Análises

Horizon Zero Dawn

A Terra já não é nossa. Dinossauros robóticos são os novos inquilinos.

Versão testada: PS4 Pro

Em 2015, a Guerrilla Games apresentou Horizon Zero Dawn, um projecto arriscado, não só porque representava um afastamento da serie Killzone, como também a estreia do estúdio no género RPG. Como se não bastasse, o palco de fundo escolhido foi um mundo pós pós-apocalíptico, um cenário pouco usado, que geralmente costuma ser preterido em favor dos momentos em que tudo desaba. Não é diferente o suficiente? Que tal uns dinossauros robóticos? Esta é a nova aposta da Sony, e que aposta que é.

Aloy é uma personagem surpreendentemente bem desenhada e desenvolvida ao longo de todo jogo. Tendo vivido toda a sua vida como uma exilada e sempre como alguém a evitar, Aloy ascende de forma meteórica a uma posição de grande importância e dentro da tribo Nora. Em busca de respostas sobre as suas origens, Aloy vai embarcar numa jornada por terras desconhecidas e enfrentar enormes desafios, muitos deles inesperados.

Embora Aloy acabe por ser reconhecida formalmente pelos Nora, continua a receber muitos comentários depreciativos por ter sido uma pária. E apesar de ajudar quem precisa, incluindo pessoas da tribo, Aloy não esquece quem a tratou mal durante tantos anos. A sua postura vai evoluindo à medida que vai descobrindo respostas e interioriza as suas novas responsabilidades, mas o passado continua bem presente na sua memória. É isto que faz com que Aloy seja uma personagem tridimensional; é leal, prestável, confiante e independente, mas não tem medo de dar uso à sua veia sarcástica para responder na mesma moeda, chegando por vezes a ser intimidadora.

Fora das fronteiras das terras da tribo Nora, existe um vasto e diverso mundo para explorar; um mundo igualmente belo e perigoso, que mistura a Natureza com a tecnologia. Ninguém sabe de onde surgiram estas criaturas mecânicas nem o que levou ao desaparecimento da civilização anterior. Este e outros mistérios não ficam sem resposta e é interessante ver a forma como tudo se conjuga numa história mais coesa e complexa do que parecia inicialmente. Os eventos vão progredindo e a quantidade de informação vai aumentando até atingir o clímax com a resposta à pergunta “quem é a Aloy?”.

Com cerca de 30 horas, a campanha principal não é a maior dentro do género, mas isto acaba por beneficiar a história e evita o problema comum em todos os jogos open world: a diluição da narrativa. Por outras palavras, Horizon Zero Dawn é um jogo open world com o ritmo controlado de um jogo linear. As missões secundárias centram atenção essencialmente nas outras tribos e no lore do mundo, mas acabam por ter alguma ligação e importância com a história principal. Inclusive, algumas das personagens destas missões irão aparecer na campanha principal num certo evento.

Além disto, existem também outro tipo de actividades secundárias que servem para dar maior contexto ao mundo de Horizon Zero Dawn. Uma destas actividades é o Hunting Ground, uma actividade que testa a habilidade de combate de Aloy através da realização de vários desafios. Depois, existe também os Bandit Camps, povoações controladas por bandidos, cujo objectivo é libertar os prisioneiros. E claro, podem contar com os habituais simples coleccionáveis, embora alguns deles ofereçam um vislumbre da civilização antiga. No total, podem contar com conteúdo para mais de 50 horas.

A imagem de marca de Horizon Zero Dawn está associada ás criaturas mecânicas. O detalhe colocado nas máquinas é assombroso. Cada uma das 25 criaturas diferentes tem os seus ataque únicos, pontos fortes e fracos, e um propósito no ecossistema. Os Watchers vigiam as outras máquinas em busca de ameaças. Os Glinthawk são necrófagos que se aproveitam de outras máquinas destruídas. Os Thunderjaw são autênticos tanques de guerra devido ao seu poderoso arsenal. O design destas máquinas é irrepreensível e cada uma oferece um desafio diferente.

Mas a atenção aos detalhes vai ainda mais longe. Por exemplo, vi Sabertooths já com pouca vida e sem vários componentes a coxear como se fossem um animal real ferido. Noutra ocasião, vi Watchers a desviarem-se propositadamente das minhas armadilhas. E vi também Shell-walkers prontamente a “roubar” componentes espalhados pelo chão. No meio disto tudo, ainda há espaço para ocasionalmente ver maquinas a lutarem contra maquinas corrompidas ou maquinas a lutarem contra outros grupos de caçadores.

