Análises

Homefront: The Revolution

Versão testada: PS4

Depois de Uncharted 4: A Thief’s End e DOOM, eis que me chega às mãos mais um jogo que teve problemas bem documentados durante o desenvolvimento. Apesar de tudo, Uncharted 4 e DOOM ultrapassaram essas dificuldades, e superaram as expectativas de praticamente toda a gente. Será que se poderá dizer o mesmo de Homefront: The Revolution?

De certa forma, eu tenho pena da Dambuster Studios porque a companhia fez os possíveis para terminar aquele que foi um projecto extremamente problemático. Se não, vejamos. O projecto começou a ser desenvolvido pela Free Radical, e pouco depois, a THQ entra em falência. A Crytek adquire o IP e o estúdio, mas eles também se deparam com problemas financeiros e decidem vender tudo à Deep Silver. A Crytek UK, anteriormente conhecida como Free Radical, transforma-se assim na Dambuster Studios, e tem de cumprir uma data limite. É uma situação muito complicada de transformar em algo positivo.

Homefront: The Revolution não é um mau jogo. Apesar de o produto não ser muito recomendável no estado actual, é expectável que a produtora venha a lançar actualizações para melhorar os aspectos menos bem conseguidos. Na verdade, existe aqui um núcleo que poderá proporcionar uma boa experiência de jogo, assim que os problemas forem corrigidos. Isto porque a premissa por detrás de Homefront: The Revolution até é interessante.

A acção decorre num futuro alternativo, onde a Coreia do Norte maravilhou o mundo com a sua capacidade tecnológica. Durante décadas, os Estados Unidos compraram todo o tipo de tecnologia à Coreia do Norte, incluindo armamento. Mas quando os Estados Unidos não conseguem pagar a sua alta dívida, a Coreia do Norte revela o seu grande trunfo; todo o tipo de equipamento vendido aos Estados Unidos pode ser acedido e desligado. De um dia para o outro, o exército dos Estados Unidos fica incapacitado, e como resultado, o país torna-se escravo da Coreia do Norte. Filadélfia  serve como palco para esta premissa, e cabe a Ethan Brady, um membro da resistência, lutar contra os opressores norte-coreanos.

A história é decente, mas aborda os temas políticos de forma um pouco trapalhona. Já as personagens, diria que são algo genéricas e pouco memoráveis. A campanha, que até tem uma boa duração, tem os seus momentos interessantes, salientando assim a premissa prometedora. Mas o grande leque de problemas que o jogo tem, transforma aquilo que seria um bom shooter, em algo com um potencial totalmente desperdiçado.

O jogador encarna o papel de Brady, um novo recruta na resistência de Filadélfia, que através de uma série de acontecimentos, torna-se na nova esperança para os oprimidos. O objectivo é inspirar a população de Filadélfia a tomar a cidade à KPA. Esta missão é bem mais difícil do que parece, porque a KPA está bastante mais fortificada e está presente em grande número. Isto é feito ao completar as missões principais, assim como adquirir vários Strike Points espalhados pelos vários distritos. Cada um destes objectivos secundários pede ao jogador que complete coisas como invadir sistemas ou encontrar esconderijos de armas.

homeront the revolution_101_3A longo prazo, avançar na estória pode tornar-se frustrante, porque o jogo obriga a que a barra “Hearts and Minds” esteja a 100%. Isto é feito ao desactivar certos aparelhos da KPA, libertar prisioneiros, ligar rádios, destruir veículos da KPA, ou salvar habitantes em perigo. Embora perceba a existência deste tipo de objectivos num jogo de mundo aberto, a obrigatoriedade de ter uma barra cheia para avançar na campanha, quebra por completo o ritmo da estória.

As mecânicas de Homefront: The Revolution também não fazem justiça à estória e à sua premissa. Como um membro da resistência que luta contra probabilidades impossíveis, faz sentido que se use stealth e outras opções que não o combate directo. Mas o jogo deita isto por terra, devido a inconsistências na detecção, já para não falar que por mais vezes do que gostaria, os inimigos apareceram vindos do nada. Como resultado, o uso de stealth torna-se quase numa lotaria, porque nunca se sabe se vai resultar ou não.

A componente shooter, apesar de não ser nada de extraordinária, é decente e satisfatória, pois a mira é razoavelmente responsiva, os sons das armas têm um bom impacto, e as animações das mortes dos inimigos são bem realizadas. Por vezes, também será necessário enfrentar veículos blindados e drones de ataque, e quando for o caso, há que dar uso a bombas improvisadas e aparelhos de hacking. A presença deste tipo de adversários é bem vinda, porque aumentam a intensidade destes duelos.

Se há uma coisa onde Homefront: The Revolution acerta é no design do mapa. Esta versão de Filadélfia é dividida em oito distritos, cada um com uma boa escala e cheia de ambientes diferentes. É certo que algumas zonas são um tanto ou quando desinspiradas, mas no geral, Filadélfia foi muito bem criada, e proporciona uma boa diferenciação à medida que o jogador progride na campanha.

Homefront: The Revolution conta com um sistema de crafting, que permite criar bombas e algumas ferramentas. O sistema é relativamente simples, mas lá mais para a frente, permite desbloquear armas bem interessantes como, por exemplo, um crossbow. O sistema também permite modificar as armas em tempo real, adicionando acessórios ou alterando componentes principais. Um exemplo disto acontece logo no inicio, onde é possível converter uma simples pistola numa SMG. E se necessário, é possível reconverter a arma numa pistola silenciada, permitindo assim a infiltração em certas zonas.

homefront the revolution preacher_finalDe referir que o jogo tem um modo cooperativo multiplayer. Este modo, separado da campanha principal, é divertido, mas oferece um número limitado de conteúdo. No total são seis missões , cada uma com cerca de 20 minutos de duração, e com a opção de escolha do nível de dificuldade. No entanto, os objectivos não mudam, como tal, a única razão para se continuar a jogar este modo é a possibilidade de se obter equipamento para a campanha principal. Mas isto é apenas uma questão de sorte.

Se até aqui tudo parece mais ou menos aceitável, onde o jogo sofre, é mesmo na parte técnica. A IA de Homefront: The Revolution está longe de ser boa. Sempre que o jogo faz auto-save, o ecrã congela durante uns segundos. A framerate é inconsistente e apresenta quebras frequentes. E em algumas ocasiões, o ponto de inicio de uma missão não carregou. Tudo isto, e mais uns quantos bugs/glitches afundam por completo a experiência de jogo.

É impossível não sentir alguma simpatia pela Dambuster Studios, tendo em conta aquilo que aconteceu com este projecto, e espero sinceramente que o estúdio tenha no futuro a possibilidade de desenvolver um título de forma mais estável. Mas Homefront: The Revolution reflecte bem o seu horrível ciclo de produção. Uma premissa interessante com algumas boas ideias, mas com uma execução falhada a nível técnico, e uma clara falta de coerência e polimento em todas as áreas de jogo. Homefront: The Revolution não é um verdadeiro mau jogo; simplesmente é um jogo que não teve o tempo necessário de amadurecimento, e que por isso, não consegue cumprir as expectativas.

 

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela editora/distribuidora para efeitos de análise.

Botão Voltar ao Topo