Versão testada: PlayStation 5 Pro
Disponível para: PC, PlayStation 5, Xbox Series X/S
Onde comprar: Comparador ZWAME, Tropical Price
O primeiro Kingdom Come: Deliverance foi uma boa surpresa e um jogo que gostei mais do que esperava. Apesar de ter alguns problemas técnicos e bugs a mancharem a experiência, dava para perceber a qualidade e o potencial presente. Passados sete anos, chega agora a sequela que é essencialmente aquilo que esperava que fosse: um jogo maior, melhor e mais polido.
Kingdom Come: Deliverance 2 continua após os eventos do primeiro jogo. Hans Capon e Henry são encarregados de entregar uma mensagem a Otto von Bergow na esperança de arranjar novos aliados na luta contra Sigismund of Luxembourg. É uma tarefa simples que rapidamente se complica quando o grupo faz uma paragem na margem de um lago para descansar e acaba por sofrer uma emboscada por parte de bandidos. Capon e Henry são obrigados a fugir em cuecas e arranjar uma maneira de conseguir cumprir a missão.
Estou a simplificar bastante o que acontece para não estragar a surpresa, mas o par tem de ultrapassar muitas dificuldades e peripécias ainda antes sequer de conseguir pensar num plano para entregar a mensagem. Pelo caminho, Henry vai conhecer novas personagens, arranjar aliados inesperados e reencontrar caras conhecidas do primeiro jogo. A verdade é que os eventos são muito interessantes de seguir, e também ajuda a que a cinematografia seja de grande nível e esteja acompanhada de uma banda sonora de qualidade. Embora este jogo seja uma sequela, não é necessário conhecimento do primeiro jogo para se perceber o que está a acontecer. Obviamente que ajuda e adiciona algo mais à experiência, mas não é estritamente necessário.
Devido à emboscada, Henry começa novamente por baixo, ou seja, sem acesso a equipamento decente. Aqui chegamos ao primeiro ponto negativo, nomeadamente, a curva da dificuldade ao início não ser progressiva. Aliás, a barreira inicial é elevada. Este não é um jogo onde seja aconselhado lutar contra dois ou mais inimigos ao mesmo tempo, e logo desde o início o jogo faz questão de colocar Henry contra múltiplos inimigos em simultâneo antes de se ter obtido equipamento bom o suficiente para lidar com essas situações. Existem diferentes formas de lidar contra grupos de inimigos, mas essas opções são muito limitadas quando se começa a aventura. Só depois de várias horas, a obtenção de uma determinada habilidade e equipamento decente é que a coisa começa a se tornar mais fácil. E a partir desse momento, a dificuldade nivela, perdendo uma boa parte do desafio.
Kingdom Come: Deliverance 2 é um jogo com uma boa dose de realismo incorporado e assente no contexto histórico do país conhecido hoje como República Checa, como tal as situações apresentadas são as possíveis dentro desse contexto. Não existe nada de sobrenatural e que apanhe o jogador de surpresa, e assim, a viagem entre os locais acaba por não ser a mais entusiasmante e resume-se a enfrentar bandidos, encontrar outros viajantes ou ajudar alguém que sofreu uma emboscada por parte de bandidos ou lobos. Honestamente, como RPG puro, Kingdom Come: Deliverance 2 consegue ser por vezes um pouco aborrecido devido à lentidão consequente do realismo. Mas onde compensa e muito é na interatividade de Henry com o mundo. Houve lançamentos recentes, incluindo nos últimos meses, em que se criticou esses jogos por apresentarem mundos que parecem meras fachadas. Felizmente, Kingdom Come: Deliverance 2 não comete esse erro.
O que quero dizer com isto? Primeiro, existe um sistema de reputação aplicado a cada localidade, como tal, dependendo das nossas ações, a população dessas localidades reagem de forma diferente. Ter uma boa reputação tem os seus benefícios, entre os quais aumentar as stats de Henry. Depois, cada NPC no mundo tem o seu horário e a sua rotina. As lojas abrem e fecham a determinadas horas, NPC’s movimentam-se pela cidades com o seu propósito, vão trabalhar e à noite regressam à sua casa para comer e dormir. Em cima disto, há a interatividade entre o jogador e o mundo. Por exemplo, Henry estar imundo vai fazer com que cheire mal, e numa situação de stealth, os inimigos vão notar o cheiro. Forçar a entrada em casa alheia irá fazer com que esse NPC vá reparar na porta destrancada quando a abrir. Colocar veneno na comida de alguém irá fazer com que algum NPC morra e os seus entes queridos chorem a sua morte. Esta interatividade é muito bem vinda e apreciada.
