Análises

Death Stranding 2: On the Beach

O regresso do estafeta lendário

Versão testada: PlayStation 5 Pro
Disponível para: PlayStation 5
Onde comprar: Comparador ZWAME

Lançado originalmente em 2019 para a PlayStation 4, Death Stranding foi um título que gerou muitos comentários do género “o que se faz neste jogo” e “isto é um walking simulator”. Mas quem deu uma verdadeira oportunidade, constatou que o jogo era mais profundo, divertido e único do que deixava antever. Não era perfeito, claro, mas era um bom jogo que dava ao jogador a opção de como completar uma missão. E o sentimento geral foi melhorando aos poucos com o passar do tempo, não só devido à pandemia da COVID e às pessoas terem ficado mais isoladas e dependentes de entregas, como também ao próprio feedback positivo que foi ganhando força. Agora, cerca de seis anos depois, chega a hora de embarcar numa nova viagem em Death Stranding 2: On the Beach. E que viagem que é.

Os eventos de Death Stranding 2: On the Beach decorrem cerca de um ano após o final do primeiro jogo. Não vou dar muitos detalhes para não estragar a surpresa a ninguém, mas de forma muito sucinta, Sam e Lou vivem sozinhos e escondidos da UCA e da Bridges, até que um dia são encontrados pela Fragile. Fragile, agora sob a alçada da organização Drawbridge, oferece uma proposta ao Sam: conectar a Chiral Network ao México, e em troca, Sam fica livre para viver com Lou sem receio de que alguém venha recuperar o “equipamento” roubado. Sam aceita e completa o trabalho, mas coisas acontecem e ele vê-se novamente envolvido na jornada em conectar um país de uma ponta à outra. Desta vez, o país em questão é a Austrália. Não vou explicar como, mas a forma encontrada para ligar dois continentes é interessante e uma que, apesar de tudo, encaixa bem no que se passa neste mundo.

Death Stranding 2: On the Beach é um jogo da autoria de Hideo Kojima, como tal, podem esperar muita “kojimice” pelo meio. Dito isto, o diálogo e a escrita deste jogo é melhor e tem um tom mais sério que o primeiro jogo, e não vi nada que chegasse perto da linha de diálogo “Princess Beach” ou de “I’m Fragile but not that fragile”. Quero dizer, este último ainda aparece, mas de forma diferente e num contexto específico. De qualquer forma, gostei do que vi do início ao fim e acho que representa uma grande melhoria face ao seu antecessor. Ainda existem momentos mirabolantes e quase cómicos durante ou imediatamente a seguir a cenas bastante pesadas em tom, mas acho que são coisas necessárias. Sim, esta bipolaridade poderá chocar quem não esteja tão habituado aos trabalhos do Kojima, mas sem estes momentos, Death Stranding 2: On the Beach seria um jogo demasiado pesado. E sem estes momentos, este não seria um jogo do Kojima, logo, teria menos apelo.

Conectar um país de uma ponta à outra pode parecer um simples repetir do objetivo do primeiro jogo, o que é parcialmente verdade, mas existem algumas diferenças. Se calhar a mais importante é que Sam não está tão isolado em Death Stranding 2: On the Beach como esteve no primeiro jogo. Ele agora faz parte de uma equipa e existe uma espécie de base de operações móvel que o vai acompanhando ao longo da jornada. Falo da embarcação DHV Magellan. Aqui, Sam acaba por interagir com outras personagens, tanto em momentos sérios de história como em alguns momentos mais leves. Sam continua a não ser super falador, pois ele ainda mantém o estilo de protagonista tipo Max em Mad Max: Fury Road, mas existem mais momentos onde ele pode mostrar a sua personalidade e onde pode interagir diretamente com os seus companheiros.

As próprias personagens são também são mais interessantes. O primeiro Death Stranding já tinha dado um vislumbre de indivíduos com habilidades especiais, ou se preferirem, super poderes, mas estava essencialmente limitado a apenas três personagens: Sam, Fragile e Higgs. Death Stranding 2: On the Beach envereda mais a fundo por este caminho e são apresentadas mais personagens com habilidades especiais. Isto pode parecer irrelevante, mas é mais outra maneira que serve para salientar como o fenómeno Death Stranding afetou as pessoas neste mundo.

A outra forma como Death Stranding 2: On the Beach se diferencia do primeiro jogo é na jogabilidade. Fazer entregas e planear qual a melhor rota e que equipamento é necessário para cumprir o objetivo continua a ser um ponto central, mas agora a experiência é mais diversificada. E essa diversificação é feita através de uma melhor progressão que visa oferecer mais ferramentas e mais cedo, e também por o jogo ser mais focado na ação. No primeiro jogo, passar por áreas infestadas por BTs significava entrar sempre em stealth e tentar passar despercebido sem ser apanhado. Como consequência, o ritmo de jogo abrandava. Em Death Stranding 2: On the Beach, entrar a matar é tão viável como stealth. Aliás, foi com caçadeira e lança-granadas na mão que enfrentei as áreas infestadas por BTs. Combinando isto com a existência de inimigos humanos e de uma misteriosa fação faz com que este seja um jogo mais mexido e variado. Esta foi a sensação que tive ao longo da aventura e que se confirmou quando vi as minhas estatísticas no final. Aliás, diria que o jogo enveredou na direção de Metal Gear Solid, mas fê-lo sem desvirtuar a experiência original.
Para além disso, o jogo está melhor estruturado. Um dos principais problemas de Death Stranding foi o capítulo 3 ser super longo quando comparado com os restantes. Felizmente, esse é um problema que não está presente em Death Stranding 2: On the Beach e achei que o ritmo de desenvolvimento era equilibrado e agradável.