Para lidar com tamanhas ameaças, Aloy tem um variado leque de armas à sua disposição que inclui arcos capazes de lançar setas com elementos (fogo, gelo, electricidade, etc), lança-cordas para prender temporariamente as maquinas ao chão, fisgas capazes de lançar pequenos projecteis e armas que criam armadilhas explosivas. Além disso, é possível melhorar o desempenho das armas ou a eficácia do equipamento através de modificações.

Mas as armas são apenas uma parte da equação. A outra está ligada às capacidades de Aloy. Sempre que se sobe um nível ou se completa uma missão principal, recebe-se pontos que se podem gastar na melhoria das capacidades de combate de Aloy. As habilidades disponíveis não são espalhafatosas e não fogem ao tema. Em vez disso, são habilidades pensadas para tornar Aloy numa melhor e mais eficaz caçadora; dar a possibilidade de disparar múltiplas setas em simultâneo, estender a distancia da cambalhota, ou criar mais munições com a mesma quantidade de recursos.

Pode não parecer, mas o sistema de combate, que é bastante focado na acção, oferece uma boa profundidade e quantidade de opções. Se preferirem usar apenas os arcos, podem fazê-lo durante o jogo inteiro sem problemas. Se quiserem ser criativos, têm várias formas de o fazer. Podem preparar o terreno antecipadamente com armadilhas e atrair as “pobres” máquinas para o seu fim. Ou então podem criar o caos entre um grupo de máquinas ao converter com a lança ou com setas de corrupção. Nunca perde a piada ver um Thunderjaw a acabar por nós um grupo inteiro de Tramplers e Watchers. A agilidade da Aloy combinada com a diversidade de armas, torna o combate extremamente divertido, mesmo após dezenas de horas de jogo.

No geral, a IA das máquinas é competente e em combate é bastante agressiva. Não parece que as maquinas coordenem os ataques entre si, mas são de facto desafiantes. Já a IA dos inimigos humanos é demasiado simples e básica, algo especialmente notório em situações de stealth. Ao verem um companheiro morto, em vez de darem o alarme ou de irem investigar as redondezas, ficam quietos, mesmo a jeito de levarem com uma seta na tola.

Montanhas com neve, florestas verdejantes e desertos escaldantes. Visualmente, Horizon Zero Dawn é um dos jogos mais belos da PS4, o que é um feito, tendo em conta o género de jogo que é. A atenção colocada na criação do mundo e na apresentação de condições climatéricas e transição dia/noite, traduz-se em imagens de grande beleza. Tecnicamente é um jogo polido e bem optimizado, tanto na PS4 standard como na PS4 Pro, não tendo notado quebras de fluidez. Ocasionalmente acontece algum pop in, mas nada de exagerado. Horizon é deveras um jogo impressionante.

Sendo Horizon Zero Dawn um título first party, é esperada alguma comparação com outros títulos da Sony, em particular com Uncharted 4, em relação às expressões faciais. Aliás, isto aconteceu há algumas semanas atrás. Mas é uma comparação errada devido à diferença de escala entre os dois títulos. Comparado com outros jogos do género, Horizon Zero Dawn oferece expressões faciais superiores, conseguindo facilmente transmitir as emoções das personagens. A contribuir para isto, está um voice acting de grande qualidade, principalmente da Aloy. Mas mesmo as personagens secundárias ou até NPCs têm um voice acting acima da média.

A viagem de Aloy está intrinsecamente ligada com os mistérios do mundo de Horizon Zero Dawn, e cada revelação é feita no momento certo e com a dose certa. A Guerrilla Games criou uma narrativa interessante encabeçada por uma forte protagonista, cuja única ambição é descobrir a sua verdadeira identidade, mas que acaba por ter o peso do mundo nos ombros. Houve um enorme risco por parte da produtora em sair da sua zona de conforto, mas ainda bem que o fez. Horizon Zero Dawn é simplesmente fantástico.

Nota editorial: Foi-nos fornecida uma cópia deste jogo pela editora/distribuidora para efeitos de análise.

Nota Final - 9.5

9.5

A Guerrilla Games surpreendeu todos ao entregar um grande RPG e ao criar uma protagonista feminina não estereotipada nem sexualizada. As falhas existentes neste título são largamente compensadas pelas imensas virtudes.

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