No entanto, nem sempre esta interatividade é bem conseguida o que resulta em algumas situações chatas. Por exemplo, houve uma altura em que estava a conversar com um NPC que me estava a dar uma sidequest, e o Mutt, o nosso cão, instigou outros cães nesse acampamento. Quando saí da conversa, eis que me deparo numa luta forçada contra esses cães. Mas ao fazer isso, iria lixar a reputação com esse grupo, como tal, fui forçado a fazer reload ao save e a deixar o Mutt fora do acampamento.
E por falar em save, o sistema de save é péssimo, principalmente para um RPG como este onde coisas inesperadas podem acontecer devido à reatividade. Só existem três formas de gravar o progresso no jogo: dormir na nossa cama, beber uma poção e fazer Save and Quit para o menu principal. Isto cria atrito desnecessário, não só porque dificulta a exploração de outras opções de conversa, como também cria situações em que passam largos minutos sem se conseguir fazer save, e em caso de um crash ou bug, eis que se perdeu tempo e progresso. Aliás, a perda de progresso por causa de um bug aconteceu um par de vezes exatamente porque há restrições de save. Felizmente, a minha experiência em quase 90 horas de jogo foi positiva e só por três vezes lidei com problemas do género, mas o facto é que quando acontece, faz-se notar.
Continuando para outro aspeto da jogabilidade, nomeadamente o combate. O sistema de combate aqui presente é muito semelhante ao do primeiro Kingdom Come: Deliverance, sendo apenas um pouco mais simplificado na quantidade de direções de ataque disponíveis. É possível atacar em quatro direções diferentes e o mesmo é aplicado aos inimigos. A utilização de direções por uma certa ordem cria combos como, por exemplo, cima, direita, esquerda. Através da aprendizagem da habilidade Master Strike, algo que recomendo fazer assim que possível, ganha-se a possibilidade de executar um golpe que funciona como parry/reposte. Depois, há que gerir a stamina e ter em atenção os ferimentos que se tem, pois podem se tornar fatais. Os combates em si não são particularmente entusiasmantes ou vistosos, mas existe uma boa sensação de peso e movimento em cada golpe.
O realismo do jogo também é aplicado na forma como Henry melhora as suas capacidades. Pode-se dizer que a pratica leva à perfeição. Quanto mais vezes Henry fizer uma atividade, melhor se torna. E assim, há medida que se vai jogando normalmente e se vai fazendo diversas atividades, seja lutar, criar poções ou forjar armas, entre outras coisas, Henry vai subindo de nível nessas categorias e vai ganhado habilidades passivas que o tornam mais eficiente nessas categorias. É um sistema recompensador, independentemente se o jogador faz um pouco de tudo ou se limita a poucas coisas. Por exemplo, eu não me dediquei a fazer poções e, consequentemente, não evoluí a apanhar e conservar flores para a alquimia, mas como fiz muitas lutas, muito stealth e forjei várias peças, melhorei naquilo que mais útil era para a minha playthrough.
A nível técnico, Kingdom Come: Deliverance 2 é um jogo impressionante. O modelo das personagens têm um bom nível de detalhe e os cenários são uma autêntica regalia para os olhos. Para além disso, o jogo conta com altura do dia dinâmica e condições climatéricas. Este é sem dúvida um jogo muito belo. Na PS5 standard há a possibilidade de escolher entre diferentes modos gráficos, mas na PS5 Pro, que foi a consola utilizada para esta review, apenas existe um único modo a 60 FPS com definições gráficas muito semelhantes ao Quality Mode da consola base. O resultado é uma imagem nítida e fluída. Durante o meu tempo com o jogo, não notei problemas de performance.
Kingdom Come: Deliverance 2 é uma sequela digna desse nome. É maior, melhor e mais polido que o seu antecessor, corrigindo assim a maior parte dos problemas que tive com o primeiro Kingdom Come: Deliverance. A curva de dificuldade é inconsistente, o sistema de save não é o melhor e por vezes a procura do realismo cria algum atrito desnecessário na jogabilidade, mas no geral, adorei as cerca de 90 horas passadas em Kingdom Come: Deliverance 2. A história é interessante do início ao fim, as personagens são cativantes e apresentam um bom nível de evolução, a cinematografia é excelente e a interatividade com o mundo é muito bem conseguida. Kingdom Come: Deliverance 2 representa uma boa melhoria em relação ao primeiro jogo e é recomendado para os fãs de RPG.
Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.
Veredito
Nota Final - 9
9
Kingdom Come: Deliverance 2 é uma excelente continuação da história de Henry. Mesmo com algumas coisas menos positivas, este jogo representa uma clara melhoria em relação ao primeiro título.