De resto, a progressão geral e interatividade com outros jogadores continua a ser semelhante. Ao completarem-se missões, ganha-se pontuação conforme o estado em que está a encomenda e vai eventualmente evoluir a reputação com esse NPC. Subir a reputação desbloqueia novas ferramentas ou versões melhoradas de ferramentas já existentes, tipo uma AR mais leve e fácil de transportar ou diferentes tipos de granadas. Há medida que vamos conectando os NPCs à Chiral Network vão aparecendo no mapa objetos criados por outros jogadores ou encomendas perdidas. Além disso, os jogadores também podem contribuir com recursos para reconstruir as estradas, o que acaba por facilitar as viagens entre os diversos clientes. Este já era um conceito interessante no primeiro jogo e continua a sê-lo em Death Stranding 2: On the Beach, pois existe um sentido de cooperação entre os jogadores mesmo não havendo um modo multiplayer propriamente dito.

De referir que existem duas novidades no que toca à progressão, mais especificamente à progressão de Sam. A primeira é uma skill tree, chamada APAS Enhancements, que vai abrindo há medida que vamos conectando mais gente à rede e subindo a reputação com esses NPCs. Esta skill tree inclui coisas muito úteis como aumentar o alcance e/ou eficácia do scanner, aumentar o dano de certo tipo de munição ou otimizar a transfusão de sangue. A segunda novidade é algo que os fãs de Metal Gear Solid são capazes de estar familiarizados. Quem jogou MGS 2 sabe que Snake podia fazer exercício para aumentar a sua resistência. Aqui existe algo semelhante. Sempre que Sam carrega peso acima de um certo limite, anda por terreno acidentado, entra em combate (ou stealth) ou utiliza um certo tipo de armas, as suas stats vão melhorando e ele vai ficando cada vez mais proficiente nessa categoria. Por exemplo, no caso das shotguns, que foi um dos tipos de armas que mais utilizei, o recoil é reduzido e o reload é mais rápido.

Outro aspeto que Death Stranding 2: On the Beach melhora em relação ao seu antecessor foi na UI. O estilo visual da UI é semelhante, mas foi um pouco simplificado e é agora mais fácil ver e perceber quais são as opções existentes e navegar pelos menus. Por falar em opções, o jogo já inclui a opção de ajustar a animação quando se encontram inimigos e há também a opção para colocar legendas e vozes em Português de Portugal.

Eu demorei 45 horas a terminar o jogo, com duas áreas por conectar à rede, coisa que corrigi logo após o final. Desde então joguei mais cerca de 10 horas e planeio jogar mais umas quantas. Este é um jogo com bastante conteúdo, mas acima de tudo, é conteúdo de qualidade. Em Death Stranding 2: On the Beach, tal como no primeiro jogo, o mais importante é a viagem e não o destino, e essa viagem é agora mais divertida, variada e sem perder o mistério que por vezes acontece nas sequelas. Se algo que, infelizmente, não foi melhorado foi a física dos veículos em determinadas situações. Falo por exemplo de situações em que a mota não para ou que choca com uma pedrinha e é catapultada uns metros para trás. Não é que isto seja um enorme problema, mas quando tudo o resto é tão bom, isto sobressai.

No que toca à parte técnica, Death Stranding 2: On the Beach é fantástico. O motor de jogo Decima é um dos melhores motores de jogo atualmente existentes e o seu potencial foi bem utilizado. Death Stranding: Director’s Cut já tinha bom aspeto na PS5, mas a sequela representa um bom salto visual. Isto é particularmente notório no nível de detalhe das personagens, mas não só. Existem mais biomas, todos com um bom nível de fidelidade visual, e existem mais condições atmosféricas adversas tipo tempestades de areia, fortes nevões e nevoeiro intenso. Além disso, existem também catástrofes naturais a ter em conta e que podem influenciar a rota de entrega, nomeadamente derrocadas, avalanches e enchentes dos rios. E tudo isto a 60 FPS constantes. Destaque também para os extremamente curtos tempos de loading. Ir do menu principal do jogo até se começar a jogar demora apenas um segundo. Literalmente.

Eu tinha altas expetativas para Death Stranding 2: On the Beach e diria que o jogo conseguiu ultrapassá-las. O jogo melhora quase todos os aspetos menos bons do primeiro Death Stranding, ao mesmo tempo que oferece uma aventura mais divertida, variada e expandida. Graficamente é soberbo, a cinematografia é exemplar e a banda sonora é fantástica. Destaque também para o suporte às funcionalidades do DualSense. O haptic feedback conseguir acompanhar as mudanças no terreno ou acompanhar a ação durante as cutscenes cria uma experiência mais envolvente. Death Stranding 2: On the Beach é sem qualquer dúvida um dos melhores trabalhos do Kojima até à data e um que merece estar no mesmo patamar do original Metal Gear Solid e de Metal Gear Solid 3: Snake Eater.

Nota editorial: Cópia fornecida pela editora para efeitos de análise.

Veredito

Nota Final - 9.5

9.5

Death Stranding 2: On the Beach melhora praticamente todos os aspetos menos bons do primeiro jogo e fá-lo sem comprometer o seu estilo bastante único.

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