, pois esta zona é mais densa e existem algumas atividades dinâmicas a acontecerem. Recentemente experimentei jogar na PS5 Pro durante algumas horas e a consola limpa essas quebras de performance ocasionais, além de que mantém uma resolução média mais alta. Mas no geral, o jogo está muito melhor a nível técnico do que estava no lançamento e as versões nativas para a atual geração de consolas realçam o bom trabalho feito a nível artístico.
Quanto a que versão escolher, tanto a versão PS5 como a Xbox Series X são comparáveis em gráficos e performance, mas existe um ponto onde a versão PS5 se torna superior. Refiro-me à imersão proporcionada pelo DualSense, em particular ao haptic feedback. Esta funcionalidade foi muito bem implementada e ajuda a criar uma maior ligação com o mundo do jogo. Cyberpunk 2077 é um título onde existem várias situações de ruído estático e explosões elétricas, particularmente numa build como a que usei onde explosões dessas acontecem frequentemente, e o haptic feedback consegue capturar e transferir esses momentos com perfeição.
Cyberpunk 2077 já oferecia no lançamento alguns momentos de alto nível e muito interessantes, mas o problema é que estavam enterrados por debaixo de muitas camadas de bugs e falsas promessas. Era preciso fechar os olhos a muitos dos problemas para se conseguir usufruir desses momentos, coisa que na PS4 e Xbox One não era muito fácil de se fazer. Mas quatro anos mais tarde e depois de várias atualizações e do lançamento de uma expansão, Cyberpunk 2077 é um jogo muito diferente. Verdade seja dita, ainda existem algumas coisas em falta que, muito provavelmente, nunca iremos ver a não ser num remaster ou remake. É o caso dos megabuildings, que deveriam ser edifícios gigantes que funcionariam como se fossem pequenas cidades com o seu próprio ecossistema, e de NPC’s com as suas rotinas diárias. E também ainda existe algum jank em algumas missões secundárias. Mas mesmo assim, já se pode dizer que Cyberpunk 2077 é um jogo completo e polido. Se no lançamento foi uma experiência frustrante, agora, é um dos meus jogos favoritos dos últimos anos e um que posso recomendar vivamente sem asteriscos.
Nota editorial: Cópia adquirida pelo autor do artigo.
Veredito
Nota Final - 9.5
9.5
Cyberpunk 2077 é atualmente um jogo que recomendo vivamente, especialmente quando acompanhado com a expansão Phantom Liberty. No lançamento era uma experiência frustrante, mas agora, é uma experiência fantástica.